terça-feira, 20 de julho de 2021

A HISTÓRIA DE BAKER

 

São bonitas as canções” entoa Chico Buarque na linda Choro Bandido, que ele compôs em parceria com Edu Lobo. Parafraseio Chico ao escrever que “são bonitas as histórias” que Cristiane Zuan Esteves nos conta para relatar como criou esta instigante A História de Baker.

Tudo começa nas ilhas Fiji há alguns séculos quando o missionário Thomas Baker (1832-1867) foi assassinado e devorado por elementos de uma tribo. Em 2003, descendentes dos chamados “canibais” realizaram uma cerimônia de desculpas para os colonizadores. Este fato indignou Cristiane que fez pesquisas a respeito do nome Baker e colocou em uma pasta intitulada “CANIBAIS” pretendendo fazer um trabalho sobre. Os anos passaram e a pasta ficou esquecida, até que em 2013 a dramaturga teve um problema no joelho que foi diagnosticado como Cisto de Baker. Coincidência ou não, estava aí a razão para retomar a pasta e escrever sobre todo Baker que lhe aparecesse pela frente (pessoas, lugares ou fatos). O pano de fundo seria sempre a denúncia da exploração dos colonizados pelos colonizadores, dos oprimidos pelos opressores, dos devorados pelos devoradores.

O espetáculo concebido para o palco e revisto para o formato digital é apresentado no melhor estilo de teatro documentário, expondo os elementos de pesquisa, apresentando fotos e é todo narrado por Cristiane que também faz as vezes de intérprete. A narrativa é permeada por frases que provocam um salutar distanciamento, enquanto se ouve ao fundo a voz de uma criança (a filha da dramaturga).


A peça, concebida por Cristiane, tem dramaturgia e direção divididas com Beto Matos. Muitos elementos colaboram para o excelente resultado final: a potente trilha sonora de Pedro Semeghini, os cenários de Júlio Dojscar, a luz de Grissel Piguellim e a criação videográfica de Edu Zal que dá um toque importante no visual do espetáculo.

Um momento particularmente belo é aquele onde são apresentadas cenas de shows da espetacular Josephine Baker (1906-1975) enquanto Cristiane reproduz parte de um discurso da artista, onde ela comenta sua revolta e indignação com o preconceito racial sofrido por ela e pelos negros em geral.

Tratando de temas penosos e urgentes para os dias sombrios que estamos vivendo, Cristiane e Beto realizam espetáculo forte e corajoso, mas não menos belo e poético.

A História de Baker vem sendo apresentada desde 09/07 e fica em cartaz apenas até o próximo fim de semana:

Dias 23, 24 e 25 de julho. Sexta e sábado às 21h e domingo às 19h no Facebook do Teatro Cacilda Becker (facebook.com/TeatroCacildaBeckerSP).

 

NÃO DEIXE DE VER: SÃO BONITAS AS HISTÓRIAS!!

 

19/07/2021

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