terça-feira, 9 de dezembro de 2025

AS ARMAS MILAGROSAS

 

Foto de Marcelle Cerutti

- Seis Personagens à Procura de Existência -

I got life, mother
I got laughs, sister
I got freedom, brother
I got good times, man

(Ragni, Rado, MacDermot) 

Há certos assuntos dos quais é difícil se manifestar com o risco de sermos julgados preconceituosos ou racistas. Às vezes só por ser branco se pode pensar que se é contra os negros e sua rica cultura.

Ser branco absolutamente não significa pertencer ou defender a branquitude que é uma atitude bastante racista.

Sou contra certos espetáculos do movimento negro que colocam um dedo indicador no nariz de um espectador que só pelo fato dele ser branco é acusado de inimigo e causador de toda sofrida saga dos negros desde a época da escravidão. DENUNCIAR E ACUSAR É PRECISO, mas que se aponte o dedo para quem merece.

Negros ou brancos todos nós procuramos um lugar ao sol e quando alguém ocupa o nosso lugar é justo que reivindiquemos o espaço que nos cabe.

O primeiro mérito de “As Armas Milagrosas” é que denuncia e acusa o racismo fortemente, mas de maneira elegante e artística.

Para ilustrar a sua tese sobre os malefícios da branquitude Anderson Negreiro coloca em cena de um lado um grupo de brancos sem viço e opaco que ensaia burocraticamente uma peça e do outro um grupo de negros cheio de energia e vida (“I got life”). Os negros que atuavam nos bastidores em funções secundárias, reivindicam seu merecido espaço e não há como o espectador não vibrar com a performance dos negros e as vozes perturbadoras e potentes de Cainã Naíra e Joy.Anne torcendo para que eles atinjam seus objetivos.

Um desenho de luz rigoroso idealizado por Anderson Negreiro e realizado por Matheus Brant define os limites de atuação de cada grupo, cabendo aos negros romper essa fronteira.

A dramaturgia assinada por Negreiro mescla a ideia de “Seis Personagens A Procura de Um Autor” de Pirandello com “As Armas Milagrosas” e “Os Cães se Calavam” do autor martinicano Aimé Césaire e o resultado é um importante libelo contra o racismo.

A direção conjunta é assinada por Daniela Manrique e Anderson Negreiro.

Esse importante espetáculo deixou o cartaz em 07/12, mas deve voltar em 2026 no TUSP.

09/12/2025

 

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