sábado, 12 de abril de 2025

CARNE VIVA


 Texto/interpretação, movimentação e visagismo do elenco/ cenário/adereços/figurinos/iluminação/trilha sonora/projeção de imagens. 

    Não é fácil harmonizar todos os elementos que compõem um espetáculo teatral. Essa é a função atribuída ao encenador (diretor) que muitas vezes negligencia um ou outro elemento prejudicando o resultado final.

    Luh Mazza revela uma notável maturidade na direção do texto de sua autoria em cartaz no SESC 24 de maio.

    Conheci o trabalho de Luh em 2016 quando assisti a “Kiwi”, dirigido por ela, depois assisti a uma versão virtual de “Carne Viva” em 2021, dirigida por Reginaldo Nascimento. Meu conhecimento profissional de Luh limitava-se a esses dois trabalhos, dai a minha surpresa com o alto nível da atual direção. Pesquisando sobre sua carreira tomei conhecimento dos muitos trabalhos realizados por ela nos vinte anos em que está na ativa.

    Quando assisti à versão virtual de “Carne Viva” escrevi algo que voltei a sentir ao presenciar esta versão no teatro e reproduzo o texto a seguir “O texto foi escrito por Luh Maza ainda adolescente e quando ainda atendia por Luciano. Realço isso porque é bastante importante saber que a virulência do texto contra o machismo e a sensibilidade da mulher que perpassam toda a ação da peça tenham brotado da imaginação de alguém que era visto como um rapaz. Isso só pode ter ocorrido porque, independentemente do corpo, a alma de Luh já era feminina.”

    Luh retrata o universo feminino com crueza, mas com delicadeza. Na versão atual Luh distribuiu o monólogo original para três atrizes.

    O espetáculo inicia com uma belíssima cena da silhueta das atrizes e daí em diante a beleza não abandona mais o palco. 

    A maturidade da direção está em conciliar os elementos citados no início desta matéria: o cenário formado por uma mesa com um espelho d’água de autoria da própria autora, a belíssima iluminação de Aline Santini, a potente trilha sonora composta pelo português Bruno Moraes, os figurinos pretos e brancos assinados por Telumi Hellen e Mari Morais, o visagismo assinado por Louise Helène e a precisa movimentação cênica das atrizes orquestrada por Bruna Longo.

    A tudo isso se somam aa interpretações das atrizes: Mawusi Tulani empresta sua bela voz para várias intervenções / Tenca Silva, que já havia causado grande impressão em Agro Peça, volta a brilhar com sua poderosa presença em cena / Christiane Tricerri põe sua grande sensibilidade à disposição da personagem que interpreta.


    Carne Viva é exemplo de teatro total onde todos elementos têm igual importância e se somam para resultar em um espetáculo magnífico.


    Fotos de Ariela Bueno

    CARNE VIVA está em cartaz no SESC 24 de maio até 20/04 com sessões às quintas (19h), sextas e sábados (20h) e domingos (18h). Sessão extra no dia 19 /04 (sábado) às 17h.


    12/04/2025


terça-feira, 8 de abril de 2025

CANÇÂO INDIGESTA


     Há 46 anos assisti “Mãos Sujas de Terra”, se não me engano no Teatro Aplicado, onde hoje é Teatro Bibi Ferreira. A peça de forte conteúdo social era produzida pelo recém fundado “Grupo Apoena” do Luiz Carlos Moreira. 

     O tempo passou, em 1993 o grupo passa a se chamar “Engenho Teatral” criando um teatro móvel para apresentar espetáculos em vários locais da periferia da cidade. Posteriormente o grupo se instala em um terreno da Vila Carrão e ali coloca de forma permanente seu teatro, sempre fiel ao seu posicionamento socio - político objetivando formação de público e apresentando espetáculos sempre voltados ao esclarecimento e à reflexão do público sobre os temas tratados.

     2025. Sempre fieis aos seus objetivos Moreira e Irací Tomiatto estão em cartaz com dois espetáculos Festa (aos sábados às 19h) e Canção Indigesta (aos domingos às 18h).

     Quem faz o simpático e caloroso acolhimento ao público é Moreira.

     A seguir entra-se no espaço cênico, onde uma mesa com comidinhas veganas, suco de melancia e cerveja nos espera. 

     “Canção Indigesta” questiona como os poderosos usaram a mídia e a publicidade para transformar necessidades dos cidadãos em desejos de consumo. Cinco intérpretes em cena vão desfilando os fatos, ora com raiva, ora com bom humor, colocando em primeiro plano um perdido e manipulado Zé Ninguém.

     A dramaturgia do espetáculo foi criada coletivamente e o texto final é de autoria de Moreira. 

     O elenco formado por Irací Tomiatto, Maria Clara Haro, Michelle Gabriolli, Dinho Hortêncio e João Victor de Morais se desdobra na interpretação das várias cenas e canta (muito bem!) as músicas compostas por Lucas Vasconcelos.

     A ida ao “Engenho Teatral” é um prazer sempre renovado e a certeza de assistir a um espetáculo que nos diverte e nos faz refletir sobre as mazelas contemporâneas.

     08/04/2025



segunda-feira, 7 de abril de 2025

EU FIZ POR MERECER


O TEMPO E O VERBO DE PLÍNIO MARCOS


 Amo os atores e por eles amo o teatro 

e sei que é por eles que o teatro é eterno

(Plínio Marcos)

Corrente da memória: então é assim, alguém que tem lembranças de fatos vividos no teatro e conheceu outros artistas resolve transmitir suas memórias para outras pessoas, as quais irão passar adiante essas histórias formando uma rede de preservação da MEMÓRIA DO TEATRO. 

Oswaldo Mendes, profundo conhecedor da vida e obra de Plínio Marcos (1935-1999), generosamente resolveu transmitir parte desse conhecimento por meio dessa  deliciosa e comovente “quase” revista musical onde ele reconta histórias das quebradas do mundaréu.

Em cenário simples e bonito de Carlos Palma, os veteranos e experientes Oswaldo Mendes e Walter Breda juntam-se ao surpreendente Fernando Rocha para narrar as histórias, como também emprestam suas vozes para as falas do repórter do tempo mau que foi a ditadura brasileira.


       De lambuja interpretam belas canções que ilustram aquilo que está sendo contado. 

Tudo acontece de maneira informal e espontânea para a fruição do público.

Aquelas e aqueles que fazem e/ou amam teatro vão rir e chorar com esse delicioso espetáculo.


        Próximas apresentações:

Espaço Barra-SP

       Rua Barra Funda, 519

       próximo ao Metrô Marechal 

       Sábado, 12 de abril, 20h

      Domingo, 13 de abril, 18h

      Grátis


NÃO DEIXE DE VER!


07/04/2025


sábado, 5 de abril de 2025

LADY

     Os palcos paulistanos têm o privilégio de ter em cartaz no momento dois importantes espetáculos que dialogam entre si trazendo ao público um pouco da memória (tão desprezada!) das nossas artes.

      Enquanto Othon Bastos dá uma aula de teatro falando de sua carreira no SESC 14 Bis, Susana Vieira repassa sua vida e trajetória na televisão brasileira no recém estreado “Lady” no Teatro Vivo. Cada um à sua maneira.

Em “Lady” uma atriz se prepara para interpretar Lady Macbeth na peça de Shakespeare e conversa com o público nos intervalos dos ensaios. O bem elaborado roteiro de Vana Medeiros intercala cenas da tragédia com momentos da vida e da obra de Susana proporcionado ao público duas horas de bom teatro.

Susana tem completo domínio do palco tanto quando assume ares shakespearianos ao criar cenas da tragédia como na espontaneidade ao falar de sua vida e de sua trajetória na televisão brasileira. Susana é irreverente e debochada na medida certa, criando uma rara empatia com o público que a acompanha com um brilho nos olhos.

Há muita sinceridade em seus relatos, não poupando críticas a situações e pessoas (sem nominá-las) e falando abertamente sobre doença e seu relacionamento tóxico com o último companheiro. Susana comove e faz rir, dependendo do caso.

Em certo momento a atriz cita Dulcina, Tônia Carrero, Bibi Ferreira e Marília Pêra, grandes inspiradoras para ela; aliás cabe lembrar a semelhança dela com Marília na dosagem certa de humor, deboche e ironia em seus trabalhos, algo raro mesmo nas melhores atrizes brasileiras.

“Lady” é criado por um verdadeiro trio de ouro feminino: Vana Medeiros como autora, Leona Cavalli como diretora e Susana Vieira brilhando como atriz.

O TRIO DE OURO: Vana, Susana e Leona

O papo ao final do espetáculo só comprova a simpatia e a espontaneidade de Susana. Cheguei até a contar a ela que a tirei para dançar em um daqueles baile de formatura tão comuns nos anos 1960. Ela era uma jovem muito bonita com um vestido rodado branco lembrando aquele modelo de Maria no baile de “West Side Story” e já tinha uma certa fama participando da “TV de Comédia” na TV Tupi. Eu, um jovem bobinho terminando o colegial criei coragem e a tirei para dançar. E ELA ACEITOU!!!

E saímos rodando pelo salão ao som dos boleros tocados pela orquestra do Enrico Simonetti e sob os olhares incrédulos de meus colegas de colégio: “Olha, o Zé está dançando com a Susana Vieira!”


LADY está em cartaz no Teatro VIVO de quinta a sábado às 20h e domingos às 18h.

DELÍCIA DE EPETÀCULO!!

05/04/2025


sexta-feira, 4 de abril de 2025

TUDO ACONTECE NUMA SEGUNDA FEIRA DE MANHÃ

 

Vinicius Piedade é um artista inquieto sempre procurando retratar em cada nova obra as mazelas da nossa sociedade. 

Nessa trilogia que ele chama de “Pessoas trabalhando” e que inicia com a presente peça, ele põe em foco a perversidade que pode estar presente em uma entrevista para admissão a um emprego. Pode ser um jogo terrível entre dominador (o entrevistador) e dominado (o candidato) e sempre acontece às segundas feiras, dia da semana que as empresas, normalmente, dedicam à seleção de pessoal.

