A arte tem de ter algo que me tire do
chão e deslumbra.
FERREIRA GULLAR
As palavras tão bem
articuladas por Clarice Niskier e a emoção provocada - misto de alegria,
felicidade e revolta pelo momento do nosso país - é tão intensa, que me sinto pouco
à vontade para escrever com minhas parcas palavras tudo o que senti na noite de
ontem ao assistir a A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong.
Isso sempre me ocorre
quando a emoção provocada por um espetáculo é muito grande. Saí de tal maneira impactado
e energizado que tive até certa dificuldade de adormecer horas depois.
Clarice Niskier é
absolutamente sensacional tanto na brilhante atuação, como na excelente
dramaturgia construída na forma de cordel a partir de suas memórias, de seu
olhar sobre a realidade brasileira e das canções de Zeca Baleiro.
Não me tirou do chão
como na famosa frase de Ferreira Gullar em epígrafe (que por sinal, é um dos
inúmeros artistas brasileiros citados durante o espetáculo), mas fez com que eu
afastasse as costas da poltrona e me debruçasse no encosto da poltrona da
frente para fruir melhor este que desde já é um dos melhores espetáculos
apresentados em nossos palcos nesta rica temporada teatral paulistana que com
menos de quatro meses de vida já apresentou (e está apresentando) obras e
encenações memoráveis.
A sinergia criada
entre a artista e a plateia é tão grande que em certo momento me peguei
cantando em altos brados junto com o público: “Mas tudo passa, tudo passará”,
antigo sucesso de Nelson Ned.
Para espetáculo no
todo tão brilhante fica difícil destacar este ou aquele momento, mas arrisco
lembrar da cena em que a atriz pega um velho rádio no baú e deslizando o dial
vai ouvindo e reagindo a antigas canções brasileiras.
No imenso palco do
Teatro J. Safra estão dispostos um violão, figurinos a serem utilizados no
espetáculo e um baú de onde a atriz vai retirando objetos. Só isso e tudo isso.
Um time de bambas
colabora para que a magia do espetáculo aconteça: José Dias (cenário), Aurelio
Di Simoni (iluminação) e Kika Lopes (figurinos). Elemento importante nos
figurinos é o manto que Zeca Baleiro presenteou a atriz e que tem bastante
importância no desenvolvimento da ação.
O lúdico e o lúcido
caminham lado a lado na peça, pois poeticamente e com muita delicadeza Clarice Niskier
põe a mão nas feridas que assolam o nosso país.
Sobre as letras das
canções de Zeca Baleiro não é preciso falar! As músicas permeiam as falas e são
apresentadas nos originais gravados pelo cantor/compositor, enquanto a atriz
faz deliciosas coreografias.
A Esperança na Caixa
de Chicletes Ping Pong é espetáculo mais que perfeito e merece - aliás, o
público merece - que realize nova temporada em teatro mais central e mais
intimista (o Teatro Eva Herz onde Clarice apresentou A Alma Imoral
por anos a fio seria espaço ideal para abrigar essa maravilha).
Enquanto isso, não
perca a oportunidade de se deslocar até o Teatro J. Safra onde o espetáculo
acontece apenas até o próximo fim de semana (dia 1º de maio). Sessões às sextas
e sábados às 21h e aos domingos às 18h.
NÃO DÁ PARA DEIXAR PASSAR!!!
26/04/2022
❤️ DICA MARCADA!
ResponderExcluirÉ lindo, muito lindo. Não dá pra perder. Clarice em grande atuação em parceria com Zeca Baleiro. Um alivio pra nós, amantes do teatro. Pena ficar como fast food, 3 fins de semana só.. Isso é muito triste.
ResponderExcluir