sexta-feira, 18 de julho de 2025

MACUCO

 

Victor Nóvoa é um dramaturgo com produção bastante profícua. Desde 2012 quando foi montado “Quase Memória”, o autor vem escrevendo e encenando novos textos a cada dois anos o que resulta em uma produção de quase uma dezena títulos, entre os quais vale salientar a força da denúncia em “Condomínio Nova Era” (2014), a originalidade de “Entre Vãos” (2016) que tinha seu desfecho na Estação Sé do metrô, a novidade de “Estilhaços da Janela Fervem no Céu da Minha Boca” (2019) que incluía transporte do público por aplicativo até o condomínio de luxo onde se passava a ação e a humanidade de “Mãos Trêmulas” (2023), um sensível retrato do amor na velhice. Como se pode notar trata-se de obra bastante original tanto nos temas tratados como nas concepções cênicas, sem jamais negligenciar a denúncia das mazelas impostas pelo capitalismo perverso em que vivemos.

Na esteira de um trabalho mais intimista iniciado com "Mãos Trêmulas" Nóvoa cria agora “Macuco”, uma espécie de “Amarcord” pelo litoral paulista inspirado nas lembranças que ele tem de seu avô.

Macuco é um texto bastante poético com narrativa fragmentada envolvendo Sebastião, um senhor que é entregador na cidade grande e que retorna à ilha onde nasceu e revive histórias com sua mãe e com o velho companheiro Bernardo. Revoadas de macucos, pássaros em extinção, também fazem parte de sua jornada.

O que poderia ser apenas diálogos entre as partes, o diretor Luiz Fernando Marques (Lubi) traduziu cenicamente com bela cenografia que consiste de uma espécie de mastro giratório pelo qual os atores aparecem e desaparecem em um passe de mágica. Nesse mastro são projetadas imagens do mar e da mãe de Sebastião com a figura sempre iluminada de Cleide Queiroz em vídeo.

A movimentação dos atores deve ser precisa no entra e sai do campo de visão do espectador e Edgar Castro e Vitor Britto o fazem de maneira perfeita.

Vitor, reforça o talento que já havia mostrado em “O Avesso da Pele”, mostrando sua versatilidade como Bernardo, como a mãe e como um macuco coberto de penas.

A fragilidade e a nostalgia de Sebastião encontram em Edgar o intérprete ideal onde ele mostra mais uma vez seu enorme talento.

MACUCO está em cartaz no SESC Pinheiros de quinta a sábado às 20h até 30 de agosto. 

18/07/2025

 

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