Um recital de Ana Lúcia Torre na
companhia da poesia de Chico Buarque
1. Memórias de um espectador apaixonado.
No ano de 1965 eu estava
no segundo ano de engenharia na FEI. Não gostava do curso e minimizava a
frustração atuando no setor de cultura do Centro Acadêmico. Fiquei responsável
de ir buscar os ingressos para “Morte e Vida Severina” que os alunos da FEI
compravam.
Cada vez que eu ia levar
o dinheiro e buscar os ingressos eu assistia à peça, encantado com aquela linda
tradução cênica que Silnei Siqueira fez do poema de João Cabral de Mello Neto
com música de um jovem que eu sempre via tocando na porta do “Bar Sem Nome” do Agostinho
(quem viveu aquilo, sabe a que estou me referindo) na Rua Dr. Vila Nova, em
frente às obras do que viria a ser o SESC Consolação, era um tal de Chico
Buarque.
Entre tantas cenas que
se tornaram antológicas havia uma que me tocava muito e que começava com uma
pergunta do retirante Severino:
- “Muito bom dia, minha
senhora, que nessa janela está.”
Nesse momento entrava em cena uma jovem atriz que com muita garra desfilava cantando sua profissão de a morte ajudar. Ao final da cena (“Só os roçados da morte cabem aqui cultivar”) aconteciam os primeiros aplausos calorosos em cena aberta que a montagem recebia. Foi o primeiro encontro de Ana Lúcia Torre com Chico Buarque.
2. Olhos nos Olhos
Sessenta anos se
passaram e hoje essa grande atriz que construiu uma brilhante carreira no
teatro e na televisão reencontra Chico declamando com muita emoção as letras de
suas canções.
Sérgio Módena elaborou
uma bela dramaturgia costurando textos da vida de Ana Lúcia com as letras das músicas
e ela o faz com seu costumeiro brilho quase sempre se dirigindo simpaticamente
ao público. São os olhos nos olhos que o teatro é a única arte capaz de oferecer.
A direção de Módena é
sóbria e totalmente focada na interpretação e na movimentação em cena da atriz
no belo cenário criado por André Cortez e iluminado por Gabriele Souza. Ana
Lúcia veste um belo figurino assinado por Fábio Namatame.
A atriz é acompanhada
por Diógenes Junior ao piano.
O espetáculo todo é só
emoção, mas o coração aperta mais nas interpretações que Ana faz de “Apesar de
Você”, “Atrás da Porta”, “Meu Guri” e “Geni e o Zepelim”, nesses momentos se
repetem os aplausos calorosos em cena aberta que ela recebeu há sessenta anos em
“Morte e Vida Severina”.
Grande noite!
OLHOS NOS OLHOS está em
cartaz no Teatro Santos Augusta aos sábados (20h) e aos domingos (18h)
IMPERDÍVEL!
12/10/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário