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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

FESTIVAL KLEBER MONTANHEIRO


 
        Na semana passada assisti a três espetáculos dirigidos por Kleber Montanheiro em cartaz na cidade: Navio Fantasma, Os Dois Cavalheiros de Verona e Sobre Cartas & Desejos Infinitos. Para completar o verdadeiro festival só faltou ver o infantil A Lenda do Cigano e o Gigante.
        Após a vitoriosa e bem sucedida temporada de A Ópera do Malandro com a sua Cia. da Revista, Kleber assina estas direções que têm muito em comum, principalmente no extremo cuidado com cenários (quase sempre simétricos), figurinos (todos assinados pelo encenador, com exceção de Navio Fantasma de autoria de Deborah Corrêa). Há também atenção muito grande com a movimentação dos atores em torno da cenografia (todas elas de Kleber) o que resulta nos três casos em belíssimo efeito estético. O resultado final como espetáculo é distinto para cada um deles.

        Navio Fantasma é, segundo a produção, espetáculo dirigido para o público jovem, mas a dramaturgia de Paulo Rogério Lopes para a lenda do Holandês Voador não vai facilitar a vida para quem está começando a frequentar teatro: narrativa fragmentada sem necessidade (sei que o teatro pós-moderno gosta desta forma, mas creio que não seja o caso). Muito texto e pouca ação podem cansar e desviar a atenção dessa faixa de público. Os cinco atores revezam-se em vários papéis e há pouca diferenciação na troca de personagens o que também pode dificultar o entendimento. A encenação toda em tons claros é muito bonita e o elenco masculino é bastante bom. A produção do espetáculo é impecável.  A trilha sonora original de Rafael Gama Dantas, apesar da grande influência daquelas dos filmes épicos norte americanos, é bonita e funciona.

        Os Dois Cavalheiros de Verona (1594) é uma das primeiras peças de Shakespeare (1564-1616) e ressente-se disso na trama bastante frágil e no desfecho inverossímil (como perdoar Proteu tão rapidamente?), mas a encenação de Montanheiro dando um tom de commedia dell’arte às interpretações no gestual, nas entonações e nas máscaras torna o todo bastante agradável de ver, além do apuro na cenografia e na trilha executada ao vivo.  Destaque para a atriz que interpreta a ama de Julia, para o ator que interpreta Proteu e, principalmente, para o ator Caio Merseguel (só soube seu nome porque perguntei para a produção quando a peça terminou) que faz um gaiato Speed, criado de Valentino: com movimentação corporal e facial perfeitas rouba todas as cenas em que aparece não deixando o espectador tirar os olhos dele. A falta de indicação de “quem interpreta quem” cada vez mais comum nos programas presta um desserviço não só ao público como também aos atores.

        Sobre Cartas & Desejos Infinitos é ao meu modo de ver a mais bem sucedida das três encenações. Apresentada no acolhedor Armazém Cultural a peça de Ana Luiza Garcia inspirada na obra As Vantagens de Ser Invisível (livro e filme de 2012) de Stephen Chbosky fala sobre problemas típicos dos jovens, dirige-se a eles e também é interpretada por eles. A peça tem alguns desequilíbrios nas interpretações, mas revela o talento de Lucas Lentini, intenso nas emoções da personagem Rafa. Mais uma vez constata-se o cuidado do encenador com a parte visual (cenário figurinos e iluminação).

        Pela beleza visual e pelas revelações de Caio Merseguel e Lucas Lentini valem as viagens até esses três trabalhos do incansável e talentoso Kleber Montanheiro.

 

        NAVIO FANTASMA – Teatro João Caetano – Quartas 15h e 20h/Sábados e domingos 16h.

        OS DOIS CAVALHEIROS DE VERONA – Teatro João Caetano – De quinta a sábado 21h/ Domingos 19h.

        SOBRE CARTAS & DESEJOS INFINITOS – Armazém Cultural – Sábados e domingos 20h.
 
28/08/2015

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

BONS MOMENTOS DO TEATRO EM SÃO PAULO (Julho/Agosto 2015)


CINCO BONS MOTIVOS PARA SE SAIR DE CASA

         Diálogo comum entre alguns amigos e eu:
         - Assistiu a tal peça?
         - Assisti
         - Gostou?
         - Sim.
         - E por que não escreveu sobre ela?

