sábado, 30 de outubro de 2021

TERRA MEDEIA - UMA NOVA EXPERIÊNCIA

 

Quando pensei que já havia vivido todas as sensações que o teatro pudesse me oferecer, eis que surgiu o convite da Nicole Cordery para que eu estivesse presente nos bastidores da gravação da peça Terra Medeia, ocorrida em 27 de outubro de 2021.

57 anos de vivência como espectador não foram suficientes para conter toda surpresa e toda emoção que essa experiência me proporcionou.

O estúdio do fotógrafo João Caldas é o QG da operação. Lá, fui recebido com muito carinho por toda a parte da equipe ali presente.

Ali se situam a mesa de som e imagem comandada bravamente por Marcela Horta, ao seu lado o som é operado por Alexandre Martins que troca olhares e gestos com Marcela e com Madu Arakaki que faz uma complexa contrarregragem se esgueirando pelos cantos do espaço para suprir a atriz com todos elementos necessários para o desenvolvimento da ação. João Caldas opera a câmera que focaliza a atriz e em outro cômodo Renato Caldas interpreta Creonte com a câmera operada por Andréia Machado.

Medeia é interpretada visceralmente por Nicole Cordery que, em verdadeiro tour de force, se desdobra para cumprir todas as etapas da trama, não abandonando a emoção em nenhum momento (mesmo naqueles em que uma interferência da internet prejudica o andamento da ação)

O resto do elenco atua dos locais onde se encontra: André Guerreiro Lopes (Jasão) e Daniel Ortega (Mestre de Cerimônias e Médico) em suas casas em São Paulo; Bim de Verdier (Mãe e Deusa e também diretora do espetáculo) da Bahia e Rita Grillo (Babá) de Paris.

Como uma verdadeira maestrina, Marcela Horta conduz/edita as imagens, balançando a cabeça preocupada quando alguma coisa dá errado.

Assistir presencialmente a toda essa verdadeira operação de guerra foi um verdadeiro privilégio. Eu já havia assistido à peça virtualmente em maio de 2021 (vide matéria em meu blog: http://palcopaulistano.blogspot.com/search?q=Terra+Medeia) e na época Nicole me informou como tudo funcionava, mas assistir in loco, mexeu bastante tanto com a mente como com o coração.

Ao final fizemos uma gostosa confraternização tomando vinho e comentando os percalços “internéticos” ocorridos durante a apresentação.


De quebra levei meu livro para o João Caldas, retribuindo um presente que ele havia me enviado há treze anos.


Grande noite! Mais uma pra coleção das inesquecíveis. Obrigado, Nicole.


Agora resta aguardar o grande momento em que Terra Medeia vai para o palco de um teatro com a presença de público. 

30/10/2021

 

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

ENSAIO PARA UMA VOZ HUMANA

 

Em pouco menos de meia hora, somos testemunhas das ações de uma atriz que se prepara para gravar A Voz Humana de Jean Cocteau. Trata-se de uma mulher à beira de um ataque de nervos que vai interpretar outra mulher à beira de um ataque de nervos. A gravação será realizada em seu apartamento, que tem distribuído pelas paredes a ficha da técnica do trabalho e anotações do roteiro a ser filmado. Toda as interferências da modernidade acontecem para atrapalhar a gravação: a mulher está isolada e deprimida por conta da pandemia, seu cachorro a acompanha na depressão, cortam o gás do apartamento, várias pessoas chamam pelo celular e, a maior das tragédias, para seu desespero o celular desaparece!

Em certo momento o apartamento torna-se “invisível” e a atriz/personagem tem que recriar os elementos que o compõem. No momento mais belo do espetáculo, em excelente solução cenográfica, ela desenha os objetos, os móveis e o companheiro perdido. Toca o celular. FIM.

Regina França concebeu o trabalho e o interpreta de forma visceral. A direção é assinada pelas mãos seguras de Georgette Fadel. Ambas são também responsáveis pela criativa cenografia. Fernanda D’Umbra fez a consistente e ágil dramaturgia. Nota dez para a direção de áudio visual e movimento de câmeras de Maria Fanchin. Todas as outras funções são realizadas por mulheres (não há nenhum homem presente na ficha técnica) e o resultado é femininamente belo e bem sucedido.

A Voz Humana já foi interpretada por grandes atrizes do mundo todo tanto no teatro (Simone Signoret, Liv Ullmann), como no cinema (Anna Magnani, Ingrid Bergman e Tilda Swinton em recente filme de Pedro Almodóvar). A peça também foi transformada em ópera por Francis Poulenc.

No Brasil, não foram muitas as encenações da peça, mas vale destacar que foi com ela que Madame Henriette Morineau abriu pela primeira vez as cortinas do Teatro Brasileiro de Comédia em 1948 interpretando-a em francês.

A julgar pelas interpretações que conheço (aquelas de Anna Magnani e de Tilda Swinton), ouso afirmar que o trabalho de Regina França tem o mesmo impacto e excelência. 