Sabiamente o dramaturgo situa a ação em área que lhe é familiar, uma entrevista de teatro: um ator pleiteia um papel numa peça. O jogo de rato e gato está formado e Vinicius brinca com a situação fazendo um exercício de meta teatro saborosíssimo dando chance para atuações marcantes ao elenco, formado por ele mesmo e Evas Carretero.

São duas cenas distintas onde cada um assume uma ou outra função e dentro da mesma cena pode haver troca de papeis. Pode parecer complicado, mas na representação isso é um prazeroso exercício para o espectador que se mantém atento e curioso até o final.

A diretora Silvana Garcia foca toda a sua atenção no vigoroso embate entre os atores que acontece em um palco quase vazio iluminado por César Pivetti.

Todo destaque para as interpretações vigorosas e apaixonadas de Vinicius Piedade e Evas Carretero que se saem muito bem tanto na agressividade e prepotência do dominador como na passividade e obediência do dominado. As reações mudas de Carretero às ações de seu opositor são um espetáculo à parte.

TUDO ACONTECE NUMA SEGUNDA FEIRA DE MANHÂ está em cartaz apenas até domingo (06/04) no Itaú Cultural com sessões de quinta a sábado às 20h e no domingo às 19h. Em maio volta ao cartaz para mais cinco sessões na Biblioteca Mário de Andrade. 

È muito pouco para espetáculo tão bom. Por isso, programe-se!

        Fotos de Danilo Ferrara

04/04/2025


terça-feira, 1 de abril de 2025

UM TARTUFO e A MAGIA DO TEATRO


     A “Companhia Teatro Esplendor” do Rio de Janeiro para comemorar seus 15 anos de existência resolveu montar um clássico do teatro francês escrito em meados do século XVII: Tartufo de Molière (1622-1673). 

     Nos ensaios o diretor Bruce Gomlevsky propôs ao grupo que improvisasse as cenas sem se ater ao texto escrito, recurso bastante usado nesse estágio do processo criativo.

     Algo que ninguém esperava é que essas improvisações evoluíram de tal maneira que estavam superando o que poderia resultar em uma montagem tradicional. 

     Só a magia do teatro e o talento e a criatividade daqueles que o fazem podem explicar o resultado arrebatador desse processo: UM TARTUFO! 

     Gomlevsky transformou um clássico em um dos espetáculos mais radicais e contemporâneos que os nossos palcos já viram, sem ser infiel ao conteúdo original, mas recriando-o e atualizando deixando claro os perigos do fanatismo e da crença em falsos mitos ,tão em voga no Brasil de hoje.

     O impacto visual do início remete às encenações de Tadeuz Kantor (em especial a “A Nossa Classe”) para enveredar, a seguir, para o expressionismo alemão. estética que acompanha todo o espetáculo, nas cores dos figurinos, do cenário e na caracterização do elenco. A potência da encenação é reforçada pela trilha sonora realizada a partir das músicas do compositor esloveno Borut Krzisnik  que evolui junto com a movimentação corporal precisa do elenco. O resultado é eletrizante.

     A história do fanático e servil Orgonte e do seu explorador, o falso monge Tartufo, é contada sem uma única palavra e torna-se compreensível mesmo para quem não conhece o original de Molière.

     Em uma coreografia precisa e harmônica o elenco movimenta-se no palco de maneira brilhante.

     Pela importância dos papéis de Orgonte (Gustavo Damasceno que já havia interpretado “Outra Revolução dos Bichos”) e de Tartufo (impressionante caracterização de Yasmin Gomlevsky) tornam-se os destaques, mas é importante ressaltar a excelência de Thiago Guerrante, Ricardo Lopes, Victoria Reis, Glauce Guima, Lucas Garbois e Gustavo Luz nos demais papéis.

     “Um Tartufo” não é apenas para ser recomendado pelas suas inúmeras qualidades, mas para alertar que se trata de uma experiência poucas vezes vista em nossos palcos e que deve obrigatoriamente ser vista por aqueles que se interessam pelos possíveis caminhos das artes cênicas.

     A peça cumpriu uma curta temporada em quatro fins de semana no Teatro D Jaraguá, mas urge que volte ao cartaz em São Paulo pelo seu alto valor artístico e renovador.

     31/03/2025


domingo, 30 de março de 2025

GENTE É GENTE?



UM POUCO DE HISTÓRIA, NÂO FAZ MAL A NINGUÉM

     Um homem comum é seduzido e manipulado pelo poder, pelo dinheiro e pela ideologia da guerra. Em 1925, época difícil da entre guerras na Alemanha, Bertolt Brecht (1898-1956) escreveu “Um Homem É Um Homem” mostrando a transformação que o cidadão Galy Gay sofre por não saber dizer não e não ter opinião própria. A peça foi montada em São Paulo em 1971 com direção de Emílio Di Biasi e em 2006 com o Grupo Balcão, dirigida por Paulo José.


2025

     Claudia Barral transforma a Viúva Begbick na cafetina Amorosa, Galy Gay no motorista de aplicativo Gesualdo Brilhante que à vista de todos se transforma em Jeremias Leite devido ao assédio dos militares. O homem pacífico sai de casa para comprar peixe e se torna um soldado, tão sanguinário como seus colegas; isso tudo em cenário carnavalesco bem brasileiro. Qualquer semelhança com a manipulação sofrida por parte do povo brasileiro em tempos recentes, não é mera coincidência, afinal também estamos numa entre guerras, sabe-se lá o que nos espera em 2026!  O texto de Barral é contemporâneo, mas não trai a estrutura da peça de Brecht que lhe inspirou. Sabiamente, no título, ele trocou “homem” por “gente” e colocou um instigante ponto de interrogação ao final.

     O cenário formado por emaranhado de fios de Márcio Medina, os figurinos de Cássio Brasil e a saborosa trilha sonora de Zeca Baleiro formam o tripé que colabora com a direção colorida e contagiante de Marco Antonio Rodrigues.

     O bom elenco completa a encenação, com boas cenas de grupo com destaque para Dagoberto Feliz, Paulo Américo como Gesualdo/Jeremias (ele divide esse papel com Ailton Graça) e todas as honras para mais uma memorável interpretação da Nábia Villela, emprestando sua potente voz e sua presença cênica para compor a cafetina Amorosa (papel que foi de Cleyde Yáconis em 1971).

     "Gente É Gente?" faz jus a toda boa encenação que carrega como inspiração o dramaturgo Bertolt Brecht, divertindo, mas fazendo pensar sobre os desmandos da contemporaneidade.


     GENTE É GENTE? está em cartaz no SESC Vila Mariana dec29 de março a 04 de maio de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 18h.


     30/03/2025


sexta-feira, 28 de março de 2025

NÃO ME ENTREGO, NÃO!

 



     A exceção confirma a regra, há trinta atrizes brasileiras de talento nascidas no século XX para cada ator com as mesmas qualidades. Procure enumerar de memória os nomes delas e deles e veja se não tenho razão. 

     Ao fazer esse exercício com certeza um dos primeiros nomes masculinos a surgir é o de Othon Bastos. Sua trajetória tão bem contada no presente espetáculo começa em 23 de maio de 1933, dia em que nasceu na cidade de Tucano, na Bahia passando por fases da vida e por espetáculos importantes do qual participou.

     Othon Bastos entregou para Flavio Marinho uma sacola de supermercado com documentos, fotos, programas que fizeram parte de sua trajetória. Marinho elaborou um sofisticado texto teatral introduzindo a figura da Memória que ajuda o ator a contar sua história de maneira lúdica e bem humorada. São quase duas horas de puro prazer diante dessa lição de teatro e de vida.

     Pessoalmente, a primeira vez que me vi diante desse grande ator não foi ao vivo, mas através do cinema. Othon brilhava como Corisco em “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) de Glauber Rocha ao responder à chamada de Antônio das Mortes: “Se entrega Corisco!” com “Eu não me entrego, não”, que cabe tão bem como título deste espetáculo.

     Foi no Teatro Oficina que percebi o seu grande talento, primeiro em um papel secundário (Segredo) em “Galileu Galilei” (1968) e depois na explosão de “Na Selva das Cidades” (1969) onde se digladiava em cena com outra exceção, o grande Renato Borghi.

     A partir daí foram muitos os trabalhos no cinema e no teatro relembrados por Othon, citando grandes figuras que o dirigiram e aquelas com quem contracenou. Citou Zé Celso Martinez Corrêa, para ele o maior diretor do teatro brasileiro. Em momento particularmente emocionante a Memória vai citando nomes e ele responde com “Presente!”. Difícil conter as lágrimas.

     O recurso dramatúrgico da Memória é bom, mas o ator poderia prescindir disso pois tem uma lucidez e uma memória impressionantes; louve-se também sua garra e vitalidade em cena, chegando até a ensaiar alguns passos de dança, quando como Lopakhine comemora a compra de jardim das cerejeiras na peça de Tchekhov encenada no Rio de Janeiro em 1990.

     Juliana Medela tem presença marcante como a Memória, alinhavando com humor as várias fases da vida de Othon. 

     Quanto à interpretação de Othon Bastos, haveria necessidade de muitas laudas para louvar sua carismática presença em cena.

     O cenário da peça reproduz grandes momentos da carreira de Othon Bastos no teatro e no cinema.

     Não tenho dúvida em afirmar que estamos diante de um dos mais importantes espetáculos do nosso teatro, que deveria fazer parte do currículo dos cursos de pós graduação de toda escola de teatro que se preze.

     Repito: É UMA GRANDE LIÇÂO DE TEATRO E DE VIDA

     Um rápido bate papo com Othon Bastos ao final do espetáculo mais uma vez comprovou sua simpatia, sua lucidez e sua memória sobre os grandes espetáculos de sua carreira.





     A peça está em cartaz no SESC 14 Bis apenas até 21 de abril com sessões de quinta a sábado às 20h e domingos às 18h. Sessão no dia 21/04 às 15h.

     A informação é que todas as sessões estão esgotadas, mas não perca a esperança, vá até lá e lute por um lugar ao sol.