         Tenho assistido a cerca de cinco espetáculos por semana e torna-se quase impossível escrever sobre todos eles, sendo assim alguns bons trabalhos que valeram a saída de casa ficaram sem ser comentados no blog. Sinalizo aqui cinco a que assisti neste segundo semestre:
 

         OS QUE FICAM – O novo trabalho da Cia. do Latão discute a censura e a situação atual por meio de um grupo de atores que nos anos 1970 ensaiam Revolução na América do Sul, peça de Augusto Boal (1931-2009); nesse período o dramaturgo estava no exílio. A peça tem a marca da militância de esquerda do grupo e é bastante interessante.

         ORGIA ou DE COMO OS CORPOS PODEM SUBSTITUIR AS IDEIAS – Baseado na vida e obra do escritor argentino Tulio Carella (1912-1979) o espetáculo tinha início em um apartamento na Rua Peixoto Gomide e simulava a vinda do escritor para o Brasil quando o público se dirigia para o Parque Trianon. Momentos antológicos como aquele onde se houve com o fone de ouvido os diálogos altamente eróticos entre os homens enquanto se vê as crianças brincando num parquinho fazem deste um grande momento do teatro Kunyn aqui com a direção de Luiz Fernando Marques.

         O CAPOTE (*) – O conto de Gógol, adaptado por Drauzio Varella e dramatizado por Cássio Pires encontrou uma boa tradução cênica por Yara De Novaes e uma excelente interpretação de Rodolfo Vaz como o frágil e inseguro Akaki Akakievitch.

         O FILHO – Mais uma feliz incursão dramatúrgica de Alexandre Dal Farra que naquele momento assinava quatro espetáculos em cartaz na cidade (inclusive a última cena de ORGIA, citada acima). A encenação 360º de Eliana Monteiro num espaço entulhado de objetos é bastante interessante, mas oferece na maioria dos assentos uma dificuldade de locomoção do olhar. Sergio Pardal narra a história sob o ponto de vista do filho e também o representa, praticamente não saindo de cena.
 
 
         MOSTRA DE TEATRO HELIÓPOLIS – A PERIFERIA EM CENA – Infelizmente só pude acompanhar uma jornada desta importante iniciativa de Daniel Gaggini com curadoria de Alexandre Mate. No CEU Heliópolis assisti ao emocionante UM BRAVO CANTO PARA DESATAR OS PERVERSOS NÓS (*), onde Luiz de Assis Monteiro dá uma verdadeira aula de cultura popular não deixando de fazer reflexão/denúncia sobre preconceitos e o descaso dos governantes e da sociedade pela educação e pelos menos favorecidos. A seguir na bela sede da Cia. de Teatro Heliópolis que foi residência de Maria José de Carvalho (1919-1995) foi a vez de assistir a JUQUERY: MEMÓRIAS DE QUASE VIDAS com o grupo Teatro Girandolá de Francisco Morato. Segundo Gaggini a segunda edição já está em preparativos. Aplausos para a iniciativa.
 
(*) Esses espetáculos ainda estão em cartaz na cidade. Consulte os guias.
 
17/08/2015

 

 

 

 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015



        Um ano se passou.  Minha neta, a pequena Laura, já anda e articula suas primeiras frases e é grande a minha curiosidade de como será a sua reação aos espetáculos do Teatro Para Bebês que tanto a encantaram quando tinha oito meses. Na ocasião também assisti ao espetáculo Sala de Estar e ao escrever sobre esses dois momentos do grupo intitulei a matéria Tempos de delicadeza no Espaço Sobrevento.
        Pois é, um ano se passou. O Teatro para Bebês está de volta e o grupo apresenta seu novo espetáculo adulto: .
 
 
        é uma reflexão poética sobre a solidão construída dramaturgicamente a partir de improvisações dos atores junto aos objetos que compõem a cena (o programa da peça indica os objetos que cada ator usou para construir a sua cena). O grupo, bastante conhecido pelas suas pesquisas com Teatro de Animação e de Bonecos, volta-se agora para o Teatro de Objetos, radicalizando esta proposta neste belo espetáculo onde os atores desenvolvem as ações sem se expressar verbalmente, mas apenas se relacionando com os objetos que inundam o espaço cênico (malas, sapatos, trem, navio, cadeiras, árvores e muito mais).
        Estar só ou ser só? Em vários momentos a questão é posta para o espectador, de forma subjetiva, mas muito eficiente. Uma cena síntese da peça surge logo no início quando uma mulher que carrega - literalmente - as dores do mundo nas costas (uma igreja cheia de penduricalhos) revela que o motivo de sua tristeza é a perda de um ente querido em um naufrágio. A encenação desse naufrágio com o uso de uma camisa azul e de um naviozinho de brinquedo é para mim a maior demonstração da potência cênica do Teatro de Objetos.
        A trilha sonora de Arrigo Barnabé e a iluminação de Renato Machado comentam todo o espetáculo e têm papel importantíssimo na ação. Poucas vezes se viu em teatro tamanha harmonia e sincronia entre essas três ferramentas do fazer teatral.
 
 
        Assim como os atores, os objetos entram e saem de cena, mas após a cena final onde parece haver um encontro dos solitários debaixo de uma árvore, a iluminação pontua todos os objetos usados durante o espetáculo. O público abandona o espaço circulando pelos objetos e encantado com tanta beleza.
        é mais um belo e sensível trabalho do Grupo Sobrevento tratando da condição humana. Numa época em que o celular parece ser o único objeto importante para o cidadão é importante lembrar que há muitos outros objetos e, principalmente, seres humanos à nossa volta. Parabéns ao Luiz André Cherubini, à Sandra Vargas (diretores) e a todo o elenco do espetáculo.

        está em cartaz no Espaço Sobrevento aos sábados às 18h e 20h e aos domingos às 18h até 20/09.

        TEATRO PARA BEBÊS será apresentado no mesmo espaço nos domingos de agosto às 11h e 14h.

        O Espaço Sobrevento fica na Rua Cel. Albino Bairão, 42 a algumas quadras do metrô Bresser-Moóca. Os ingressos são gratuitos e estão disponíveis meia hora antes nas bilheterias. TeL: 3399-3589.


13/08/2015

       

 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

DOIS VILÕES SHAKESPEARIANOS


SHAKESPEARE (1564-1616)
 
         A partir desta semana duas das mais cruéis personagens shakespearianas desfilam suas vilanias no palco da Sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso. Enquanto às terças e quartas Iago destrói a relação e a vida de Otelo e Desdêmona envenenando o pensamento do primeiro com os sentimentos da dúvida e do ciúme, Ricardo III de quinta a domingo assassina parentes, amigos e inimigos com sua fome de poder. Muito feliz essa ideia dos programadores da sala em reunir essas duas obras de Shakespeare em um mini festival de maldades.
 
 

         OTELO – Escrita entre 1604 e 1605 esta tragédia é considerada uma das obras primas do bardo inglês. Tudo se ajusta e tudo conflui para o triste final, mesmo que o espectador, de antemão conhecedor do desfecho, sempre torça para que Otelo mande Iago às favas e seja feliz com sua inocente e bela esposa.
         A encenação de Debora Dubois é esteticamente muito bonita em especial nas cenas inicial e final que provocam grande impacto visual. A tradução de Maria Silvia Betti (a mesma utilizada pelo Grupo Folias em 2003) é bastante feliz, usando linguagem coloquial com direito a muitos palavrões, mas sem absolutamente perder a essência e a elegância do original.
         A trilha sonora executada ao vivo é muito boa, mas em certos momentos encobre o falar dos atores por estar em volume muito alto. Outro senão é a inclusão de canções do repertório popular extremamente conhecidas no contexto onde foram criadas e que causam um estranhamento prejudicial ao acompanhamento da trama.
         Nesta peça o verdadeiro protagonista não é aquele que lhe dá título, mas o diabólico Iago que se valendo do seu ódio por Otelo - provocado pelos fatos de ambicionar o posto de Cássio e de desconfiar que Emília, sua esposa, o tenha traído com o mouro – tece uma verdadeira teia para destruir seu superior. Rafael Maia desincumbe-se com naturalidade e talento da tarefa recheando as ações da personagem com ironia, perversidade e buscando a adesão do público quando se dirige diretamente a ele. Titubeante e discursivo nas primeiras cenas Samuel de Assis ao longo da ação faz a personagem tomar corpo, e é um belo e vigoroso Otelo. Mel Lisboa está correta como Desdêmona e Yael Pecarovich tem um tocante momento dramático na cena final. Elenco de apoio integrado e harmonioso.
         Em cartaz de 11/08 a 09/09. Terça e quarta às 20h.
 
