quinta-feira, 20 de maio de 2021

DIPLOMACIA

 

Olhando para o palácio do Louvre, para o Arco do Triunfo, para outros tantos monumentos da linda capital francesa e também para as/os parisienses que por lá circulam, fica difícil imaginar que tudo aquilo e aquelas pessoas podiam simplesmente não mais existir, não fosse a interferência do diplomata suéco Raoul Nordling (1881-1962) junto ao general alemão Dietrich von Choltitz (1894-1966) que tinha por tarefa uma ordem de Hitler de destruir Paris junto com seus habitantes em agosto de 1944.

Esse fato incrível foi tema da peça de teatro Diplomacia do jovem escritor francês Cyril Gély (1968). A peça estreou em Paris em 2011 com Niels Arestrup (Choltitz) e André Dussollier (Nordling) e foi transformada em filme em 2015 com o mesmo elenco e direção de Volker Schlöndorff.

Peça e filme foram muito bem sucedidos e a peça foi traduzida para o português por Aimar Labaki que manteve a fluência do brilhante diálogo original.

Em função da pandemia da covid 19 a peça foi concebida para exibição virtual, mas dá para intuir que sua versão para o palco será muito bem sucedida.

Com certeza há limitações na versão virtual, mas não se pode negar que a cena inicial com o general sentado em sua escrivaninha banhado pela luz de um lindo abajur estilo art déco jamais teria o mesmo alcance estético para o espectador se visto de um palco.

O diretor Ricardo Grasson optou por fotografar o espetáculo em preto e branco e os claros-escuros resultantes são belíssimos; para tanto contribuem grandemente o videografismo de André Grynwask e Pri Argoud (esta dupla tem realizado trabalhos excelentes nestes tempos de teatro virtual) e a magnífica iluminação de Cesar Pivetti e Marina Stoll. O espetáculo é registrado por três câmeras, uma delas colocada no teto mostrando a cena vista do alto. Também colaboram para o excelente resultado final os figurinos de Rosângela Ribeiro, a caracterização dos atores assinada por Louise Helène e a trilha sonora precisa de Ricardo Severo. Cenas da Paris ocupada abrem o espetáculo e cenas da Paris libertada o encerram, sempre ao som de belas canções francesas. O elenco é formado por Eduardo Semerjian (Choltitz) e Otávio Martins (Nordling).

Em 1944 Nordling tinha 63 anos e Choltitz tinha 50 anos. No filme os dois são representados por atores idosos e Arestrup aparenta ser mais velho do que Dussolier. Na versão brasileira as coisas parecem ser mais coerentes: os atores estão na faixa dos 50 anos o que encaixa com a personagem de Choltitz e para compor Nordling Otávio Martins realiza excelente trabalho vocal e corporal auxiliado pelo visagismo de Louise Helène, convencendo o espectador que se trata de um senhor idoso com certa debilidade física.

                                                             Foto de Helô Bortz

A peça trata de um momento crítico de nossa história que só não teve um desfecho trágico por conta da solidariedade e da civilidade. Eduardo Semerjian e Otávio Martins dão conta de transmitir esses conceitos de maneira ímpar. Suas interpretações já se incluem nos grandes momentos que o web teatro tem nos oferecido.

O grupo aproveitou para colocar na boca do personagem do general a frase infeliz do também general Eduardo Pazuello: “Uns mandam, outros obedecem”. Não havia necessidade dessa inserção para mostrar a atualidade da peça, mas esse reforço é muito bem-vindo neste momento obscurantista que estamos vivendo.

Eu diria que Diplomacia é espetáculo OBRIGATÓRIO na atualidade, na qual o diálogo se torna cada vez mais difícil. Como mencionei no início desta matéria, não fosse o diálogo, Paris e os parisienses teriam simplesmente sumido do mapa o que teria sido uma perda irreparável para a humanidade.   

DIPLOMACIA pode (e deve!!) ser assistida na plataforma digital do Sesc SP por três meses a partir da data de estreia (19/05/2021).

20/05/2021

 

 

 

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