     

28/03/2025


domingo, 16 de março de 2025

A GAIVOTA MITsp 2025



1, A título de introdução

     Anton Tchekhov (1860-1904) é um autor bastante frequente nos palcos paulistanos. Nos meus registros ele comparece pela primeira vez em 1972 com a agônica versão de “As Três Irmãs” realizada por José Celso Martinez Corrêa e a partir daí foram mais de quarenta espetáculos com textos de sua autoria, ou adaptações dos mesmos e a peça mais escolhida pelos encenadores é “A Gaivota”, talvez por tratar também de assuntos relativos às artes cênicas.

     Entre as montagens mais bem sucedidas desse texto é necessário lembrar daquela inesquecível dirigida por Chiquinho Medeiros em 1994, de “Da Gaivota” de 1998, dirigida por Daniela Thomas e da memorável adaptação realizada por Enrique Diaz em 2007, com o sub título de “Tema Pra Um Conto Curto”.


     2. A Gaivota dirigida por Guillermo Cacace na MITsp 2025

     E estamos diante de mais uma adaptação memorável do texto de Tchekhov, talvez a mais radical, e com a capacidade de nos deslumbrar e tirar do chão como toda verdadeira obra de arte. Quem assina a adaptação é Ignacio Fernandez.

     Cinco atrizes sentadas em uma mesa, cercadas de espectadores por todos os lados interpretam as cinco personagens principais da peça: a matriarca Arkádina, seu filho Kóstia, a criada Masha, Boris Trigorin, namorado de Arkádina e Nina, a moça com pretensão de ser atriz.

Arkádina e Kóstia

Masha

Boris Trigorin

     Classificar a interpretação das cinco atrizes de excepcional é pouco. Trata-se de uma verdadeira aula da arte de interpretar pouco vista em nossos palcos. São sempre as mulheres as verdadeiras joias do teatro. Desconhecendo a relação atriz/personagem, apenas cito os nomes delas: Raquel Ameri, Marcela Guerty, Clarissa Korovsky, Romina Paduan e Muriel Pago. Todas maravilhosas, sem distinção.

     A direção do argentino Guillermo Cacace é precisa e concentra toda a atenção no trabalho das atrizes, sem descuidar da ótima trilha sonora presente nos intervalos da ação e da iluminação da cena.

     Ao se ouvir o tiro que anuncia a morte de Kóstia e o final da peça, a ação continua por alguns momentos além do original de Tchekhov permitindo mostrar o desespero de Arkádina diante do filho morto. 

     As luzes da plateia acendem, as atrizes permanecem com o semblante trágico do fim da peça. Por quase cinco minutos o público permanece em silêncio se solidarizando com a dor daquelas personagens. Com os primeiros aplausos as atrizes saem das máscaras das personagens e agradecem a ovação do público.

     Se a MITsp tivesse trazido apenas este fantástico espetáculo e o moçambicano “Vagabundus” já teria cumprido o seu papel.

     A peça está sendo encenada na cúpula do Theatro Municipal. São apenas 120 lugares e tem muita gente da fila da espera frustrada por não conseguir entrar, por isso vale a pena ir mais cedo para conseguir assistir a este verdadeiro tesouro do teatro.

     Últimas sessões nos dias 17 e 18 às 19h.


     Notas:

     - Havia muitas pessoas do SESC presentes. Quem sabe eles se inspiram pra trazer esse espetáculo para uma temporada maior ou talvez no Mirada de 2026.

     - Outra ideia seria uma montagem local dessa criativa adaptação/encenação.

     - Minha posição em relação à atriz não permitiu que eu fotografasse Nina.

     

16/03/2025


segunda-feira, 10 de março de 2025

O SONHO AMERICANO

 

     Em boa hora, em 2025, nossas artes voltam a se exprimir para denunciar os desmandos da ditadura militar que dominou o país por mais de 20 anos e para alertar sobre os perigos da ascensão da extrema direita e do bolsonarismo que estão rondando por aí querendo a volta da ditadura.

     No cinema foi a vez de “Ainda Estou Aqui”. No teatro já vimos “O Ninho” de Newton Moreno, “Verme” de Luiz Campos, “O Sonho Americano” de Luiz Carlos Checchia e em maio teremos a estreia de “Lady Tempestade” de Silvia Gomez inspirado nos diários de Mércia Albuquerque, professora primária e advogada pernambucana que lutou contra a ditadura, auxiliando presos políticos e denunciando a famigerada tortura que corria solta nos porões militares.

     Esses espetáculos dignificam o ser humano, sendo  libelos contra a barbárie.

     Se eles forem capazes de abrir os olhos de uma parte da população que ainda chama aquele ser abominável de mito, estarão cumprindo com honra e coragem o seu papel na história deste país.


     Sobre “O Ninho” e “Verme” já escrevi a respeito, “O Sonho Americano” está em cartaz no aconchegante Teatro Studio Heleny Guariba, conservado há tantos anos pela guerreira Dulce Muniz.


     Escrito e dirigido por Luiz Carlos Checchia, “O Sonho Americano” mostra os estragos que a ditadura provocou no seio de uma família unida e aparentemente feliz: um sobrinho muito querido pede abrigo da casa da tia e da prima e revela que corre perigo porque participou da luta armada (a ação se passa nos terríveis anos 1970). A prima que ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, vê seu sonho americano ameaçado pela presença do primo e acaba o denunciando para os órgãos da repressão. 

