Na
semana passada assisti a três espetáculos dirigidos por Kleber Montanheiro em
cartaz na cidade: Navio Fantasma, Os Dois
Cavalheiros de Verona e Sobre Cartas & Desejos Infinitos. Para
completar o verdadeiro festival só faltou ver o infantil A Lenda do Cigano e o Gigante.
Após
a vitoriosa e bem sucedida temporada de A
Ópera do Malandro com a sua Cia. da
Revista, Kleber assina estas direções que têm muito em comum,
principalmente no extremo cuidado com cenários (quase sempre simétricos),
figurinos (todos assinados pelo encenador, com exceção de Navio Fantasma de autoria de Deborah Corrêa). Há também atenção
muito grande com a movimentação dos atores em torno da cenografia (todas elas
de Kleber) o que resulta nos três casos em belíssimo efeito estético. O
resultado final como espetáculo é distinto para cada um deles.
Navio
Fantasma é, segundo a produção, espetáculo dirigido para o público
jovem, mas a dramaturgia de Paulo Rogério Lopes para a lenda do Holandês Voador não vai facilitar a vida
para quem está começando a frequentar teatro: narrativa fragmentada sem
necessidade (sei que o teatro pós-moderno gosta desta forma, mas creio que não
seja o caso). Muito texto e pouca ação podem cansar e desviar a atenção dessa
faixa de público. Os cinco atores revezam-se em vários papéis e há pouca
diferenciação na troca de personagens o que também pode dificultar o entendimento.
A encenação toda em tons claros é muito bonita e o elenco masculino é bastante
bom. A produção do espetáculo é impecável. A trilha sonora original de Rafael Gama Dantas,
apesar da grande influência daquelas dos filmes épicos norte americanos, é
bonita e funciona.
Os
Dois Cavalheiros de Verona (1594) é uma das primeiras peças de
Shakespeare (1564-1616) e ressente-se disso na trama bastante frágil e no
desfecho inverossímil (como perdoar Proteu tão rapidamente?), mas a encenação
de Montanheiro dando um tom de commedia
dell’arte às interpretações no gestual, nas entonações e nas máscaras torna
o todo bastante agradável de ver, além do apuro na cenografia e na trilha
executada ao vivo. Destaque para a atriz
que interpreta a ama de Julia, para o ator que interpreta Proteu e, principalmente,
para o ator Caio Merseguel (só soube seu nome porque perguntei para a produção
quando a peça terminou) que faz um gaiato Speed, criado de Valentino: com movimentação
corporal e facial perfeitas rouba todas as cenas em que aparece não deixando o
espectador tirar os olhos dele. A falta de indicação de “quem interpreta quem” cada
vez mais comum nos programas presta um desserviço não só ao público como também
aos atores.
Sobre
Cartas & Desejos Infinitos é ao meu modo de ver a mais bem sucedida
das três encenações. Apresentada no acolhedor Armazém Cultural a peça de Ana Luiza
Garcia inspirada na obra As Vantagens de Ser Invisível (livro e filme de 2012) de
Stephen Chbosky fala sobre problemas típicos dos jovens, dirige-se a eles e também
é interpretada por eles. A peça tem alguns desequilíbrios nas interpretações,
mas revela o talento de Lucas Lentini, intenso nas emoções da personagem Rafa.
Mais uma vez constata-se o cuidado do encenador com a parte visual (cenário
figurinos e iluminação).
Pela
beleza visual e pelas revelações de Caio Merseguel e Lucas Lentini valem as
viagens até esses três trabalhos do incansável e talentoso Kleber Montanheiro.
NAVIO FANTASMA – Teatro João Caetano –
Quartas 15h e 20h/Sábados e domingos 16h.
OS DOIS CAVALHEIROS DE VERONA – Teatro João
Caetano – De quinta a sábado 21h/ Domingos 19h.
SOBRE CARTAS & DESEJOS INFINITOS –
Armazém Cultural – Sábados e domingos 20h.
28/08/2015