 

         RICARDO III – Classificada como drama histórico, esta obra é uma das primeiras (1592-1593) de Shakespeare. As perversidades deste homem já lotaram o auditório do Sesc Vila Mariana nos meses de abril e maio deste ano e agora voltam para esta temporada no Sérgio Cardoso. Dirigida por Sergio Módena e com interpretação antológica de Gustavo Gasparani a encenação foi alvo de matéria deste blog na época.



 
         Em cartaz de 14/08 a 13/09. Sexta e sábado às 20h. Domingo às 19h.

 

13/08/2015

 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A PRIMEIRA PARTNER DO PAULO.


(Paulinho na época em que se passa esta história)

        Mariza era a caçula de uma família de três irmãs. De temperamento forte, falava muito alto, dando um tom dramático a tudo que dizia, fato que lhe valeu os apelidos de Anna Magnani e Sarah Bernhardt dados pela mana mais velha.
        Originária da cidade de Duartina a família mudou-se para Bauru no início da década de 1940 quando a menina tinha dez anos. Foi fazer o primário no Grupo Escolar Rodrigues de Abreu.
        A coordenadora da escola, Dona Jacy, resolveu realizar uma peça de teatro para a comemoração do fim do ano e logo pensou em Mariza para o papel principal, haja vista seu modo expansivo de ser. A peça chamava-se Prato de Porcelana e tinha quatro personagens: a mãe (papel de Mariza), o pai, a filha e a empregada. A ação girava em torno das reclamações que a zangada e falastrona mãe fazia ao circunspecto e conciliador pai pelo fato da empregada ter quebrado alguns objetos da casa, inclusive o prato que dá título à peça. Para o papel do pai Dona Jacy escolheu o seu sobrinho Paulinho que, segundo Mariza, desde garoto já se revelava um ator de primeira linha. Magrelo, ele atuava sentado numa poltrona lendo um jornal e simulando que fumava um cachimbo. A filha e a empregada tinham papéis secundários sendo que Mariza e Paulo se encarregavam da maioria dos diálogos.              
        Mariza lembra até hoje de uma de suas falas: Ontem quebrou a fruteira, hoje a linda saladeira e um prato de porcelana. Criada assim nem de graça. Um dia sequer se passa que não dê um prejuízo.
       A ação se passava durante o café da manhã e Mariza usava um penhoar que sua mãe costurou às pressas nas vésperas da apresentação.
        A peça foi apresentada no Cine Teatro Bauru e foi aplaudidíssima pelos entusiasmados familiares que estavam na plateia. Mariza recorda-se que os quatro atores mirins se deram as mãos e numa reverência típica agradeceram os aplausos. Grande dia na vida daquela menina que ainda hoje, mais de 70 anos passados, o recorda com muita emoção.
        Após esse período nunca mais Mariza viu Paulo e anos mais tarde morando em São Paulo soube que ele havia seguido a carreira artística (teatro e cinema).
        No ano de 1969, a convite de sua cunhada, foi assistir a Fala Baixo, Senão Eu Grito no Teatro Aliança Francesa. A peça de estreia de Leilah Assumpção tinha como chamariz a atriz Marília Pêra. Mariza sentiu uma grande emoção ao reconhecer no palco ao lado de Marília, o Paulo de sua infância, seu partner em O Prato de Porcelana. Sim, era ele: Paulo Villaça!
 
 
        Quando o espetáculo terminou Mariza avistou Paulo no saguão do teatro conversando com um senhor; muniu-se de coragem e foi se aproximando para cumprimentá-lo e para falar do Prato de Porcelana, mas um grupo de pessoas chegou antes do que ela, fato que a intimidou fazendo com que se afastasse desistindo do contato. Até hoje ela se penaliza por não ter concretizado esse encontro.
        Só ouviu falar de Paulo Villaça novamente em 1992 quando soube de sua morte.
 
Paulo Villaça (1933-1992)

        Carinhosamente apelidada por mim de Dona Cebolinha uma vez que foge, como o diabo foge da cruz, de todo e qualquer prato que tenha vestígios da erva bulbosa da família das liliáceas,  hoje Dona Mariza é uma jovial, simpática e ainda bastante extrovertida senhora de 84 anos que adora ópera, seus netos, seus quatro filhos homens e também se entusiasma contando histórias lindas como esta.

