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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O DESPERTAR DA PRIMAVERA


 
     Esta é daquelas peças que oferecem um grande desafio para quem vai montá-la: necessita de atores jovens que desempenhem personagens complexas, o que exige não só boa formação na arte de interpretar como também coisas quase impossíveis de se exigir de um jovem : experiência de vida marcante e maturidade emocional. Guilherme Marback aceitou o desafio reunindo um elenco de jovens atores para encenar quase na íntegra O Despertar da Primavera, texto do dramaturgo alemão Frank Wedekind (1864-1916) escrito quando ele tinha 27 anos e que causou grande escândalo na época falando de descoberta do sexo, masturbação, homossexualismo e aborto.
     A encenação de Marback é toda calcada na estética expressionista, desde o cenário como a bela iluminação de Aline Santini e a interpretação dos atores (gestual e máscaras). O resultado é coerente e muito bonito. Outro ponto positivo do espetáculo é a trilha sonora de Lívio Tragtenberg que pontua a ação sem encobri-la; havendo, porém, um problema de edição quando o tema de uma cena terminada é cortado bruscamente para a entrada de outro tema (fade in e fade out desses temas deixariam a mudança de cena mais harmoniosa).
 
     O elenco jovem sai-se bem nos papéis secundários, cabendo o maior desafio para os intérpretes de Moritz, Melchior e Wendla. Maurício Destri destaca-se na atuação do complexo Moritz demonstrando total domínio da atormentada personagem. Nos papéis adultos o melhor rendimento fica com Gabriela Monteiro (Sra. Bergman) com marcantes expressões faciais.
 
Felipe Cândido (Melchior), Maurício Destri (Moritz), Rosiany Pelizzer (Wendla)
     Na noite em que assistimos ao espetáculo (sexta feira, dia 21/02/2014) havia 15 atores no palco e sete espectadores na plateia. Por mais que aplaudíssemos ao final, creio que não devolvemos ao esforçado elenco a energia e a emoção que eles nos deram. Uma lástima, pois se trata de um espetáculo feito com muita seriedade e que, apesar de ter algumas irregularidades merece ser visto e prestigiado. Não é sempre que temos a oportunidade de estar em contato com texto dessa qualidade em uma encenação honesta e muito bonita. O curioso é que a mídia enquanto ocupa páginas com a divulgação dos grandes musicais e dos espetáculos comercais absolutamente ignora trabalhos sérios como este (a peça já teve uma temporada pouco divulgada em 2013).
 
Cartaz da temporada de 2013
 
     O Despertar da Primavera está em cartaz no Viga Espaço Cênico até 30/03, às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 19h.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

2ª FEIRA PAULISTA ANTROPOFÁGICA DE OPINIÃO


 
     Tendo à frente o incansável Thiago Reis Vasconcellos a Cia. Antropofágica tem sido responsável pela realização de eventos muito importantes na cena paulistana. No ano de 2012 organizou a Intervenção 22 – 90 anos da Semana de Arte Moderna de 22 com a participação de vários coletivos da cidade no saguão do Theatro Municipal (naquele ano esse evento foi indicado para o prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro de 2012 na categoria “Especial”).
     Neste início de ano o grupo realizou no último fim de semana (15 e 16 de fevereiro) no Tendal da Lapa a 2ª Feira Paulista Antropofágica de Opinião, deglutindo a histórica 1ª Feira Paulista de Opinião realizada sob a pressão da ditadura militar e do grupo CCC (Combate de Caça aos Comunistas) em 1968 pelo Teatro de Arena no Teatro Ruth Escobar onde vários dramaturgos apresentavam em peças curtas a sua resposta ao tema proposto “O que pensa você do Brasil de hoje?”.
Capa do programa do espetáculo de 1968.

     A mesma questão foi colocada pela Antropofágica a diversos coletivos de São Paulo e as respostas estavam nas apresentações desses grupos. Permeando as cenas, vários teóricos de teatro apresentaram minipalestras sobre o Brasil de hoje e sobre o teatro atual e aquele que se fazia nos anos 1960. O clima era de festa no Tendal da Lapa, apesar da chuva constante ter atrapalhado a organização do evento. Thiago circulava descalço, de bermudas e com seu indefectível paletó pelo espaço, constatando feliz o sucesso da empreitada.