26/10/2021 

SERVIÇO:

Ensaio para uma Voz Humana

De 26 a 31 de outubro, às 20h

Sessões extras nos dias 30 e 31, às 18h

O endereço das exibições é o canal do YouTube da Corpo Rastreado.

https://www.youtube.com/user/corporastreado

Duração- 40 minutos

Indicação de faixa etária – 14 anos

Grátis

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

BRENDA LEE E O PALÁCIO DAS PRINCESAS

 

Foto de Ale Catan

Toda homenagem que se faça à militante da causa LGBT - e eu acrescentaria, verdadeira heroína - Brenda Lee é pouco.

Nascida no interior pernambucano em 10 de janeiro de 1948 foi batizada com um nome para macho nenhum botar defeito: Cícero Caetano Leonardo, mas seu lado feminino logo floresceu e ela adotou o nome de Caetana. Ao mudar para São Paulo com apenas quatorze anos passou a usar Brenda Lee, talvez em homenagem à cantora norte-americana que na época abalava os corações juvenis com Jambalaya e Emotions. Foi barbaramente assassinada com dois tiros em 28 de maio de 1996 com apenas 48 anos.

Brenda Lee foi capaz de gestos humanitários incomuns abrigando em sua casa homossexuais perseguidos e mais tarde pessoas contaminadas pelo vírus da AIDS. A casa, a princípio conhecida como Palácio das Princesas, tornou-se depois referência no combate a AIDS com o nome de Casa de Apoio Brenda Lee. Sua trajetória é digna de todos os louvores e merecedora de estudos, de homenagens, de biografias e por que não? De um lindo musical!

Fernanda Maia (dramaturgia, letras e direção musical), Rafa Miranda (música original e preparação vocal) e Zé Henrique de Paula (direção e figurinos) são os principais responsáveis por recriar musicalmente em um palco momentos da vida de Brenda Lee, contando com uma preciosa equipe na coreografia (Gabriel Malo), na preparação de atores (Inês Aranha), na iluminação (Fran Barros), na cenografia (Bruno Anselmo), no visagismo (Diego D’urso) e na direção audiovisual (Laerte Késsimos) e com elenco brilhante e talentoso de seis travestis.

Mesclando as biografias de Brenda Lee e de algumas de suas hóspedes com borbulhantes números musicais inspirados naqueles que aconteciam na icônica boate Medieval, o espetáculo flui como gole de champagne durante seus 100 minutos de duração. Para tanto são essenciais as bonitas melodias de Rafa Miranda, enriquecidas pelas letras precisas de Fernanda Maia.

Verônica Valenttino é presença poderosa interpretando Brenda Lee. Olivia Lopes, Marina Mathey, Tyller Antunes, Ambrosia e June Weimar interpretam algumas das meninas que foram hóspedes do Palácio; elas cantam, dançam e são excelentes atrizes quando o drama assim exige. Fábio Redkowicz faz uma participação como o médico que se propôs a atender pacientes na Casa de Apoio.

Brenda Lee e o Palácio das Princesas vem se somar a Cabaret dos Bichos, dois experimentos musicais muito bem sucedidos apresentados virtualmente pelo Núcleo Experimental. Enquanto o segundo faz uma crítica feroz aos regimes totalitários, o primeiro esbanja humanidade e solidariedade ao contar a saga da memorável Brenda Lee. O Brasil precisaria de mais gente com esse espírito. VIVA BRENDA LEE!! 

18/10/2021 

SERVIÇO:

Espetáculo gratuito apresentado diariamente às 21h no canal do Núcleo Experimental no YouTube. 

Nos dias 12, 13 e 14 de novembro (sexta e sábado, às 21h / domingo, às 19h) o espetáculo também será transmitido pelas redes sociais do Teatro Alfredo Mesquita e nos dias 19, 20 e 21 de novembro (sexta e sábado, às 21h / domingo, às 19h) o espetáculo também será transmitido pelas redes sociais do Teatro Paulo Eiró.

domingo, 17 de outubro de 2021

... E O CÉO UNIU DOIS CORAÇÕES

 

Foto de João Caldas

Há muitos anos ausente de nossos palcos, em boa hora o grupo As Tias traz de volta ... E o Céo Uniu Dois Corações, escrito há 79 anos por Antenor Pimenta (1914 – 1994). Antenor foi um dos expoentes do circo-teatro, arte popular muito em voga na década de 1940, e é surpreendente como um melodrama circense repleto de clichês ainda desperte tanta emoção no público.

Cartaz da estreia da peça em 1942

A mocinha ingênua, sua avó cega que é santa até no nome, seu pai injustiçado e o galã são vítimas de um desalmado vilão que acaba por provocar a morte do casal de enamorados que só vai realizar plenamente sua felicidade no “céo”. Essa poderia ser a sinopse, sem querer ser desmancha prazer anunciando o final, pois este já é explicitado no título da peça.

O melodrama é muito bem estruturado em cinco atos no melhor estilo novelesco (muito antes do modelo das novelas atuais existir), oferecendo suspense e mistério ao final de cada ato. Na adaptação do grupo um narrador faz uma introdução no início de cada ato.

