sábado, 8 de outubro de 2022

RENOIR – A BELEZA PERMANECE?

 

Estamos tão perto do Rio de Janeiro, no entanto, salvo espetáculos de sucesso comercial comprovado, as artes cênicas de um lado são pouco conhecidas do outro lado. Esse fato foi amenizado durante a pandemia quando espetáculos virtuais de várias partes do país chegaram até a telinha do nosso notebook.

Assim no ano de 2021 tive a oportunidade de conhecer os trabalhos de dois artistas do cenário carioca que me entusiasmaram muito, são eles o dramaturgo Rogério Corrêa   e o diretor/ator Isaac Bernat pelos excelentes espetáculos virtuais Entre Homens e De Bar em Bar. De Bernat ainda assisti a duas de suas direções: Pão e Circo e O Encontro (presencial, em 2022)

Foi com um misto de expectativa e, confesso, de temor que recebi a notícia que haveria um espetáculo da dupla sobre o pintor impressionista francês Pierre Auguste Renoir (1841-1919) a ser apresentado no Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Por que temor? Um espetáculo biográfico de um artista plástico no auditório de um museu soava a princípio como algo didático e chato.

Por que expectativa? A dramaturgia e a direção eram de dois artistas a quem passei a respeitar e a admirar desde que assisti aos trabalhos citados acima.

E com esse espírito me dirigi ao MASP na noite de ontem para assistir ao espetáculo.

Que rica surpresa!

Corrêa faz abordagem bastante original para questionar problemas contemporâneos por meio da vida e a obra do pintor francês colocando em cena um embate entre uma curadora (... ou melhor, uma assistente da curadoria!...) de um museu que apresenta exposição de Renoir e um ativista negro que questiona os valores pessoais do pintor e o fato de só haver mulheres brancas em seus quadros, ou seja, o machismo e o racismo presentes não só na obra “renoiriana”, mas em toda arte e sociedade ocidental. A questão é: toda aquela beleza presente nos quadros do artista permanece como tal nos dias de hoje? A vida de um artista tem de ser coerente com sua obra? E ao contrário?

Cenas da entrevista entre os dois, mediadas por um histriônico senhor, são permeadas por conversas do próprio Renoir com suas modelos e também, em recurso épico bastante interessante, com Lucia Cohen, a assistente da curadoria.

Um elenco afiadíssimo defende não só as três figuras principais citadas a seguir, mas também outras personagens importantes para a compreensão da trama: Isio Ghelman é Renoir, Izak Dahora é o ativista Dereck Jameson e a luminosa Clara Santhana é Lucia Cohen. Artistas primorosos também pouco conhecidos em São Paulo.

O que resulta disso tudo é um espetáculo belo e enxuto com uma hora de duração dirigido com mão de mestre por Isaac Bernat ao qual se assiste com muita atenção, com grande prazer e do qual se sai com a mente povoada de reflexões sobre os temas tratados.

Além de tudo é emblemático esse espetáculo estar sendo apresentado no século XXI em um espaço que tem acima de seu teto as meninas de rosa e azul e muitas outras obras de Renoir pintadas, em sua maioria, no século XIX. 

A temporada relâmpago do espetáculo vai apenas até o próximo fim de semana (16/10). Sessões de quinta a sábado às 20h e no domingo às 18h.

CORRA, QUE AINDA DÁ TEMPO!! 

08/10/2022

 

 

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