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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

HÁ DIAS QUE NÃO MORRO


 

        “Em certos dias eu morro e em outros não” ou “Faz algum tempo que não morro”. Qual dessas duas possibilidades tem a ver com o título desse espetáculo?
        Qualquer que seja, talvez o melhor significado seria “O que fazer nos dias que tenho de viver?", ou melhor, “O que eu vou fazer com o resto da minha vida?". E parece que para aquelas conformadas moças a vida vai continuar monótona, triste e repetitiva apesar de muito colorida e com manhãs sempre maravilhosas. Ou não?

        Brilhantemente concebido e dirigido por José Roberto Jardim e pelas componentes da Academia de Palhaços (Aline Olmos, Laíza Dantas e Paula Hemsi), o espetáculo tem texto de Paloma Franco Amorim e primorosas cenografia (Bijari) e iluminação (Paula Hemsi), aprofundando a belíssima experiência estética iniciada com Adeus Palhaços Mortos.
        O elenco é impecável, mas não há como não destacar as intervenções, em geral cômicas, de Laíza Dantas.
 
 
        Deslumbrante, a princípio; irritante, a seguir, pelas infindáveis repetições de texto e ação e emocionante, ao final, quando se entende as razões das repetições e do formalismo imprimido à montagem. O movimento repetitivo das atrizes exige perfeitas sincronia e continuidade na coreografia extremamente sofisticada exigida pela encenação.
        Uma atmosfera beckettiana ronda todo o espetáculo que transpira tristeza e depressão, mas que termina com uma ponta de esperança, quando as personagens se livram do cubo onde estavam confinadas e finalmente constatam que há algo diferente no ar.
        A Academia de Palhaços doravante adota o nome de ultraVioleta_s, a meu ver um nome difícil, principalmente no que se refere à escrita com minúscula no início da palavra, maiúscula no meio da palavra e ainda um underline! Enfim! Este não é o propósito desta matéria, mas fica a observação.

        HÁ DIAS QUE NÃO MORRO saiu do cartaz do SESC Pompeia em 27/10/2019, mas cumpre nova temporada no Galpão do Folias a partir de 02/11. NÃO DEIXE DE VER.

        28/10/2019

domingo, 27 de outubro de 2019

AS CRIANÇAS



 
        As minhas expectativas em torno de As Crianças giravam em torno do diretor Rodrigo Portella, de quem já havia assistido ao poderoso Tom na Fazenda e do elenco: pelo retorno de Analu Prestes aos palcos paulistanos, pela presença de Andrea Dantas que eu não conhecia, mas de quem tinha ouvido falar pelas crônicas do saudoso Patrício Bisso e pelo sempre talentoso Mário Borges. Da autora eu não sabia nada e o título da peça não me parecia muito promissor.
        A autora Lucy Kirkwood é uma inglesa de apenas 35 anos e parece ter uma carreira promissora segundo os dados que constam no programa, tendo iniciado suas incursões dramatúrgicas aos 21 anos em 2005.
        A peça As Crianças começa leve como uma comédia de costumes onde um casal recebe a visita de uma velha amiga e companheira de trabalho em uma Usina Nuclear onde os três trabalharam.
        Antigas relações mal resolvidas, um tsunami que provoca acidente nuclear na Usina, a poeira atômica invadindo o ambiente e uma proposta feita pela visitante são fatos que se somam para criar o quase pesadelo em que a ação se transforma. Muito bem escrito, o texto surpreende tanto pelo conteúdo como pela forma não linear.
        Analu Prestes volta a São Paulo depois de cerca de 40 anos com uma interpretação cheia de nuances e significativos silêncios durante os quais não se consegue despregar os olhos dela. Uma verdadeira filigrana a ser apreciada com muito respeito e admiração.
        Andrea Dantas tem uma interpretação bastante objetiva e tem excelentes momentos nos diálogos com seus parceiros de cena.
        Com sua habitual e forte presença, Mario Borges dá vida à personagem do marido e amante.
 
 
        A direção de Rodrigo Portella é limpa e direta como pede o texto, dispensando grandes recursos cenográficos e de iluminação, deixando tudo por conta da imaginação do espectador como ele escreve no programa, numa clara alusão ao prólogo de Henrique V de Shakespeare.
        Tudo funciona em As Crianças, resultando em um dos melhores e mais fortes espetáculos que passaram pelos palcos da cidade nesta temporada que já vai chegando ao fim. A peça fez carreira brilhante no Rio de Janeiro, estando indicada a 14 prêmios. Esperemos que São Paulo descubra esse tesouro na curta temporada do mesmo por aqui.      

        AS CRIANÇAS está em cartaz no SESC 24 de Maio às quintas, sextas e sábados às 21h e aos domingos e feriados às 18h. Até 17 de novembro. NÃO DEIXE DE VER.

        27/10/2019

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

A GAIVOTA - HOMENAGEM AO CHICO MEDEIROS


        Esta é uma homenagem ao querido Chiquinho Medeiros, falecido em 16/10/2019 e velado no dia de hoje sob forte emoção no solo sagrado do Teatro de Arena. Debaixo de fortes aplausos Chiquinho partiu dali para sua morada definitiva.
        O texto abaixo (de 2012) foi escrito para a minha dissertação de mestrado e está presente em meu livro; nele eu exalto uma das encenações mais significativas a que assisti em minha vida de espectador.
        As fotos foram um presente que recebi de outro querido, Oswaldinho Mendes, que também fazia parte do elenco dessa inesquecível montagem.
 
 
A GAIVOTA
 
        Ficha técnica conforme apresentada no programa:
 
        Texto: Anton Tchekhov. Tradução: Tatiana Belinky. Direção: Francisco Medeiros. Assistente: Nilton Bicudo.
         Elenco: Walderez de Barros, Marco Ricca, Mayara Magri, Genezio de Barros, Maria Letícia, Oswaldo Mendes, Bri Fiocca, Nilton Bicudo, Ricardo Homuth, Luiz Carlos Rossi e Cacá Soares.
        Cenografia e figurinos: J.C.Serroni. Cenógrafo assistente: Gustavo Siqueira Lanfranchi. Figurinista assistente: Telumi Helen Yamanaka. Iluminação: Wagner Freire. Assistente: Ari Nagô. Trilha sonora: Zero Freitas e Márcio Ribeiro. Preparação corporal: Fernando Lee. Fotos: Lenise Pinheiro. Programação gráfica: Ishiki Comunicação. Cenotécnico: Chimanski. Confecção de adereços: Telumi Helen Yamanaka. Confecção das gaivotas: Juvenal Irene dos Santos. Costureiras: Cida de Paula e Rosa Vieira Lima. Operador de luz: Ari Nagô. Operadora de som: Roberta Serrettielo. Direção de cena: Vlady.
        Direção de produção: Bel Gomes. Produtora assistente: Guga Pacheco. Divulgação: Textos e Ideias. Administração: Maria Antônia Silva e Paulo Jordão. Produção: Marco Ricca e Cia. do Bixiga.
        A peça estreou no dia 16 de maio de 1994, na Sala Porão do Centro Cultural São Paulo.
 
        Este foi o melhor aproveitamento que eu presenciei do ingrato porão do Centro Cultural São Paulo, atualmente denominado Espaço Ademar Guerra. Entrava-se no espaço ao som do Concerto nº 2 para piano e orquestra de Sergei Rachmaninov (1873-1943), contemporâneo e conterrâneo de Tchekhov (1860-1904), música que iria pontuar todo o espetáculo e que, mesmo sem ter sido escrita para ele, foi a trilha sonora perfeita para as desventuras de Treplev, o trágico herói tchekhoviano. Com os ouvidos já sensibilizados, chegava o momento de encantar o olhar com o belíssimo cenário de J.C. Serroni, reproduzindo “Um trecho do parque na propriedade de Sorin”, como pede Tchekhov nas rubricas da peça. Assim, mesmo antes do início do espetáculo, o espectador já estava aclimatado e predisposto para o que iria acontecer após o terceiro sinal.
        O texto é uma absoluta obra-prima e teve uma tradução primorosa, pelas mãos competentes de Tatiana Belinky, que infelizmente não foi publicada. Obra tão preciosa e delicada, merecia tratamento à altura, e Francisco Medeiros soube fazê-lo, criando um espetáculo belíssimo e sensível. Esse foi meu primeiro contato com uma encenação de A Gaivota. Houve outras, uma dirigida por Daniela Thomas em 1998 com Fernanda Montenegro, e outra que era uma eficiente desconstrução da peça dirigida por Enrique Diaz em 2007, mas nenhuma alcançou a densidade poética conseguida por Medeiros, e é ela que merece um lugar muito especial em minhas memórias de espectador.
 