A encenação de Fernando Cardoso é bastante engenhosa alternando intérpretes e personagens em cada ato, oferecendo assim ao espectador um jogo lúdico onde ele fica intuindo quem interpretará quem no ato que vem a seguir.

Usando pouquíssimos objetos de cena e cenário composto apenas por cadeiras e telão ao fundo mostrando a lona de um circo (criação de Marcelo Andrade) o diretor cria todo um imaginário no espectador por meio das ações dos atores, mesmo aqueles que não estão na cena, mas permanecem no palco cantando, fazendo sons ou apenas observando atentamente.

Os figurinos de Victoria Moliterno são compostos de pesados macacões pretos com bolsos de onde o elenco vai tirando objetos necessários à ação.

O elenco da peça é uma delícia à parte, composto por quatro senhoras e dois senhores que fazem de tudo em cena e a cada ato interpretam um outro personagem. Maria do Carmo Soares (emocionante como Dona Santa no momento em que vê a neta no caixão), Cibele Troyano (tem a mais bela voz empostada de Dona Santa e está impositiva como o vilão Della Torre), Joseli Rodrigues (ótima em vários papeis), Salete Fracarolli (impagável como o atrapalhado Juca), Marcos Thadeus (presença cênica marcante) e Marcelo Andrade (nunca houve, nem haverá jamais, Neli mais doce do que aquela criada por Marcelo).

... E o Céo Uniu Dois Corações é hora e meia absolutamente imperdível de muita emoção e muita alegria. NÃO DEIXE DE VER!

17/10/2021 

SERVIÇO: 

... E O CÉO UNIU DOIS CORAÇÔES está em cartaz até 31 de outubro no Teatro Giostri de quinta a domingo às 20h. Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia)

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

TANGO – ROTEIRO DA DECOMPOSIÇÃO

 

Foto de Ronaldo Gutierrez

Com uma bagagem de cerca de 4000 peças de teatros e outra quantia igual de filmes, chego até a achar natural que às vezes eu confunda e misture situações e personagens de obras assistidas.

Algo mais comum é eu remeter personagens de algo a que estou assistindo a figuras de outros espetáculos vistos anteriormente. Curiosamente esse fato aconteceu por duas vezes ao assistir Tango-Roteiro da Decomposição.

A peça mostra um casal desde a paixão e a surpresa do namoro até a inevitável decomposição da relação sugerida no título. A maior parte da ação ocorre na cozinha onde eles estão preparando um jantar.

Na primeira parte, onde tudo são flores, o casal me remeteu às personagens de Eva Wima e John Herbert que faziam par romântico em Alô, Doçura, um açucarado programa da extinta TV Tupi nos anos 1950/1960. Na segunda parte quando a relação se torna neurótica, doentia e agressiva o casal me lembrou as personagens de Nicole Kidman e Tom Cruise em De Olhos Bem Fechados (1999), último filme dirigido por Stanley Kubrick.

Essa comparação pode parecer bizarra, mas não deixa de confirmar que a peça radiografa de forma exemplar uma relação que começa linda e romântica e vai se deteriorando ao longo do tempo, deixando muita mágoa e ressentimento pelo caminho.

Bruno Perillo conduz com maestria essa narrativa sofisticada que se desloca de forma aparentemente aleatória no tempo e no espaço. Escancarando o ambiente onde a peça foi filmada, Perillo provoca no espectador salutar efeito de distanciamento.

E o casal? Ah, o casal! Que interpretações maravilhosas de Natalia Gonsales e Bruno Kott!

Natalia, no auge da beleza, da sensualidade e do talento dramático, faz daquela mulher (Ela) uma das atuações mais brilhantes e apaixonadas de sua curta, mas já gloriosa, carreira.

Bruno Kott, mais contido, também exala talento como o macho provedor e só aparentemente compreensivo e conciliador.

Além de todas as qualidades interpretativas, o casal dança tango muito bem (preparação corporal de Ronaldo Gutierrez).

Em mais um efeito brechtiano, na última cena Natalia e Bruno listam qualidades e defeitos das personagens Ela e Ele.

O trio (uma Natalia e dois Brunos) realiza um dos espetáculos virtuais mais bem sucedidos da atual temporada pandêmica.

Aplausos também para a trilha de Marcelo Pellegrini, os trabalhos de câmeras coordenado por Guto Garrote, os figurinos de Anne Cerrutti e para toda a equipe que compõe a ficha técnica desse ótimo e imperdível espetáculo.

MUITA ATENÇÃO: Somente mais três apresentações: dias 13, 14 e 15 às 20h. GRATUITO. Link: Contorno Produções – YouTube.

NÃO PERCA!!

13/10/2021

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

ALETHEA DREAMS

 

 

O mote principal da peça de Rafael Souza - Ribeiro é a crise de identidade pela qual passa a executiva Teresa B. Rica, bem sucedida nos negócios e bem casada, Teresa está farta disso tudo e clama por mudanças e vai encontrar uma mudança radical na clínica Alethea da Dra. Betina que lhe propõe uma troca de identidade.