 

     Assisti a três apresentações no sábado (estavam previstas nove, além de canções e minipalestras). Para o domingo estavam programadas mais dez cenas. Os coletivos mais representativos da cena paulistana estavam representados, entre os quais podemos citar a Brava Cia., a Cia. São Jorge de Variedades, o Pombas Urbanas, o Teatro União e Olho Vivo, o Buraco d’Oráculo e, é claro, a própria Antropofágica.
Pombas Urbanas
 
Grupo Redimunho de Investigação Teatral
 
Cia. São Jorge de Variedades
 
     Pelo pouco que vi as respostas à questão “O que pensa você do Brasil de hoje?” não são muito otimistas, revelando uma inquietação com os rumos do Brasil atual. Será muito interessante que a organizadora do evento tente fazer um balanço e uma análise do conjunto de respostas dadas pelos grupos e se possível uma síntese das mesmas.
     A iniciativa da Cia. Antropofágica foi extremamente louvável carecendo porém, de uma melhor organização e também de uma pequena  curadoria dos trabalhos apresentados em resposta à questão proposta (tenho a impressão que alguns grupos se limitaram a apresentar trechos de trabalhos já prontos, sem se proporem a criar uma cena respondendo à questão).

domingo, 16 de fevereiro de 2014

ABNEGAÇÃO – UM ESPETÁCULO ESTRANHO



     Desde seu título esta peça nos distancia de qualquer raciocínio lógico. Abnegação? As cinco personagens não têm absolutamente nada de abnegadas e nem o gesto suicida de uma delas pode ser assim chamado.
     O texto instigante de Alexandre Dal Farra beira o absurdo ao não esclarecer (propositalmente) o que está acontecendo com aquelas pessoas pertencentes a um determinado grupo (partido político? empresa? alguma confraria?) que se digladiam em torno de fatos que o público desconhece até o final do espetáculo. O já citado suicídio do líder no final da primeira parte vai mover toda a ação da segunda, onde os “sobreviventes” que se aproveitaram da situação remoem os seus remorsos.
     O uso de dois praticáveis (que remete à solução cenográfica usada em Les Éphémères do grupo francês Théâtre du Soleil) é bastante interessante, com a ressalva que a troca de cenário no praticável à direita da plateia desvia a atenção  do público do que está acontecendo em cena.
     O grande trunfo do espetáculo é o elenco e nota-se que os diretores (Dal Farra e Clayton Mariano) concentraram suas atenções nas interpretações cheias de silêncios e gestos enigmáticos. Transitando por frases soltas e ações inconsistentes (pelo menos para o público) eles atuam com energia e verdade passando uma verossimilhança daquilo que é, senão inverossímil, pelo menos, racionalmente incompreensível. Todos estão ótimos, mas é necessário destacar o vigoroso trabalho de Vitor Vieira, que já havia nos brindado em 2012 com uma grande interpretação em Mateus 10.
Vitor Vieira, André Capuano, Carlos Morelli, Alexandra Tavares, Vinícius Meloni
 
     Este corajoso trabalho da companhia Tablado de Arruar com toda sua estranheza, surpreende e faz refletir sobre a situação do Brasil atual. “Surpreender” é sinônimo de bom teatro e “refletir” é sinônimo de um salutar engajamento, prova que o Tablado de Arruar não está brincando em serviço.
     O espetáculo tem 2h10 de duração e talvez merecesse alguns cortes na primeira parte como também no número de charutos fumados por André Capuano!
     Abnegação está em cartaz no Centro Cultural São Paulo até 30/03, às sextas e aos sábados às 20h30 e aos domingos às 19h30.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

NHEZA 143 ANOS!!!


Numa praia de Santos (sem data)
     Abro uma exceção neste blog para escrever sobre um assunto que não trata diretamente de teatro, mas essa pessoa muito me inspirou e teve uma vida digna de ser retratada numa peça ou num filme, por isso...