 
        Texto, cenário, música, iluminação perfeitos, regidos por uma excelente direção de cena. E o elenco? Aqui a memória criou uma armadilha. Tenho lembrança da forte presença de Walderez de Barros compondo uma vigorosa Arkádina, do sempre eficiente Genezio de Barros como Trigorin, da atuação iluminada do jovem Marco Ricca como Treplev e da competência dos outros atores do vasto elenco. A questão é a atuação de Mayara Magri como Nina, personagem que personifica a metáfora da gaivota do título. Tenho essa atuação como o ponto fraco do espetáculo, mas não chegando a comprometê-lo. De qualquer maneira, perante o resto do elenco o seu trabalho era o mais fraco. Nelson de Sá foi implacável em sua crítica publicada em Folha de S. Paulo:
        O destaque para baixo (no elenco) é Mayara Magri, que chega a dar a impressão de só haver sido escalada porque a personagem diz ter consciência de "estar representando verdadeiramente mal". Fora a brincadeira, a atriz não consegue, em momento algum, refletir a pureza, a imagem de uma gaivota morta em seu voo. Sem a imagem de Nina e sua paixão juvenil pelos artistas, a ponto de confundir a glória com a fama, um dos temas tocados pela peça, A Gaivota perde muito, mas muito mesmo. Nina, por Mayara Magri, não parece um anjo caído, mas uma menina que já começou na futilidade e daí terminou como bem merecia.”
        Sem radicalizar como o crítico, esses senões não maculavam a bela encenação de Medeiros, que refletia muito bem o universo do dramaturgo russo e as questões por ele levantadas, como o confronto entre uma arte conservadora (representada por Arkádina), considerada ultrapassada pelos mais jovens (Treplev), e uma arte jovem (representada por Treplev), incompreendida e rejeitada pelos mais velhos (Arkádina e Trigorin). Quem está com a razão? A arte não tem fronteiras, ela existe como tal, enquanto for feita com verdade e paixão. Era essa a proposta do belíssimo espetáculo de Francisco Medeiros, planejado nos mínimos detalhes, como, por exemplo, o intervalo que durava exatamente os 12 minutos do adagio sostenuto (segundo movimento do já citado concerto de Rachmaninov) e durante o qual se podia percorrer as planícies russas criadas por Serroni para o espetáculo. Sempre que ouço esse movimento do concerto, me transporto para o ambiente criado pelo cenógrafo, fazendo uma significativa soma das memórias auditiva e visual.
        Uma curiosidade final: a peça iniciou a sua temporada quando a moeda era o cruzeiro (a Cr$ 6000,00 o ingresso) e terminou com o real já corrente (a R$ 4,40 o ingresso), pois foi nesse período que foi implantado o Plano Real, tendo como objetivo a estabilização econômica. A nova moeda foi lançada no dia 01/07/1994.
 
TCHAU, CHICO!
 