Usando recursos de ficção científica o autor faz reflexão bastante interessante sobre crises existenciais e comportamento humano.

O assim chamado teatro-filme pelo realizador Jorge Nassarala foi filmado no palco de um teatro e põe em cena os bastidores da filmagem em efeito de distanciamento bastante interessante. As cenas que revelam os bastidores são fotografadas em preto e branco com belo efeito estético.

Alethea Dreams é uma peça de personagens femininas e o marido só está ali presente para auxiliar no desenvolvimento da trama (participação discreta de Henrique Manoel Pinho). São as mulheres que brilham na história! E as atrizes, muito bem dirigidas por Miwa Yanagizawa, tiram o máximo proveito disso.

Se Luciana Malavasi, Monique Franco e Francine Flach estão muito bem em suas interpretações, os maiores aplausos vão para Sabrina Faerstein como a personagem que passa por dois momentos extremos, antes e depois da troca de identidade.

Perto do final a peça tem uma reversão surpreendente (que não vou citar aqui) e a última cena mostrando a plateia do teatro é belíssima.

Alethea Dreams confirma uma das vantagens do teatro virtual que é o acesso a trabalhos de outros estados e o conhecimento de profissionais (no caso o diretor e as atrizes) que dificilmente se apresentariam em nossos palcos.

Não entendo a razão do título em inglês. No meu modo de ver, só Alethea soaria bem melhor. 

11/10/2021 

SERVIÇO:

Estreia: 09 de outubro de 2021, sábado, às 20h, com transmissão pela web.
Canal de acesso à transmissão: 
youtube.com/artefranco
Temporada: Após a estreia, o espetáculo estará disponível On Demand, 24 horas por dia, todos os dias da semana, até 31 de outubro.
Acessibilidade: Haverá uma versão do teatro-filme “Alethea Dreams” com audiodescrição para pessoas com deficiência visual, intelectual, dislexia e idosos.
Ingressos: Grátis
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
Debates públicos: Nos dias 14, 21 e 28 de outubro, às 20h, serão realizadas apresentações especiais seguidas de debates mediados por mulheres influenciadoras, a respeito da temática da obra, com acesso gratuito pelo canal 
youtube.com/artefranco

domingo, 10 de outubro de 2021

UM DOMINGO DESCONFINADO

 

Este fim de semana chuvoso e muito frio está com cara daqueles dias de inverno de junho e julho.

No sábado havia tanta neblina e depois garoa forte, que eu cheguei à conclusão que a Dorothy de O Mágico de Oz estava certa: “There’s no place like home”.

Saí pela manhã para comprar frutas e comer pastel na feira e depois me entoquei em casa colocando aquele agasalho velho e gostoso que não faz dobras no corpo. Assisti a duas peças que não me disseram muito, continuei a releitura do livro do Boal, tomei sopa acompanhada de vinho. Sábado típico de confinamento pandêmico.

Com esse espírito de confinado fui dormir por volta da meia noite e tive um sonho mais confinado ainda: estava em casa cumprindo quarentena e houve um apagão total. Tudo escuro, sem telefone, sem internet, sem música, sem comunicação total. Sensação de clausura. Meio apavorado saí para a rua. Tudo escuro, não se via nada. Fiquei com medo de ser assaltado e comecei a cantar muito alto para afugentar os eventuais ladrões. Muito assustado, cantava cada vez mais alto e acabei acordando com os meus próprios gritos. Coração batendo forte. Acendi a luz para me certificar que não havia apagão. Tomei uma decisão ali mesmo às três horas da manhã: “Amanhã, faça chuva ou faça sol, eu vou passear o dia inteiro, vestido com as roupas e as armas de Jorge, é claro!

E foi assim. Acordei às 10 horas, o tempo continuava frio e chuvoso. Tomei meu café, catei máscara e guarda chuva e fui viver o domingo frio e chuvoso que para mim estava ensolarado e belo.

Avenida Paulista, programa de paulistano! Comprei jornal, remédios na Drogaria São Paulo.

Hora do almoço. Onde? Aspargus (será que está aberto?), MacDonald’s, Bob’s ou Habib’s (nem pensar, neste domingo especial, nesses fast foods que carregam uma apóstrofe no nome!).

Lembrei do Gula Gula, o charmoso restaurante que abriu em um casarão na esquina da Rua Padre João Manuel com a Alameda Santos. Caro? Talvez. Mas, por que não uma extravagância no primeiro domingo depois de receber a aposentadoria?


E lá fui eu para o Gula Gula. A beleza interna combina com a externa. Bom atendimento. Gente bonita atendendo e comendo. Sem frescura. O prato principal (escolhi uma lasanha de berinjela) não é muito mais caro do que um combo nas casas das apóstrofes. A conta subiu com a taça de vinho chileno, a mousse de chocolate (uma generosa porção) e o cafezinho final. Gastei cerca de R$150,00, mas saí de lá feliz e satisfeito.

Para completar o domingo: Livraria Martins Fontes. Adoro vasculhar nas estantes da livraria e acabei achando um livro com quatro peças do Tiago Rodrigues, encenador e dramaturgo português que nos surpreendeu e encantou na MITsp de 2020 com By Heart (ao vivo) e Sopro (on line), que deixou de ser apresentada em razão do início da pandemia em março daquele ano. Os textos das duas peças fazem parte do livro, além de Natalie Wood, Três Dedos Abaixo do Joelho e Antonio e Cleópatra.

Metrô e ônibus para casa. Cheguei gelado, coisa que um banho quente resolveu na hora.

Único senão desse domingo desconfinado: uma dorzinha contínua em local bem inadequado.

Só liguei o note book para escrever estas mal traçadas linhas!!

BOA NOITE. 

10/10/2021

sábado, 9 de outubro de 2021

PEQUOD

 


Dizem que Mário Bortolotto ignora matérias e críticas que são escritas a respeito de suas peças. Dizem também que ele odeia elogios.

Mesmo assim vou escrever uma matéria elogiosa a respeito de PequodSó os Bons Morrem Jovens a que assisti ontem virtualmente.

A peça é a última de uma trilogia cujos personagens são os irmãos Nando (alter ego do autor) e Maurício. Fica Frio (1989) e Tempo de Trégua (2000) são as duas anteriores, as quais eu não assisti. Jovens nas duas primeiras, em Pequod eles já estão beirando a “melhor Idade”, ou a velhice para ser politicamente incorreto.

O barco onde Nando vive de favor tem o mesmo nome (Pequod) do baleeiro de caça à temida Moby Dick do romance de Herman Melville, que por sua vez é também o nome de uma extinta tribo de índios dos Estados Unidos. O dono, um senhor paraplégico, cede-lhe o espaço em troca de Nando levar-lhe para um passeio de vez em quando. Nando tem a vida solitária que deseja, apenas compartilhada com o velho Castioni, um homem tresloucado que fala o que bem entende em altos brados e Lili, uma jovem bonita e descolada que adora uma aspirada na branquinha.

Esse universo meio marginal é repentinamente invadido por Maurício, o irmão “bom moço”, educado e dentro das normas, que vem anunciar o falecimento do pai. Acontece o inevitável acerto de contas entre eles, só interrompido pelas visitas de Castioni e Lili.

Bortolotto mostra um universo triste e desesperançado, mas o seu último olhar ainda tem um lampejo de esperança.

A peça é ambientada no interior do barco, mas termina na proa com os irmãos se solidarizando e sugerindo um olhar para a frente e uma luz no fim do túnel. Esse cenário é de Mariko Ogawa e Seiji Ogawae e é lindamente iluminado por Caetano Vilela.

A excelente trilha sonora à base de jazz e rock assinada pelo diretor é a marca registrada de seus espetáculos.

Bortolotto parece interpretar a si mesmo e revela muita humanidade em seu trabalho, Nelson Peres é ótimo contraponto a ele como o irmão Maurício. Fernando Castioni entra em cena e toma conta do espaço com seu histrionismo. A bela Rebecca Leão dá o tom feminino e empoderado naquele ambiente machista.

Pequod respira humanidade e tem cheiro de gente que sofre, ama, chora, ri e respira um ar viciado, mas ainda assim AR, tão necessário para nossa sobrevivência. Só isso é um imenso motivo para não se perder este importante trabalho de Mário Bortolotto. 

09/10/2021 

SERVIÇO

 

Pequod - Só os bons morrem jovens

Teatro Sérgio Cardoso Digital

Temporada: De 08 a 24 de outubro, sexta, sábado e domingo às 19h

Ingressos: Gratuitos, retirada prévia na plataforma Sympla Streaming

Duração: 60 min

Gênero: Drama

Classificação etária: 14 anos

Acessibilidade: Legendagem descritiva

Bate-papo com o diretor Mário Bortolotto: 10/10 logo após a exibição da última sessão

 

 

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

BENDITAS MULHERES

 

Os maiores méritos de Benditas Mulheres, que teve uma pré estreia na noite de ontem no Teatro Renaissance, são o carinho e o respeito com que a autora Célia Forte homenageia uma profissional fundamental do teatro que, em geral, é o último nome a aparecer nas fichas técnicas dos espetáculos, isso quando não é simplesmente ignorada: a camareira.

Otila é a mais bem acabada e com certeza a mais humana e divertida entre as quatro personagens retratadas na divertida peça de Célia. Escrito especialmente para ela, Claudia Missura deita e rola no papel, sendo responsável pelas maiores gargalhadas da plateia e por aplausos em cena aberta. Em certos momentos Otila nem faz parte dos diálogos, mas suas reações com olhares e pequenos gestos acabam desviando a atenção do espectador para si. A personagem cai como uma luva para a atriz, que tem excelente tempo de comédia. Lembro-me que quando Célia comentou comigo sobre a peça, as personagens e o elenco, eu disse a ela “Tenho certeza que a Claudia Missura fará a camareira”.