     A peça de Checchia tem um início brilhante com diálogos ágeis bem construídos entre a tia, o sobrinho e a prima. Na segunda parte os agentes da repressão vêm até a casa e expõem suas truculências até a exaustão alongando desnecessariamente a peça, pois o público já percebeu as figuras odiosas que eles são. Em uma espécie de epílogo há ainda uma confissão melodramática da mãe para a filha.

     Um elenco coeso interpreta de forma naturalista as cinco personagens da peça: Cristina Bordin interpreta com muita garra a mãe/tia que tem uma posição definida em relação à política; Camila Costa Melo é a filha/prima e apesar de exagerar nas expressões faciais tem um bom desempenho exteriorizando suas dúvidas em relação à posição tomada (a delação); Gabriel Santana é o primo Bento, pivô de toda a trama e o faz com muito talento, além de ser uma bela presença em cena; Rubem Pignatari tem garra ao interpretar o truculento agente da repressão e Flávio Passos é um investigador gago que usa métodos mais científicos para lidar com suas vítimas.

     O cenário da peça é a sala da casa coberta de molduras com fundo preto que podem representar o luto ou a tentativa de esconder o passado.

     No meu ponto de vista um corte de alguns minutos na cena dos repressores faria muito bem para o resultado final.

     Vamos relembrar o passado e lutar para que suas coisas más não se repitam! LEMBRAR É RESISTIR!


     O SONHO AMERICANO está em cartaz no Teatro Studio Heleny Guariba até 390 de março aos sábados às 20h e aos domingos às 19h.


     10/03/2025


domingo, 9 de março de 2025

VERME

     É preciso por o dedo na ferida e raspar.

    Foi isso que Luiz Campos, da Cia. Los Puercos, fez com muita coragem ao narrar a sua dolorosa experiência durante os sete anos em que esteve no militarismo em um texto poderoso de teatro documentário. Ele mostra sua infância, o sonho romântico de ser soldado e a decepção com a carreira militar ao presenciar tanta agressão, tanta autoridade tacanha e tantas injustiças. Ao se desligar do exército o autor optou pela carreira teatral.

     Texto bastante potente e corajoso recebeu uma tradução cênica irregular onde pouco se sente sua potência e coragem. Técnicas de teatro documentário, como projeções de documentos, narrações e não só interpretações dos atores, ficaram em segundo plano enfraquecendo o resultado final. Problemas de ritmo na apresentação a que assisti também comprometeram a fruição do espetáculo.

     Luiz como protagonista da própria história alcança um bom resultado interpretativo, fato que não acontece com os outros intérpretes, principalmente com as duas atrizes que não têm o tipo físico indicado para os seus papéis. Conheço o talento de Giovanna Marcomini de outras montagens, no entanto aqui, ao interpretar um truculento chefe militar, ela não rende em cena, tanto por seu tipo físico como pelo caráter naturalista dado à personagem.

     Esses senões, todos passíveis de eliminação, não impedem que se recomende o trabalho, realizado com cuidado profissional e muita dignidade. E mais que isso, muito necessário nestes tristes dias em que vemos a truculência da extrema direita batendo à nossa porta.

     Ah! Não custa lembrar que foi uma criança que usou o nome que dá título à peça para definir um militar autoritário.

VERME está em cartaz na Casa de Teatro Maria José de Carvalho às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 19h até 30 de março.

09/03/2025



sábado, 8 de março de 2025

DAS TRIPAS: SETE HISTÓRIAS

     Mesmo que se conheça o talento dos grandes artistas, eles sempre têm a capacidade de nos surpreender e nos tirar do chão. É assim com Mariana Muniz e Clara Carvalho a cada novo trabalho que trazem à luz. 

     Agora nos apresentam esse belo espetáculo a partir dos contos da escritora pernambucana Ezter Liu, que deve se inspirar em casos reais vividos em sua profissão de policial. Mariana interpreta e Clara dirige.

Escritas na terceira pessoa, as histórias são narradas pela atriz ao mesmo tempo em que ela as interpreta com seu gestual poderosíssimo: presenciamos em cena ao milagre de uma só pessoa narrar com a voz, ao mesmo tempo que interpreta com o corpo.

Uma pequena mudança nos cabelos ou no figurino (belo e funcional de Marichilene Artisevskis) é suficiente para que Mariana migre de uma para outra história.

A delicadeza de Clara Carvalho está presente na sensível direção que foca toda a atenção no trabalho da atriz, valendo-se de um espaço cênico quase vazio criado por Júlio Dojscar, pela bela iluminação de Wagner Pinto e pela poderosa trilha sonora de autoria de Mau Machado que pontua a movimentação da atriz nas passagens de uma história para a outra.

Esse trabalho já havia sido apresentado virtualmente em junho de 2021, durante a pandemia, mas agora mostra todo seu esplendor ao vivo, com a presença do público, renascendo e morrendo a cada apresentação como tem de ser o verdadeiro teatro.