 

07/08/2015

         

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

UMA NOITE MÁGICA


 
 
        Mágica, talvez seja a palavra que melhor defina a noite de 29 de julho de 2015, quando lancei meu livro O Teatro Paulistano de 1964 a 2014 – Memórias de Um Espectador no Centro Cultural Roberto Vasco em São José do Rio Preto.
        Os preparativos sempre sob o olhar atento e carinhoso do Linaldo Telles já foram promissores: divulgação, arranjos para entrevistas no jornal e na TV da cidade, além de um entusiasmo contagiante.
 
 
        O Centro Cultural é um espaço muito bonito e aconchegante com uma grande área externa cheia de verde e de flores, além de um bar. Internamente há a sala principal - uma caixa preta extremamente versátil dotada de arquibancada -, camarins e depósitos.
        Com o melhor dos acolhimentos por parte de Linaldo, Roberto Brito e Marlon Morelli fui recebido naquela noite com uma grata surpresa: a decoração da sala para o evento. O espaço cênico estava dividido em três partes: de um lado uma mesa com um abajur na qual eu daria os autógrafos, do outro lado outra mesa também com abajur e um lindo baú onde ficaram acomodados os livros que seriam vendidos pela Izabel. Ao centro um lindo tapete vermelho com um banco de três lugares e outro banco individual. Ao fundo um telão para a projeção dos slides e na frente a arquibancada. Decoração simples e de muito bom gosto.
 
 


        O evento contou com a presença de cerca de 30 pessoas (incluindo a Icléa, velha amiga dos tempos de colégio que hoje reside em Rio Preto) que ouviram atentamente a minha conversa sobre o livro durante aproximadamente uma hora. A seguir fizemos a leitura dramática de Todo Mundo Nasce Louco, crônica que escrevi em 2005 e que é o epílogo do livro. Esta leitura contou com as participações luminosas de Linaldo (Cacilda), Cibele (Lilian) e Carol (Lélia) paramentados com roupa preta e chapéu coco para a apresentação. Que lindo presente!
 
 

        Quando recolhia o material ao final da apresentação notei que a Luiza, menina linda e simpática de uns 11 anos filha de um dos componentes do Centro Cultural, estava folheando as páginas do texto que tínhamos lido. Perguntei se ela queria o mesmo, ela muito alegre respondeu que sim e pediu que eu o autografasse. Esse talvez tenha sido o autógrafo que eu dei com a maior alegria.
        Continuamos o bate papo na parte externa sob a benção da lua cheia. Para completar a mágica da noite me foi oferecido vinho numa fina taça de cristal com desenhos de uvas que o Linaldo disse ter trazido da cristaleira de sua madrinha.
 

        Delicadeza, carinho e atenção.

        Explode coração!

        Obrigado amigos por essa noite inesquecível.


06/08/2015

       

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

ESSE FIT TEM CHANCE DE SE TORNAR UM FÊNIX?


 
        Estive em Rio Preto para o lançamento do meu livro no dia 29 de julho e aproveitei para assistir a algumas peças do 15º Festival Internacional de Teatro, popularmente chamado de FIT. O sentimento presente naquelas pessoas que testemunharam os bons tempos do evento era um misto de melancolia, tristeza e revolta ao constatar aonde o FIT chegou: verba restrita ocasionando o cancelamento de vários espetáculos previamente programados, muita desorganização para administrar essa verba (teatros desaparelhados tecnicamente, inadequação na escolha dos teatros para determinados espetáculos, despreparo dos técnicos), política de caráter populista com a gratuidade de ingressos que gerou o paradoxo de sessões com ingressos esgotados e muitas poltronas vazias. Exemplos dessas constatações surgirão nos comentários das peças a que assisti.

        Foram dez espetáculos que comento abaixo na ordem de minha preferência:

        TCHEKHOV – Ave Lola Espaço de Criação (Curitiba) - Este belo espetáculo é um hino de amor ao teatro. Apresentação sempre esmerada que ficou bem acomodada no amplo espaço do Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto.

        TRAVESSIA – Grupo Tecelagem (São Paulo) – Baseado na obra de Guimarães Rosa o solo de Paulo Williams recria cinco travessias do universo do autor mineiro com muita criatividade e o apoio de dois excelentes músicos. Uma grata surpresa.