Otila, assim como a Olímpia de Trair e Coçar É Só Começar deve se inserir no panteão das grandes personagens femininas cômicas e muito humanas do teatro brasileiro.

Uma das cenas mais divertidas da peça é com certeza o ensaio da peça que as atrizes estão preparando e é uma pena que ela seja relativamente curta. Propositalmente caricatural, vai crescer bastante quando o espetáculo ganhar maior ritmo.

Percebe-se o carinho com que Elias Andreato dirigiu o espetáculo enfatizando certo tom poético já presente no texto da autora.

A produção da peça, muito bem cuidada, é outro mérito desta divertida e humana investida de Célia Forte em nossa dramaturgia. 

08/10/2021 

Esta matéria contou com a colaboração de Arnaldo D’Ávila.

SERVIÇO:

BENDITAS MULHERES estreia em 08 de outubro às 21h30 no Teatro Renaissance.

Sessões às sextas e sábados às 21h30

Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/69194

Duração: 80 minutos

 

 

 

 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

AS AVES DA NOITE

Hilda Hilst (1930-2004) escreveu seus oito textos teatrais entre 1967 e 1969, anos terríveis da ditadura militar, mas que foram bastante férteis para as criações teatrais como resistência aos desmandos do regime de triste lembrança.

As Aves da Noite foi escrita em 1968, ano de muita agitação popular e em que houve um recrudescimento da censura e das torturas culminando com a edição do famigerado AI-5 (tão amado pelos adeptos do bolsonarismo) em 13 de dezembro.

Em boa e oportuna hora Hugo Coelho foi buscar esse importante texto para transformá-lo nesse pungente espetáculo, ora apresentado virtualmente.

A cena se passa na chamada cela de fome no campo de concentração de Auschwitz onde estão presos alguns homens considerados inimigos do regime nazista, entre eles o Padre Maximilian Kolbe que realmente existiu. De formação e credos diferentes esses homens discutem sobre fé, vida, morte e repressão durante o tempo que ainda têm de vida. Texto extremamente oportuno para a época em que foi escrito, infelizmente torna-se novamente oportuno nestes tristes tempos em que o autoritarismo ronda as cabeças de todos os brasileiros.

Eu arriscaria escrever que As Aves da Noite é o espetáculo mais bem sucedido como TEATRO desde o surgimento das obras realizadas de modo virtual. Explico: há o teatro filmado, o teatro híbrido (peça filme, cine teatro), o teatro de janelinha (aqueles primeiros usando o zoom), todos eles mais ou menos bem sucedidos e que tiveram uma evolução muito grande de 2020 para 2021 no que tange à tecnologia, mas a virtualidade sempre preponderou em todos eles, com as câmeras dominando o espetáculo. Em As Aves da Noite a câmera deixa de ser a protagonista. A peça foi realizada no palco do Teatro Arthur Azevedo com cenário, iluminação e demais itens voltados para uma apresentação teatral. O mesmo acontece com a interpretação e a movimentação dos atores. Todo o processo de criação foi teatral. As câmeras entram discretamente naquele ambiente para alguns closes e planos necessários para a exibição virtual. No bate papo ao final do espetáculo o diretor Hugo Coelho fez uso de metáfora interessante para explicar a sua escolha: na montagem o teatro é a massa do bolo, a câmera é só a cobertura.

O espaço cênico concebido pelo diretor e David Schumaker é esteticamente bem equilibrado com as celas individuais dispostas de forma simétrica (durante a peça algumas mudam de lugar). A iluminação de Fran Barros é discreta e privilegia as celas e o aparecimento de uma das aves agourentas da noite (o SS). Figurinos de acordo com a situação dos prisioneiros assinado por Rosângela Ribeiro e trilha sonora potente de Ricardo Severo. Todos esses elementos contribuindo para a sensação de angústia e claustrofobia que perpassa toda a peça.

Foto de Priscila Prade

Intérpretes são peças chaves para o bom resultado de um espetáculo desse tipo. E que intérpretes! Hugo Coelho conseguiu reunir uma equipe que merece um prêmio coletivo de interpretação por este trabalho.

Concordo com Marco Antônio Pâmio que interpreta com muita verdade o Padre Maximiliano, que não há um papel principal na peça.

Tanto o Padre, como a Carcereiro (interpretação visceral e absolutamente memorável de Marat Descartes), o Joalheiro (Genézio de Barros sempre um excelente ator, em interpretação intimista e comovente), o Estudante (o jovem Rafael Losso em grande momento), o Poeta (Davi Tápias, muito bom em seus momentos de desespero, sendo o primeiro a sucumbir), a Mulher (participação emocionante de Regina Maria Remencius), o SS (Marcos Suchara convencendo como o repugnante agente nazista) e mesmo Hans, o ajudante do SS (Davi Tostes, presença muda, mas significativa) têm momentos fundamentais no desenrolar da trama.