     Minha nonninha Agnesa ou Nheza ou Inês ou Virginia Negri, como ela dizia que era seu nome original  (ela não tinha documentos) nasceu em Rovigo na Itália em 1871. Na primeira década do século 20, em função da crise na Itália pré-guerra imigrou para o Brasil com o marido e uma filha. Na longa viagem de navio, morre o marido que é lançado ao mar, desembarcando no Brasil viúva, com uma criança (Ada), analfabeta e sem falar uma palavra em português. Foi auxiliada por alguns parentes que já haviam imigrado para cá e foi morar e trabalhar na lavoura em Catanduva mudando-se depois para Coqueiros (atual Arcadas) no interior de São Paulo. Lá conheceu Moisés Bertuzzi, meu nonno, com quem se casou e teve seis filhos: Giulietta, Cesare, Bianca, Amadeo, Severina (que morreu de meningite aos 17 anos) e Clotilde. Quando estava grávida da última filha (minha mãe Clotilde) enviuvou novamente, tendo que criar os seis filhos trabalhando muito e vivendo com muito sacrifício. Comia-se polenta todos os dias, o que provocava a reação do menino Amadeo:
     - Todo dia “ito” aqui! “Ito” era a polenta, única possibilidade de alimentação para a família quase miserável.
A família Bertuzzi. Da esquerda para a direita: Giulietta, Amadeo, Severina, Nheza, Moisés, Cesare e Bianca. (Clotilde ainda não havia nascido, esta foto é anterior a 1914)
     Na década de 1920, já com uma situação pouco melhor e com os filhos criados (as duas filhas mais velhas casadas) muda-se para São Paulo. A família vai morar na Água Branca, os outros filhos vão casando e ela passa a morar em 1937 com a última filha a casar (minha mãe). Meu pai (José) recebe-a de braços abertos e acredito que a partir daí ela teve uma vida mais tranquila e bonita acompanhando a chegada dos netos e bisnetos e convivendo com os outros filhos que sempre vinham visitá-la.
No quintal da nossa casa na Rua Joaquim Ferreira: Clotilde, eu, Lita (minha irmã) e Nonninha.(1951)

Outra na Joaquim Ferreira: Nonninha, Lita e eu. Ao fundo, o barracão meu "teatro" (1955)
 
Com os bisnetos Rubens, Osmar e Roberto (1958)
     Foi uma pessoa muito interessante e sensível.  Sábia na sua ignorância formal :nunca aprendeu a ler, mas recitava trovinhas em italiano para os netos e sempre tinha uma palavra ou frase para qualquer situação que se apresentasse. Muito do que sei sobre contação de histórias e da importância da música e das palavras para a vida recebi de nonninha e por isso sou a ela eternamente grato.
Com a neta Ariete (1958)
     Morreu serenamente há 50 anos em 1964 aos 93 anos como uma vela que se apaga lentamente. Hoje ela estaria fazendo 143 anos! Muita luz para a Nheza!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

ADORMECIDOS - EM BUSCA DA DELICADEZA PERDIDA


 
     O título O País da Delicadeza Perdida de um DVD de Chico Buarque se aplica perfeitamente a este Brasil de 2014 repleto de notícias sobre intolerância, preconceitos (racial, sexual e de classe), violência gratuita, políticos corruptos, governantes perdidos e uma falsa aura de felicidade que só acredita quem não quer ver ou se contenta com uma miserável bolsa família. É nesse cenário, quase num pedido de socorro, que alguns artistas vão em busca dessa delicadeza perdida e não creio que seja obra do acaso o fato de eu ter assistido em dias seguidos a dois espetáculos que remetem a essa procura: Ou Você Poderia Me Beijar (já comentado neste blog) dirigido por Zé Henrique de Paula e este Adormecidos, em cartaz no Espaço dos Satyros 1 e dirigido por Rodolfo García Vázquez. Por caminhos diferentes ambas as encenações nos fazem acreditar que a delicadeza ainda é possível.
     Adormecidos é um texto do dramaturgo norueguês Jon Fosse sobre dois casais que habitam certo espaço em diferentes tempos. Nada se explicita, tudo é sugerido, não se conhece nem o nome nem as características das personagens. Elas estão ali sujeitas à ação do tempo que é mais cruel para um dos casais devido à doença da mulher. Na verdade um casal envelhece e o outro não. Parece estranho, mas não é. Esta delicada direção de García Vázquez é bastante diferente de outros trabalhos do encenador em geral caracterizados por textos sobre violência urbana com limitado acabamento visual e com cenas de sexo e nudismo.  Um criativo jogo de espelhos torna a encenação visualmente muito bonita e as personagens deslocam-se suavemente pela cena parecendo flutuar naquele tempo e espaço tão etéreos quanto eles. Em certos momentos o público também passa a fazer parte daquele espaço passando de observador a observado.
 
     Luiza Gottschalk e José Sampaio interpretam o casal que envelhece e têm um melhor rendimento nas cenas da velhice. Luiza tem um belíssimo rosto que remete à grande atriz Ingrid Bergman.
     O outro casal tem a possibilidade de realizar um trabalho mais envolvente uma vez que há conflito no seu relacionamento o que não ocorre com o primeiro casal. Tiago Leal e Katia Calsavara interpretam esse casal com muita naturalidade e talento.
 
     A quinta participação é de um ator que faz um amante, um filho e também é responsável pela sonoplastia do espetáculo. Nesta apresentação o ator Fábio Ock foi substituído por outro ator de quem a produção não teve o cuidado de indicar o nome.
     Não fica claro na ficha técnica, mas segundo informação da atriz Luiza Gottschalk a bela trilha sonora que permeia todo o espetáculo é, em sua maioria de autoria de Fábio Ock.
     Adormecidos estreou em 2013 sem a repercussão merecida e nesta nova temporada (até 26 de abril) merece uma visita daqueles que curtem um espetáculo sensível.
Fachada do Espaço dos Satyros na Praça Roosevelt
 
     Em cartaz aos sábados e domingos às 19h no Espaço dos Satyros 1.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O QUE VOCÊ VAI FAZER DO (NO) RESTO DE SUA VIDA?


Fachada do Teatro do Núcleo Experimental

     Em primeiro lugar quero falar sobre acolhimento. Em 2012 quando eu era integrante da Comissão de Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro propus que se estabelecesse uma nova categoria de prêmio para “acolhimento do público”. Minha proposta não teve repercussão entre meus colegas talvez por falta de argumentos da minha parte (na época dei como exemplo de bom acolhimento os casos do Théâtre du Soleil e dos Fofos Encenam). Volto a pensar nesse assunto após a visita ao Teatro do Núcleo Experimental na noite de ontem (07/02/2014). O local aconchegante, as jovens Patricia, Claudia e  Priscilla (me desculpem se esqueci o nome de alguém) todas simpaticíssimas nos recebendo com sorrisos e abraços  espontâneos e o bar que serve aquela deliciosa cerveja artesanal que, infelizmente, estava em falta nessa noite! Essa recepção predispõe o espectador a “saborear” o espetáculo que será apresentado (isso não significa que ele irá obrigatoriamente gostar só porque foi bem recebido).
     Acolhimento nota dez, agora vamos ao espetáculo: Ou Você Poderia Me Beijar, texto do dramaturgo inglês Neil Bartlett em conjunto com a Handspring Puppet Company. Concebida para atores e bonecos, na encenação brasileira de Zé Henrique de Paula o diretor optou por fazer o espetáculo só com atores. As personagens A e B são vividas por seis atores diferentes em três momentos de suas vidas (juventude, maturidade e velhice) e várias personagens femininas assim como a narradora da história são vividas por uma única atriz. A tradução do texto é de Thiago Ledier.
Zé Henrique de Paula, o diretor
     Montagem ousada na forma para uma história de conteúdo profundo, mas bastante simples: um casal de gays na faixa dos 80 anos tem sua rotina alterada quando um deles tem uma doença terminal. Questões como herança, intolerância com o homossexualismo e principalmente o grande amor que une o casal são alguns dos temas tratados. O interessante é que três tempos diferentes aparecem simultaneamente em cena fazendo aqueles de certa idade testemunhas deles mesmos em outro momento da vida.  Esse jogo com o tempo é instigante e Zé Henrique de Paula o resolve de maneira brilhante, para tanto se serve de uma cenografia simples e eficiente de sua autoria e de um ótimo elenco: Clara Carvalho fica com a parte mais ingrata interpretando várias personagens e também a narradora (em certo momento ela chega a expor didaticamente os mecanismos da memória e o faz com maestria). Os jovens A e B são interpretados por Thiago Carreira e Felipe Ramos; os velhos por Cláudio Curi e Roney Facchini e os de meia idade por Marco Antônio Pâmio e Rodrigo Caetano; todos eles estão muito bem, mas é necessário destacar a presença de Pâmio que, mesmo sem muitas falas, ilumina a cena com gestos e olhares, desviando o olhar do espectador para si.
Os jovens A e B
A, B e a Mulher
Os velhos A e B
 
