“Minha filha sonhava em ser atriz, e
de alguma forma, estar novamente no palco é também um reencontro com ela”
(Daniele Tavares)
À primeira vista pode parecer que se
trata de mais um monólogo voltado para o umbigo da intérprete onde ela discorre
sobre os dramas que sofreu na vida. “Etiqueta do Luto” poderia até ser isso,
mas é MUITO MAIS DO QUE ISSO.
Com uma dramaturgia consistente
preparada por Marcelo Varzea, Mariela Lamberti e Bruno Rods a partir do texto
de Daniele Tavares e a interpretação iluminada de Daniele, estamos diante de
uma tragédia que se anunciou, mas Daniele não percebeu e que se traduziu cenicamente
em um dos espetáculos mais pungentes do ano.
Basta uma cadeira em cena e um desenho
de luz magnífico de Vini Kedi que direciona a atriz por todo o espaço cênico
para Daniele Tavares demonstrar que os trinta anos em que esteve fora do palco
não arranharam o seu talento e sua empatia com o público.
A direção de Marcelo Varzea é enxuta e
bastante fiel aos preceitos do Teatro Essencial.
Alguns trabalhos apresentados nos
últimos tempos foram tema de assuntos parecidos como a minissérie “Adolescência”
(os males das redes sociais) e a peça “O Filho” (problemas de saúde mental),
mas nenhum deles tratou o assunto de maneira tão envolvente e corajosa como
Daniele Tavares o fez ao expor no palco o quanto, talvez – tem sempre um
talvez- ela pudesse ter dado mais importância àquilo que foi destruindo sua
filha à sua vista e ela não percebeu. De qualquer maneira fica claro em todas
essas narrativas que o quarto dos jovens encerra mais perigos do que pode
imaginar nossa vã realidade. (Obrigado, Shakespeare).
O que levou aquela moça bonita de
narizinho arrebitado, boa saúde, sem maiores problemas financeiros, com vontade
de ser atriz e bem relacionada com sua família (pai, mãe e irmão) a iniciar um
processo de autodestruição que culminou com sua morte aos 21 anos?
Essa é uma pergunta que acompanha
Daniele desde a morte da menina e ela até tenta algumas respostas ao final do
espetáculo.
Em determinado momento da peça a atriz
passa o microfone para o público e ao ser arguida se essas apresentações onde
ela reabre a ferida a cada vez não lhe fazem mal, ela respondeu que sente isso como
um dever ao jogar para o público esse grito de alerta para que se preste
atenção ao desenvolvimento dos jovens. Essa atenção pode salvar uma vida, algo
que não aconteceu com a de sua filha.
Daniele também sentiu que durante
muito tempo amigos, familiares e conhecidos evitaram falar sobre o acontecido e
isso lhe fez muito mal e o teatro talvez tenha siso a maneira dela fazer o
grande desabafo publicamente.
O tema é espinhoso e Daniele não se
furta a pisar nos espinhos para oferecer ao público uma das interpretações mais
autênticas e viscerais desta temporada, mas o seu talento transcende o tema e
ainda iremos presenciar novos trabalhos onde ela vai mostrar tudo aquilo de que
uma grande artista é capaz!
ETIQUETA DO LUTO tem sua última
apresentação de 2025 nesta segunda, dia15, mas volta ao cartaz de 10 de janeiro
a 2 de fevereiro no Teatro Pequeno Ato aos sábados e segundas às 20h e aos
domingos às 19h.
ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!
No melhor estilo de teatro documentário deverão ocorrer algumas sessões em 2026 em que a atriz Veronica Nobili interpretará Daniele Tavares como personagem. Isso promete!
14/12/2025


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