Há muitas razões para assistir a As Aves da Noite: a qualidade e a atualidade do texto, a segura direção de Hugo Coelho como verdadeiro regista teatral de todos elementos que compõem o espetáculo e um elenco de ouro que faz o orgulho do nosso teatro, são algumas delas.

Ah! E a montagem está prontinha para ir para um teatro!

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL! 

06/10/2021


    SERVIÇO:

DIAS 05, 06 e 07 de outubro – 20h

Acesso: Youtube/CuradoriaHilst

DIAS 15, 16 (21h) e 17 (19h) de outubro

Acesso: Facebook/TeatroCacildaBeckerSP  YouTube/TeatroCacildaBecker

DIAS 22, 23 (21h) e 24 (19h) de outubro

Acesso: Facebook/teatropopularjoaocaetano – YouTube/TeatroJoãoCaetanoSão Paulo

DIAS 29, 30 (21h) e 31 de (19h) de outubro

Acesso: Facebook/teatropauloeiro 

DIAS 05, 06 (21h) e 07 (19h) de novembro

Acesso: Facebook/teatroarthurazevedosp – YouTube/TeatroArthurAzevedoSP 

GRATUITO. Duração: 75 minutos. Classificação: 16 anos


 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

CABARET DOS BICHOS

 

A Revolução dos Bichos, o famoso livro de George Orwell (1903-1950) escrito em 1944 que critica o regime stalinista, já foi filme de propaganda, já foi desenho animado, já foi história em quadrinhos e agora, pelas mãos de Zé Henrique de Paula e Fernanda Maia do Núcleo Experimental, torna-se um cabaré musical inspirado naqueles criados na Alemanha dos tempos de Bertolt Brecht e Kurt Weill e o resultado é deliciosamente lúdico, mesmo mostrando de maneira bastante clara as agruras que sofrem aqueles que vivem em sistemas totalitários.

A trama do livro é bastante conhecida e a peça é bem fiel a ela; a grande surpresa é a maneira como a história é contada. Estamos em um cabaré onde um tal Eric Arthur Blair (nome verdadeiro de Orwell) inicialmente apresenta os participantes e o papel que cada um vai representar na história, são eles (e elas!!): Sambo, Franky, Richard do Ópio, Ginger, Flip, Birmânia (que também é vidente) e Dorothy Have. Pois é! Artistas de cabaré têm mesmo esses nomes estranhos!

Estabelecido o jogo de metateatro (ou metacabaré?) tem início a história que envolve porcos, cabras e equinos com um desenvolvimento muito próximo ao romance. A trama é entremeada pelas belas canções compostas por Fernanda Maia.

Tudo funciona nesta cuidada produção do Núcleo Experimental desde a direção audiovisual de Laerte Késsimos que intercala harmoniosamente cenas externas filmadas com aquelas internas realizadas com os atores, passando pelo perfeito visagismo criado por Louise Helène e os cabelos e maquiagem de Diego D’Urso, a cenografia de Cesar Costa e os figurinos assinados por Zé Henrique de Paula. Tudo isso iluminado brilhantemente por Fran Barros.

A trilha sonora de Fernanda Maia é, como já citei, muito boa, combinando letra (de Zé Henrique de Paula) e música perfeitamente e auxiliando na transmissão da trama. Além disso, Fernanda (a nossa Midas do teatro musical, como eu costumo brincar com ela) faz uma direção musical estupenda tirando o máximo proveito dos músicos (ela ao piano, João Baracho no acordeon, Clara Bastos no baixo, Priscila Brigante na bateria e Felipe Parisi no cello) e dos cantores/atores, sobre os quais escrevo mais adiante.

Zé Henrique de Paula rege todos os componentes da montagem com a sua conhecida competência e ainda nos brinda com uma excelente participação especial logo no início da peça, como o porco Velho Major.

Deixei, propositalmente por último o elenco preparado por Inês Aranha e coreografado por Gabriel Malo. É sempre gratificante para um velho espectador testemunhar o surgimento de jovens atores. Todos, sem exceção, têm um rendimento surpreendente, seja interpretando, seja cantando. Como equinos, porcos e cabras Dan Cabral, Flavio Bregantin, Felipe Assis Brasil, Fernando Lourenção, Luci Salutes, Mari Rosinski e Yasmin Calbo nos seguram diante da tela durante as quase duas horas que dura o espetáculo. É necessário fazer uma menção especial a Pedro Silveira que narra a história com muita propriedade e simpatia, além de brindar o espectador com uma bela canção quase ao fim da peça.

Cabaret dos Bichos é teatro virtual da melhor qualidade e precisa ser visto por adultos e, principalmente, por jovens que ainda não sentiram (e espero, que nunca sintam) o que é viver em um regime totalitário. 