Quem viu no virtual talvez não tenha se deslumbrado com as formigas dizimando a casa da Dona Rosa e outros tesouros que só o teatro pode oferecer. Confira!!

DAS TRIPAS: SETE HISTÓRIAS está em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso em curtíssima temporada até 16 /03 às sextas, sábados e domingos às 19h.

NÂO DEIXE DE VER!

08/03/2025


quarta-feira, 5 de março de 2025

NORA E A PORTA


Foto de Angelica Prieto

UM DILÚVIO DE TALENTOS:

- Um bando de mulheres: Marina Corazza (autora), Sandra Corveloni e Maristela Chelala (diretoras), Adriana Mendonça e Rita Pisano (atrizes), Gabriele Souza (iluminadora), Anne Cerutti (cenógrafa e figurinista),

- Muito bem acompanhadas por alguns homens: Anderson Negreiro, André Garolli, Heitor Goldflus (atores) e um “tal de” Henrik Ibsen, autor da peça “Casa de Bonecas” que inspirou o espetáculo.


Ibsen (1828-1906) escreveu “Casa de Bonecas” em 1879, provocando grande polêmica ao denunciar a situação da mulher na sociedade burguesa da época e concluir a peça com a libertação da protagonista Nora ao abandonar o lar batendo a porta em sua saída.

Quase 150 anos depois a causa feminista ainda precisa ser defendida. Marina escreveu o lúcido e belo texto de “Nora e a Porta”, ora citando a obra do dramaturgo norueguês, ora narrando os fatos, ora os interpretando e ora colocando atrizes e atores como eles mesmos improvisando sobre a situação mostrada na peça ( na verdade  estas cenas foram improvisadas nos ensaios para a seguir serem incorporadas ao texto). Marina juntou essa miscelânea de formas de maneira harmoniosa criando um dos seus textos mais bem realizados.

Maristela e Sandra fizeram a transposição cênica desse tesouro dramatúrgico com muita criatividade, haja vista a uniformidade das interpretações e cenas como a festa à fantasia do segundo ato (belamente iluminada por Gabriele) e a cena estática do terceiro ato. A colaboração de Anne na cenografia “clean” e nos figurinos é digna de nota.

Adriana empresta vigor a na interpretação da amiga de Nora e Rita  que vem acumulando boas interpretações tem aqui talvez a mais marcante de toda sua carreira, oscilando entre a firmeza e a insegurança da personagem Nora, narrando com o devido distanciamento certas cenas e incorporando santos e demônios na frenética dança na festa à fantasia.

Em peça tão feminista, não há mal em deixar os homens por último: Heitor  tem bons momentos como o agiota Roberto; Anderson  mostra sua versatilidade como ator ao interpretar o elegante amigo Rodrigo, que o diga seu último trabalho em “Mário Negreiro” e  Garolli também mostra sua versatilidade ao interpretar o marido Marcelo que chega a se fantasiar de super homem na festa e até a ensaiar alguns passos de dança propositalmente desajeitados. Na ala masculina cabe lembrar da excelente trilha sonora garimpada por Rafael Thomazini que inclui até a imbatível “My Funny Valentine” de Rodgers e Hart.

Nora e a Porta é um espetáculo a que se assiste com muito prazer e faz pensar sobre a situação da mulher na sociedade contemporânea, ali autoria, direção, atuação, luz, cenografia, figurinos e trilha sonora somaram-se de forma perfeita.

Grande momento desta temporada de 2025

A peça está em cartaz no Espaço Cênico do SESC Pompeia até 21 de março de terça a sexta às 20h30.

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL

05/03/2025


domingo, 2 de março de 2025

OS IRMÃOS KARAMÁZOV


     Em matéria publicada na “Folha de S. Paulo” em 27/02/2025, o jornalista comenta que se trata da “primeira adaptação teatral no país” do romance de Dostoievski, talvez por desconhecer a memorável montagem de 2014 dirigida por Ruy Cortez a partir da adaptação realizada por Luís Alberto de Abreu e Calixto de Inhamuns.

     Sem querer comparar, mas comparando, a primeira montagem leva muitas vantagens em relação a esta estreada a pouco no SESC Pompeia, principalmente no que se refere à adaptação teatral de obra tão gigantesca, complexa e profunda. Recortes são necessários e aqui na tentativa de abarcar o máximo possível o resultado é superficial. Trechos essenciais da obra como “O Grande Inquisidor” e o julgamento pela morte do pai Fiódor resultam quase como cenas de passagem.

     É difícil escrever sobre a montagem na ausência de um programa, quer seja impresso, quer seja disponível via QRcode, ou mesmo um release. Sem a ficha técnica fica difícil relacionar intérprete com personagem.

     Trata-se de um espetáculo histérico (opção da direção de Caio Blat e Marina Vianna) com o elenco gritando e correndo o tempo todo, desde a primeira cena com uma incômoda longa fala de Fiódor, o pai.

     Em espetáculo tão barulhento os poucos e raros momentos de silêncio soam como um bálsamo para o espectador.

     Do elenco irregular cabe destacar o belo trabalho de Pedro Henrique Muller que representa Smierdiakóv e Catierina, em duas composições surpreendentes. Diga-se de passagem, que é o único que não grita em cena.

