É realmente
gratificante para um espectador que assiste teatro há quase sessenta anos
quando ele se surpreende com algo ou alguém precioso que ele não conhecia, nem
tinha ouvido falar.
Foi isso que ocorreu
ontem ao assistir a A Dócil, apresentada dentro do bem vindo Abismos
de Dostoiévski, projeto idealizado por Marlene Salgado e Elena Vássina, que
vem sendo transmitido nesta semana pelo canal do YouTube do Centro Cultural São
Paulo.
A Dócil é, segundo Dostoiévski, uma narrativa fantástica que retrata o pensamento de um usurário horas antes
do enterro da jovem esposa que se suicidou.
O sugestivo tratamento
audiovisual dado pela direção, assinada por Ondina Clais e Ruy Cortez, dinamiza
e ilustra o monólogo do personagem, além de embelezar a ação. Talento e
criatividade de dois grandes artistas a serviço desse importante texto de
Dostoiévski.
O que me deixou
boquiaberto foi a interpretação de Marina Nogaeva Tenório de quem, a princípio,
eu não tinha nenhum conhecimento. Após alguma pesquisa notei que ela dirigiu A
Semente da Romã e Katierina Ivanovna junto com Ruy Cortez e
que nasceu em Moscou, tendo passado boa parte da infância e adolescência entre
Brasil e Rússia. Estudou direito no Brasil e teatro na Rússia e hoje dedica-se
ao teatro, à dança e à tradução de obras literárias russas. Como se pode notar,
um currículo invejável.
Reconheço que é difícil concluir sobre o talento de um intérprete ao presenciar apenas um trabalho do mesmo, mas a intensidade e a potência demonstrada por Marina em A Dócil me fazem intuir que estamos diante de uma grande atriz que muito pode oferecer ao nosso teatro.
23/04/2021
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