     What Are You Doing the Rest of Your Life, a bela canção de Michel Legrand, tem letra de Marilyn e Alan Bergman que se encaixa perfeitamente na história contada e permeia toda a encenação (conforme informado pelo grupo, a canção já vem indicada no texto original). Os belos momentos cantados (sem ninguém desafinar- coisa rara na maioria dos espetáculos-) devem-se à preparação vocal realizada com a habitual competência de Fernanda Maia. Na parte cantada o destaque fica com Claudio Curi.
     Por último, mas tão importante quanto, o programa da peça (designer gráfico: Herbert Bianchi) é excelente. Contém ficha técnica detalhada e todos os dados necessários para a preparação do que vai se assistir inclusive um mapa com datas importantes das vidas de nossos protagonistas A e B.
     Espetáculo delicado e emocionante para o qual você deve dedicar algumas horas do resto de sua vida.
     Em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental até 27 de abril às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 19h.
 
 

sábado, 1 de fevereiro de 2014

QUEM PODE, PODE (O fascínio do poder)


Roberto Barbosa
     Este é um espetáculo característico da Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes (grupo formado em 1993) seguindo o modelo épico/narrativo das peças de Luís Alberto de Abreu escritas para o grupo. O texto assinado por Alex Moletta tem bons momentos, mas não atinge a “fluidez” dramatúrgica daqueles de Abreu.
     Cinco atores se revezam em interpretar várias personagens como também em narrar a saga de Mané –Leão de herói do povo a vilão da história quando passa a ter o poder em suas mãos.
     A manipulação da opinião pública, os impostos excessivos (a cena do povo carregando a carga tributária é emblemática), o abuso do poder são assuntos vividos por nós nos dias atuais e aparecem no espetáculo de forma direta e didática, mas também lúdica e divertida com forte apelo popular e apropriada para apresentação em espetáculos de rua que é um dos objetivos do grupo (eles têm apresentado os trabalhos em um caminhão). Resta sempre a grande dúvida de como o público de rua absorve essas denúncias...
A carga tributária
 
     Há uma cena muito forte e bonita onde se reproduz o quadro do pintor italiano Giuseppe Pellizza de Volpedo (1868-1907) Il Quarto Stato com os rostos originais sendo substituídos por aqueles dos atores. Assim como no quadro, a cena é uma alegoria social do povo que avança em direção a um futuro promissor, deixando para trás a época da opressão.
Il Quarto Stato
     É bonito, mas utópico esse final feliz, pois o que vemos nos dias de hoje está bem longe desse ideal.
     No melhor estilo brechtiano o espetáculo é dividido em cenas que são anunciadas pelos atores/narradores e entremeado por canções interpretadas pelo elenco bastante homogêneo (Pela experiência com a Fraternal, estão mais à vontade  Aiman Hammoud e  Mirthes Nogueira).
     A direção, limpa e eficiente, é de Ednaldo Freire.
     QUEM PODE, PODE está em cartaz no Centro Internacional de Teatro Ecum às sextas feiras às 21h e sábados às 19h até 22/02. Em outros horários o grupo também está apresentando Borandá e Sacra Folia.