        17/10/2019
 

domingo, 13 de outubro de 2019

JARDIM DE INVERNO



        O close é poderoso recurso que tem o cinema para registrar a emoção dos atores e provocar a emoção no espectador. Boa parte do filme Foi Apenas Um Sonho (2008) de Sam Mendes concentra-se nas expressões faciais de Leonardo DiCaprio (Frank) e de Kate Winslet (April) amplificadas pelo uso do close.
        A peça Jardim de Inverno é baseada no livro Revolutionary Road de Richard Yates, o mesmo no qual o filme acima citado foi baseado e Fabricio Pietro e Andréia Horta interpretam as personagens do casal Frank e April. Sem o recurso do close cabe a eles transmitir as emoções da história pelos recursos de interpretação teatral (gestos e vozes), auxiliados pelos outros elementos que compõem a linguagem teatral: cenografia, iluminação, trilha sonora e, principalmente, pelo fato exclusivo do teatro de estar realizando aquela cena aqui e agora. Fabrício Pietro é versátil ao demonstrar muita energia ao “machão” que considera o homem como o único provedor da casa e ao mesmo tempo muita fragilidade em relação às adversidades que a vida lhe impõe. A personagem mais importante da peça é April, pois são suas ações que norteiam as mudanças na trama. Andréia Horta, que foi uma inesquecível Elis no cinema, tem uma interpretação contida ressaltando mais o servilismo do que as iniciativas de April. Talvez por seus trabalhos na televisão, a voz da atriz poucas vezes sai do palco para atingir o fundo da plateia, dificultando o entendimento de algumas de suas falas.
        Pietro nos disse que tem o projeto de montar esse texto há dez anos e tudo leva a crer que esse desejo tenha surgido após assistir ao filme de Sam Mendes, com o qual a adaptação teatral se assemelha bastante.
        Marco Antônio Pâmio mais uma vez realiza uma bem sucedida encenação e é aquela que mais se aproxima de sua premiada Assim É (Se lhe Parece). O início da peça com todo o elenco no palco é belíssimo e com o auxílio da direção de movimento de Marco Aurélio Nunes a cena se assemelha a um balé. Todas as cenas de conjunto (a plateia aplaudindo a peça de April, as entradas e saídas do elevador do trabalho de Frank, as mudanças dos objetos de cena) são extremamente bem realizadas e sincronizadas dando um aspecto coreográfico à cena. Para tanto Pâmio conta com a cenografia clean de Marisa Rebollo, os figurinos de Flaviana Bernardo, a iluminação de Wagner Antônio e a linda trilha sonora por ele escolhida toda calcada no cancioneiro popular norte americano da década de 1950, época em que se passa a peça. Pâmio dribla os momentos em que a trama tende para o melodramático com sugestivos congelamentos dos movimentos dos atores e as intervenções dos suburbanos vizinhos do casal também amenizam o clima triste que domina quase toda a peça.
        Erica Montanheiro, Martha Meolla e Iuri Saraiva são os principais destaques do elenco coadjuvante com excelentes momentos individuais, sendo que Iuri arranca aplausos do público em cena aberta por conta da interpretação da personagem John, considerado desequilibrado, mas o mais lúcido de todas elas e responsável por escancarar a verdade para o casal Wheeler.
        O título do romance (Revolutionary Road) refere-se tanto à rua onde mora o casal como a um irônico “caminho revolucionário” desejado, mas nunca percorrido pelo casal.  Foi traduzido como Foi Apenas Um Sonho para o português. A versão teatral optou por Jardim de Inverno que a meu ver não tem muito a ver com a história.
 
        Com ótimo elenco, contando uma bela história e muito bem dirigida por Marco Antônio Pâmio, JARDIM DE INVERNO merece ser prestigiada. Cartaz do Teatro Raul Cortez até 17/11 às sextas (21h30), sábados (21h) e domingos (20h).

        13/10/2019

 

         

         

         

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

CHERNOBYL 2


 
        Curado da gripe e ouvindo melhor, fui ontem rever Chernobyl, o pungente espetáculo dirigido por Bruno Perillo que a cada novo trabalho tem revelado sua criatividade e talento como encenador. Não tenho muito a acrescentar ao que escrevi quando assisti à peça na estreia:
 
 
a não ser que percebi melhor certos detalhes que me escaparam da primeira vez.
 