05/10/2021 

SERVIÇO:

1 de outubro a 5 de novembro de 2021

Sessões diárias, às 19h pelo canal do Núcleo Experimental no Youtube

(Nos dias 12, 13 e 14 de novembro (sexta e sábado, às 21h / domingo, às 19h), apresentações também pelas redes do Teatro Arthur Azevedo e nos dias 19, 20 e 21 de novembro (sexta e sábado, às 21h / domingo, às 19h) apresentações também pelas redes do Teatro João Caetano)

Grátis

Classificação indicativa: 10 anos 

Duração: 1h40 

 

 

 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

SONDHEIM, POR QUE NÃO?

 

O jornalista Sérgio Martins apresenta uma série aos domingos na Rádio Cultura FM intitulada Nos Passos da Broadway. Já passaram por lá, entre outros, Irving Berlin, Cole Porter, Richard Rodgers e Leonard Bernstein. No domingo, 03 de outubro de 2021, foi a vez de Stephen Sondheim (1930-), único ainda vivo dessas verdadeiras lendas dos musicais.


Sondheim tem em seu currículo cerca de vinte títulos, todos eles encenados na Broadway e no West End londrino.

Pouca gente sabe que são suas as letras das lindas canções de Leonard Bernstein para West Side Story (1957). Sondheim também escreveu as letras para Gipsy (1959, música de Jule Styne) e Do I Hear a Waltz? (1965, música de Richard Rodgers).

Primeira montagem inglesa - Londres 1958

No restante de sua obra Sondheim assina música e letra, como na fabulosa tríade criada no início dos anos 1970: Company (1970), Follies (1971) e A Little Night Music (1973), talvez seus títulos mais famosos.




Canções belíssimas como Good Thing Going, Being Alive, The Ladies Who Lunch, Losing My Mind, Pretty Women e a obra prima absoluta Send In The Clowns fazem parte de espetáculos do autor.

Curiosamente, mesmo com o boom dos musicais no Brasil, as peças de Sondheim têm presença rara em nossos palcos.

A primeira vez que ele aportou por aqui foi em um recital dirigido por Paulo Afonso de Lima no Rio Jazz Club em 1997 onde os quase estreantes Claudio Botelho e Claudia Netto interpretavam canções de suas peças e de trilhas de filmes.

Por iniciativa da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, Sondheim volta aos palcos do Rio de Janeiro e São Paulo em 2000 com a deliciosa Company, montagem que teve excelente rendimento cênico em um momento em que os musicais da Broadway ainda engatinhavam nos nossos teatros. O ator Reiner Tenente planeja uma nova montagem dessa peça desde 2017 cuja estreia deve ter sido adiada em função da pandemia da covid 19.

Só o Rio de Janeiro teve a oportunidade de assistir a outra iniciativa de Möeller e Botelho que foi Lado a Lado Com Sondheim em 2005, musical sem enredo com um alinhavo das canções do autor/compositor.

Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (1979) teve uma montagem semi amadora em 2007 realizada pela Casa de Artes Operária que contou com a participação de Saulo Vasconcelos e, ao que se sabe, foram pouquíssimas as apresentações no Teatro Brigadeiro. Uma montagem profissional dirigida por Zé Henrique de Paula com Rodrigo Lombardi no papel título estava prevista para estrear em 2020, mas foi adiada/cancelada (?) devido à pandemia da covid 19.

Uma montagem do musical infantil Into the Woods foi apresentada em São Paulo no extinto Teatro Brigadeiro no ano de 2010 com direção de Armando Bravi Filho e Felipe Senna.

Cabe ainda lembrar dos musicais nos quais Sondheim fez apenas as letras das canções e que foram apresentados em São Paulo: West Side Story (em 2008, com direção de Jorge Takla) e Gipsy (em 2010, com direção de Charles Möeller). Note-se que as versões das letras desses dois espetáculos foram realizadas por Claudio Botelho.


A conclusão é que, com exceção de Into the Wood, todas as outras montagens profissionais de musicais de Sondheim no Brasil tiveram, de uma maneira ou de outra, as presenças de Möeller e/ou Botelho.

A pergunta que fica é: Por que essa aparente falta de interesse de montar mais musicais de Sondheim no Brasil?

Os temas de suas peças são muito interessantes (A Little Night Music baseia seu roteiro no filme Sorrisos de Uma Noite de Amor de Ingmar Bergman; Follies tem o próprio teatro musical como tema e oferece papeis excelentes para atrizes/cantoras mais velhas; Assassins (1990) mostra figuras que assassinaram ou tentaram assassinar presidentes dos Estados Unidos; Passion (1994) é baseada no filme Passione d’Amore de Ettore Scola. Além dos temas, as canções são belíssimas e suas letras contam verdadeiras histórias.

Seria Sondheim muito sofisticado para o gosto médio do espectador brasileiro de musicais? Difícil de ser montado? Anticomercial? Jorge Takla, Miguel Falabella, Charles Möeller e Claudio Botelho devem ter opiniões sobre o assunto.

Stephen Sondheim, hoje com 91 anos, continua ativo e anuncia a produção de um novo musical intitulado Square One. Será que um dia essa peça chegará aos palcos brasileiros? 

04/10/2021