     A bela interpretação de Luisa Arraes como Dmitri fica comprometida por gritar e atuar “over” o tempo todo e o vigor de Caio Blat (Ivan) fica prejudicado principalmente na cena do grande inquisidor devido à superficialidade com que o assunto foi tratado na adaptação, realizada por ele e Manoel Candeias

     O doce e tímido Aliocha tem interpretação também tímida de Nina Tomsic.

     A personagem tão forte de Groshenka é prejudicada pela interpretação histérica e gritada de Sol Miranda, assim como a de Fiódor (Babu Santana).

     O teatro do SESC Pompeia não é tão grande e acredito que a peça esteja micro fonada, então não posso deixar de questionar: POR QUE GRITAR TANTO? Ouvi essa pergunta vinda de muitos dos espectadores na saída do teatro.

     Os embates filosóficos entre os irmãos Dmitri (hedonista), Ivan (intelectual, ateu) e Aliocha (místico e puro) aparecem aqui e acolá, quando na verdade são a razão de ser da grandiosa obra de Dostoievski.

     Cenário e figurinos brancos dão toque de delicadeza ao espetáculo até o momento em que eles são manchados de sangue.

     Boa participação da dupla de músicos (Arthur Braganti e Thiago Rebello) e de duas leitoras de libras que se incorporam à ação.

     Mesmo com esse senões treita-se de um espetáculo digno que merece ser assistido.

     OS IRMÃOS KARAMÁZOV está em cartaz no SESC Pompeia até 30/03 com sessões de quinta a sábado às 20h e domingos às 17h.

       02/03/2025


domingo, 23 de fevereiro de 2025

CLAUSTROFOBIA REDUX



     Circulando entre a portaria, os corredores e o elevador de um prédio dois homens e uma mulher destilam suas frustrações e preconceitos no dia a dia do local. Eles são o porteiro e o ascensorista do prédio e ela é Stella, uma executiva esnobe que vai iniciar seu trabalho no 16º andar. O dramaturgo Rogério Correa se utiliza desses três personagens para falar de solidão, preconceito e incomunicabilidade nas grandes cidades, sempre com a ironia e o humor ácido muito comuns em seus outros trabalhos. Raramente essas criaturas dialogam, mas passam o tempo todo ruminando seus anseios e frustrações.

     Poucos textos de Corrêa chegaram a São Paulo (“Boy” e “Renoir – A Beleza Permanece”) sempre em temporadas relâmpagos e este é também o caso de “Claustrofobia” que teve apenas quatro apresentações na simpática e bonita Arena [B]³ dentro do prédio da Bolsa de Valores no centro da cidade. Trata-se de um excelente trabalho e urge que ele retorne à cidade para uma temporada regular. Atenção SESC!

     Cesar Augusto que já havia dirigido outro texto de Corrêa (“Entre Homens”) dirige o espetáculo focando toda a atenção no trabalho do ator. 

   Em comum acordo, autor, diretor e ator optaram por concentrar as três personagens em um único intérprete.

   Todos os holofotes direcionados para o ator Márcio Vito em uma das interpretações mais marcantes deste início de temporada. Marcio se reinventa em cena a cada mudança de personagem apenas com pequenas modificações na emissão da voz e no gestual, em um domínio cênico poucas vezes visto em nossos palcos. Esse domínio ficou patente quando um incômodo microfone insistia em sair de sua meia até que ele desistiu e simplesmente o descartou, continuando com sua impecável atuação.

     Quem viu, viu...

23/02/2025


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

EU SOU THELMA E ELA É MINHA LOUISE

    

 Thelma e Louise é um filme icônico do início dos anos 1990, época onde ainda pouco se falava da liberdade das mulheres. As duas amigas saem ema viagem onde enfrentam a sociedade machista, mas elas assumem, à sua maneira, o controle da situação até optarem por um destino apocalíptico, esse final é um dos mais impactantes de toda a história do cinema.

     Amigas também na vida real e companheiras na RIMA Coletiva, Rita Batata e Mariana Leme inspiram-se no filme de Ridley Scott para compor esse bonito libelo da amizade e da liberdade, escrito por Rita e dirigido por Mariana. Teatralmente falando, trata-se de um excelente exercício para duas atrizes e elas sabem tirar muito proveito desse exercício, oferecendo um ótimo espetáculo para o público.

     O texto de Rita passeia por vários tempos e coloca em cena duas gerações de mulheres (Vera e sua filha Teresa e Madu e sua filha Luiza) que falam sobre suas vidas e citam em várias ocasiões cenas do filme Thelma e Louise. Tudo vai se aglutinando até um final quase tão apocalíptico como o do filme.

     A direção de Mariana é sóbria, focando nas interpretações, mas também oferece momentos de rara beleza visual como a cena inicial com o pano vermelho.

     A peça está em cartaz apenas por três dias (19, 20 e 21de fevereiro) na Funarte às 20h.

     CORRA PRA VER, pois é um ótimo trabalho dessas duas atrizes, que merece ser prestigiado e admirado.


     20/02/2025