“A verdade, onde está a verdade?” questionava Luigi Pirandello (1867-1936) em toda sua obra.
Em um brilhante exercício de meta teatro, o dramaturgo curitibano Marcos Damaceno coloca duas atrizes (de verdade!) interpretando duas atrizes que interpretam duas personagens. Em um emaranhado de eu-ela, ela-eu, você-ela, ela-você, ele-eu Damaceno tece uma trama deliciosa de acompanhar, nunca revelando onde está a verdade, que na verdade ninguém sabe onde está. O autor poderia definir ficcionalmente a verdade da trama, mas fiel ao estilo pirandelliano não o faz.
A proposital repetição das situações poderia soar cansativa, mas a presença de duas grandes atrizes em cena torna o espetáculo extremamente prazeroso.
O talento de Rosana Stavis é bastante conhecido do público paulistano, mas mais uma vez ela nos surpreende interpretando uma espécie de ensaiadora de uma atriz que prepara a personagem de uma mulher que dialoga com seu padrasto/amante. Em certo momento faz às vezes do padrasto, para dar as deixas para a atriz. De lambuja, Rosana empresta sua bela voz para cantar “I Started a Joke” no final do espetáculo.
“Ah, se eu tivesse visto que a piada era comigo” diz a canção dos Bee Gees.
Helena de Jorge Portela é a grande surpresa do espetáculo. Dotada de grande e bela presença cênica e potente voz, ela interpreta a atriz que está insegura com a composição de sua personagem e que não consegue chorar na cena em que isso se faz necessário.
Os diálogos entre as quatro (ou seis??) figuras em cena são saborosíssimos e Rosana e Helena os interpretam magnificamente.
A direção de Damaceno é totalmente focada no trabalho das atrizes com a colaboração de Beto Bruel e seu sempre belo desenho de luz.
O enigma de uma nebulosa e o mito que Baco representa a dualidade humana entre controle e entrega (conforme dados do programa impresso) justificam o título do espetáculo.
Depois da experiência radical com a bem sucedida “A Aforista”, a Cia. Stavis-Damaceno nos oferece este belo exercício de meta teatro que irá agradar a todos, mas principalmente aqueles habituados com o linguajar teatral.
“Toda atriz tem que brilhar” diz o texto em certo momento e Rosana e Helena o fazem, iluminando cada espectador com seus talentos.
NEBULOSA DE BACO está em cartaz no CCBB até 08 de junho, com sessões às quintas e sextas às 19h e aos sábados, domingos e feriados às 17h.
26/04/2025
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