        ACORDES – Cia. Cênica (Rio Preto) – “Prepare seu coração pras coisas que eu vou contar...”, esse começo da canção de Geraldo Vandré também poderia dar início a este belo e forte espetáculo de Fagner Rodrigues que versa sobre os desmandos e torturas praticados durante os anos de chumbo da ditadura militar brasileira, permeado por canções da época. O grupo teve problemas na noite da estreia, pois o teatro não dispunha dos recursos de iluminação necessários para a encenação. Na segunda noite a atriz Beta Cunha fez um corajoso discurso em protesto ao descaso da organização do festival.

        MINHA ALMA É NADA DEPOIS DESSA HISTÓRIA – Os Ciclomáticos (Rio de Janeiro) – Um pequeno tesouro encenado numa tarde ensolarada em frente à igreja da pequena cidade de Eng]º Schimitt, famosa por seus doces caseiros. Um homem se apaixona perdidamente pela bela cigana Cleide que pertence ao mundo e não a uma só pessoa. A bela coreografia das três atrizes que vivem Cleide “abrasileira” os passos da dança flamenca.

        CÍRCULO DAS BALEIAS – Pia Fraus (São Paulo) – Peça dirigida com criatividade e inteligência ao público infantil que também encanta os adultos. Quatro ótimos atores num cenário simples e criativo se revezam na interpretação e na manipulação dos animais marítimos. A criançada presente reagiu lindamente.

        TRINIDAD GUEVARA – Teatro de la Morena (Uruguai) – Não há como avaliar este espetáculo que ao que tudo indica deve ser muito interessante e com um belo e desafiante solo de Cecília Cosero ( a atriz permanece praticamente imóvel mexendo apenas os braços  durante todo o espetáculo que dura cerca de uma hora). Inadequação do teatro (um teatro de quase 1000 lugares), público não preparado para esse tipo de trabalho (a maioria desconhecia o teor da peça e não houve publicação de catálogo com dados básicos sobre os espetáculos) e um injustificável despreparo do técnico que operou a legendagem, provocando a incompreensão do texto (item fundamental para a fruição) foram alguns dos itens que provocaram a reação do público que a um grito de comando vaiou a situação. Esse mesmo público foi extremamente respeitoso ao assistir em silêncio a peça mesmo com os descalabros da técnica e aplaudir a atriz ao final. Mais um gol contra do FIT: desrespeito à atriz, ao público e ao pobre técnico que a estas alturas é o crucificado da hora.

        UMA FLOR DE DAMA – As Travestidas (Salvador) – Outro monólogo apresentado em espaço inadequado (o imenso Teatro Paulo Moura). Pelas características da peça e do ator (o ótimo Silvero Pereira) a peça rendeu bem mais do que Trinidad Guevara. O monólogo sobre o cotidiano de um travesti emocionou e divertiu o público.

        MONÓCULO – Grupo Tecelagem (São Paulo) – Espetáculo sem palavras mostrando a rotina tediosa de um casal, ambos usando enormes máscaras. Ideia interessante baseada, segundo o grupo, na obra de Bachelard, mas que cenicamente revela-se tão tediosa como a vida do casal.

        AMÉM – Cia. Teatral Um e Outro (Araçatuba) – Um ator travestido e careca conta a sua história desde a infância. O espetáculo é repetitivo e não define claramente a sua posição em relação à igreja.

         HOJE É DIA DE ROCK – Minha Nossa Companhia (Rio Preto) – Se em 1971 o texto de José Vicente que mistura uma saga familiar com realismo fantástico já se mostrava problemático, em 2015 revela-se datado e ultrapassado. Por que montá-lo então? A encenação de Fabiano Amigucci e o elenco semi amador não contribuem para uma melhoria do texto resultando num espetáculo bastante equivocado.

   
        Esses foram os espetáculos a que assisti neste, repito, melancólico FIT, onde predominaram os espetáculos de produção barata (grande quantidade de monólogos sem cenário) o que não seria por si motivo de baixa qualidade. O problema está na falta de organização e no desconhecimento e falta de sensibilidade para o universo do teatro dos (des) organizadores. Mas há de chegar o dia que este FÊNIX vai ressurgir das cinzas. Torcida não falta. O que talvez faça falta é uma maior união da classe teatral riopretense e do público que ama o teatro na luta por esse renascimento.


05/08/2015