        Apesar da crueza das palavras que ouvimos é um raro prazer testemunhar a interpretação das quatro atrizes que revelam suas versatilidades narrando os trágicos acontecimentos e interpretando crianças, funcionários da Central, vítimas do acidente e até uma boneca!
        Como não se sensibilizar com o relato da mulher que perdeu o marido e a quem foi negado o corpo radioativo da filhinha morta? Nicole Cordery o faz com tamanha perplexidade e equilibrada emoção que facilmente transmite essas sensações ao espectador.
        O perfeito gestual de Carolina Haddad como a boneca Antonia foi algo que me escapou na estreia. O olhar assustado daquela boneca que tudo vê e nada pode fazer ficará para sempre na lembrança de quem o presencia.
        Joana Dória com seu costumeiro talento empresta corpo e voz para várias personagens, entre elas, Helena, a mãe das crianças que após perder o marido e a filha se exila na França com o filho e as lembranças da tragédia que viveu.
        Manuela Afonso tem interpretação dinâmica e com semblante trágico emoldura muitas das cenas. Nesta segunda visita ao espetáculo fui testemunha de um tombo da atriz que não constava da cena. Espero que não tenha sido nada grave.
        Chernobyl é espetáculo denúncia que mostra de forma clara como a ganância e a indiferença dos governantes podem levar a tragédias devastadoras. Mariana, Brumadinho, devastação da Amazônia e agora invasão de óleo nas nossas praias que o digam! E temos Angra 3!
 
        CHERNOBYL está em cartaz no SESC Consolação até 22/10/2019 às segundas e terças às 20h com sessões esgotadas, mas que podem ser tentadas na fila da esperança. Se você não conseguir no SESC, o espetáculo cumprirá uma segunda temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade de 05 a 21 de dezembro. PROGRAME-SE.
 
        09/10/2019

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

SÍSIFO

 
 


        Vinicius Calderoni tem facilidade enorme para falar das coisas corriqueiras de maneira original e criativa”, essa é uma frase que abre um dos parágrafos do texto que escrevi por ocasião da estreia de Os Arqueólogos em 2016 e ela é válida para esse instigante Sísifo que ele escreveu em parceria com Gregório Duvivier. Cerca de sessenta pequenos textos preenchem a hora e meia da encenação onde um incansável ator sobe e desce uma rampa à maneira repetitiva do mitológico Sísifo que, segundo a lenda,  carrega pedras montanha acima por toda a eternidade. Gregório Duvivier consegue dar nuances interpretativas (voz e gestos) para ações que se repetem inúmeras vezes não caindo em momento algum na monotonia e mantendo o espectador atento o tempo todo.
        Contribuem para a dinâmica do espetáculo a rampa criada pelo cenógrafo André Cortez, a iluminação de Wagner Antonio e a excelente direção de movimento de Fabrício Licursi. Como figurino, Fause Haten criou um confortável agasalho para que o ator possa correr a vontade no espaço e dê seus inúmeros saltos no “vazio”. Fundamental também a participação do contrarregra que movimenta a rampa, cujo nome não consegui identificar no programa.    
        Como são pequenas histórias, umas podem ser mais interessantes do que as outras sendo que isso também depende do espírito do espectador no momento. A metáfora para o Brasil de hoje representada por um tombo bem tumultuado é brilhante e a conversa entre o ator e a sacola de lixo é uma pequena obra prima mostrando de forma contundente a efemeridade do homem diante da eternidade da sacola. Esses tristes tempos do triunfo da tecnologia sobre o homem são bem demonstrados pelo acúmulo de sacolas de lixo em cena e podem ser resumidos parafraseando Bertolt Brecht: “desta humanidade nada restará, a não ser o lixo que por ela gerada”.
        Sísifo é uma peça muito sutil e inteligente, diverte e faz pensar, atinge várias camadas de público, além de comprovar o imenso talento de seus realizadores.
        Um pequeno senão: Nos quinze minutos finais, por várias vezes, parece que a peça chegou ao fim... Mas ela continua, criando uma perda de expectativa para o final verdadeiro.

        SÍSIFO está em cartaz no SESC Santana até 20/10 às sextas e sábados às 21h e aos domingos ás 18h. Haverá uma sessão extra no dia 10/10 (quinta feira). NÃO DEIXE DE VER
 

        07/10/2019