segunda-feira, 23 de junho de 2025

JOÃO

 

 

Quantos Joãos são necessários para conceber um Severino?

Muitos Joãos, Pedros, Josés e até Severinos devem ter cruzado o caminho de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), poeta e diplomata pernambucano, para inspira-lo na criação de personagens sofridas do sertão nordestino, sendo Severino do poema “Morte e Vida Severina” a mais famosa.

Marcelo Marcus Fonseca, dramaturgo do espetáculo, condensa todas essas inspirações em uma única personagem de nome João, que está migrando para o sul com a cara e a coragem. No encontro com o poeta surgem os primeiros belos diálogos da peça.

João Cabral segue sua carreira de escritor enquanto João - só João - vai para o Sul Maravilha onde se engaja com Gaivota, uma travesti valente, mas muito carinhosa. A vida urbana não é fácil e o casal acaba sucumbindo à especulação imobiliária.

 João Cabral, João e Gaivota são os pilares do espetáculo e são defendidos com muita garra por Vitor Vieira, Dudu Galvão e Mattilla, respectivamente.

Vitor Vieira

Dudu Galvão

Mattilla

Vitor empresta seu conhecido talento para criar um João Cabral nobre e até meio esnobe na sua altivez, Dudu tem graça e singeleza como o inocente João e Mattilla é um verdadeiro furacão em cena com uma interpretação que tira do chão e deslumbra o espectador, algo de que só a verdadeira arte é capaz. Curiosamente, Mattilla só entrou na montagem às vésperas da estreia, para substituir Marina Mathey que teve que passar por um procedimento cirúrgico.

O musical “João” tem bela e até sofisticada tradução cênica de Kleber Montanheiro que utiliza os quatro cantos da Cia da Revista como cenário.

A luz (Gabriele Souza), os figurinos (Marcos Valadão) e o visagismo (Louise Helène) colaboram harmoniosamente com a direção.

João Cabral, tão avesso à música, ficaria encantado com as canções criadas por Marco França e tão bem letradas por Vitor Rocha. Diga-se de passagem, que ele já deve ter se encantado em 1965 quando o jovem Chico Buarque musicou seu poema “Morte e Vida Severina” na montagem do TUCA dirigida por Silney Siqueira.

O elenco de apoio também é muito bom, com destaque para Bia Rezi, encantadora presença cênica.

Uma ressalva: Apesar do elenco estar micro fonado e do espaço não ser muito grande, o espetáculo acontece em volume muito alto, algo que chega a prejudicar a fruição do mesmo.

A sala de espera da Cia da Revista está decorada com figurinos e cenas dos espetáculos de Kleber Montanheiro.

Fotos de Edgar Machado 

JOÃO está em cartaz no Espaço Cia da Revista de sexta a domingo às 20h até 03 de agosto. 

23/06/2025

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