quarta-feira, 13 de maio de 2020

BIBI FERREIRA (1922-2019)


 
        Eu adoro livros e, principalmente, livros sobre teatro; quer sejam textos de peças, estudos sobre teoria teatral, críticas teatrais ou biografias de encenadores, atores, atrizes, cenógrafos. Não são livros que estão lá para enfeitarem a estante; eu os manuseio e consulto constantemente como estou fazendo neste momento para escrever esta matéria.

        Há um canto especial da biblioteca onde estão as minhas divas teatrais: Glauce Rocha, Yara Amaral, Dina Sfat, Marília Pêra, Fernanda Montenegro, Cacilda Becker, Laura Cardoso, Cleyde Yáconis, Berta Zemel, Lilian Lemmertz, Célia Helena, Débora Bloch, Andréa Beltrão, Ruth Escobar, Maria Della Costa, mas faltava uma figura importantíssima: Bibi Ferreira. Por incrível que pareça não havia nenhum livro contando um pouco dessa grande figura que praticamente viveu todo o teatro brasileiro do século 20 e chegou gloriosa até o século 21, nos deixando a bem pouco tempo aos 96 anos de idade.
 
 
 
        Grande Bibi Ferreira de quem não assisti a muitas coisas.
        Minha primeira lembrança dela é no Grande Teatro Tupi nos primórdios da televisão na década de 1950. Muitas peças que saíam de cartaz no domingo eram apresentadas na íntegra e ao vivo na segunda feira nesse programa da TV Tupi. Eu tinha cerca de dez anos de idade, mas ainda tenho na memória a figura daquela atriz pequenina com os cabelos puxados para trás interpretando uma peça intitulada A Herdeira. Claro que não devo ter entendido nada da historia, mas aquela figura me marcou para sempre.
        No início ela era a filha do Procópio Ferreira, mas depois ele é que era conhecido como o pai da Bibi Ferreira.
        Bibi entrou em um palco pela primeira vez com 24 dias de vida em 1922 e saiu dele em 2018 com 96 anos. Esteve praticamente um século nas ribaltas, atuando e dirigindo peças, shows e até óperas. A maioria de seus espetáculos como atriz aconteceu até a década de 1960 (quase uma centena).  Não cheguei a assistir aos dois musicais antológicos que Bibi fez: My Fair Lady (1962) e Alô, Dolly (1965), tendo a visto apenas na televisão na apresentação da série Brasil 1960 na TV Excelsior.
        O grande dia de vê-la no teatro chegou em 1972 quando ela dividiu o palco do Teatro Anchieta com Paulo Autran em O Homem de la Mancha, dirigida por Flávio Rangel.
        A partir daí Bibi fez apenas mais três peças, todas cumprindo longas temporadas: Gota D’Água (1976), Piaf (1983) e Às Favas Com os Escrúpulos (2007), tendo se dedicado mais aos belíssimos shows nacionais e internacionais onde contava histórias de sua carreira e cantava canções de Edith Piaf, de Amália Rodrigues e até de Frank Sinatra
        Tenho algumas lacunas na minha “carreira” de espectador, uma delas é Esperando Godot dirigido por Antunes Filho com elenco totalmente feminino, mas a maior delas é Gota D’Água, dirigida por Flávio Rangel, ambas apresentadas em São Paulo em 1977, época em que eu morava na Holanda. É unânime a opinião de quem assistiu de que Bibi estava simplesmente arrebatadora como a selvagem Joana da peça de Chico Buarque e Paulo Pontes. Na época, amigos chegaram a me mandar pelo Correio, fita cassete com a gravação da peça e depois foi lançado um disco com os principais trechos/monólogos ditos por ela. Esse disco me emociona até às lágrimas ainda hoje e sente-se a pulsação de ódio, de revolta e de vingança daquela mulher traída, inspirada na Medeia de Eurípedes. É o que se pode chamar de uma interpretação visceral.
 
 
 
        E havia essa lacuna na minha estante: Bibi Ferreira.
        A partir de ontem ela chegou majestosa em minha casa em luxuosa edição da Raman Entretenimentos que está sendo distribuída em São Paulo pela Giostri Editora. O livro é uma joia com muitas fotos e uma retrospectiva da carreira dessa grande pequena mulher que foi Bibi Ferreira.
 
 
VIVA BIBI!

        13/05/2020

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