segunda-feira, 20 de outubro de 2025

DE BRAÇOS ABERTOS – BEM MAIS QUE UMA LEITURA

Fotos de João Caldas

Introdução – O ovo ou a galinha?

Em 1984 a peça “De Braços Abertos” de Maria Adelaide Amaral comoveu o público paulistano em uma montagem primorosa dirigida por José Possi Neto e interpretada por Irene Ravache e Juca de Oliveira; a peça   ganhou vários prêmios e ficou em cartaz até 1985. Nela as personagens Luísa e Sérgio, ex-amantes, se reencontram depois de cinco anos e relembram a relação conturbada que tiveram e de pessoas que de alguma maneira participaram da vida deles como Rogério, ex-chefe e apaixonado por Luísa; Raul, um amigo gay; Mário, o ex-marido; Marga, uma amiga fiel e Paulo, uma paixão de Luísa na juventude.

Em 1986 Maria Adelaide lançou o romance “Luísa (Quase Uma História de Amor)” onde Luísa não aparece, mas é relembrada de várias maneiras na visão de Sérgio, Rogério, Raul, Mário e Marga. O romance foi vencedor do Prêmio Jabuti.

Duas maneiras de contar a mesma história. Pelas datas a peça antecedeu o romance, mas resta a dúvida de qual surgiu primeiro no pensamento de Maria Adelaide. Tanto a peça pode ter servido de base para o romance como o contrário. Só a autora vai poder um dia satisfazer essa minha curiosidade.

De Braços Abertos – A leitura

 

Esse belo exemplar da dramaturgia brasileira permaneceu na gaveta por 40 anos até que a atriz Nicole Cordery se apaixonou por ele e está disposta a montá-lo custe o que custar. O texto é consistente mostrando as facetas, as vezes muito cruéis, de um relacionamento com diálogos ágeis e inteligentes que adquirem vida ao serem ditos por bons intérpretes.

Na tarde chuvosa deste sábado, dia 18 de outubro de 2025, um privilegiado grupo teve a oportunidade de estar presente no Estúdio João Caldas para assistir a uma leitura bastante dinâmica do texto na interpretação apaixonada de Nicole como Luísa e Edu Guimarães como Sérgio, com direção de Bruno Perillo.


Ouvindo o texto depois de muito tempo faço as seguintes observações:

1.   Acredito que seria importante dar maior ênfase à personagem de Paulo, que parece ter sido um homem que se opôs à ditadura e ao governo militar. Essa ênfase pode dar um benéfico toque político à montagem.

2.A peça se passa em dois tempos e a montagem com cenários vai deixar mais clara essa diferença.

3. As citações de filmes, atores e locais antigos podem causar estranhamento no público mais jovem.

Muita emoção rolou tanto nos intérpretes como entre os espectadores. Lágrimas brotaram nos olhos de todos quando Luísa diz a belíssima frase final olhando para Sérgio:

- “O melhor, o mais surpreendente, o mais bonito, meu amigo, é a gente estar aqui e conseguir, depois de tudo, se olhar com tanta ternura.”

Rubrica: “Luísa e Sérgio se abraçam terna, carinhosa, saudosamente.”

Os aplausos só surgiram após um longo silêncio emocionado do público.

 A peça ainda tem muito a dizer nos dias atuais, pois relações humanas jamais ficam fora de moda e uma boa montagem com direção do Bruno e esses dois intérpretes vai com certeza provocar a mesma comoção de quarenta anos atrás, além de prestar uma justa homenagem a uma grande dramaturga brasileira que há muito tempo não tem um texto seu presente nos palcos paulistanos.

Atenção produtores, SESI, SESC, CCBB, Teatro VIVO, a peça para vocês fazerem sucesso e prestar um serviço para o teatro brasileiro já existe e está quase pronta. APRESENTEM – SE! 

19/10/2025

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário