Introdução – O ovo ou a galinha?
Em 1984 a peça “De Braços Abertos” de
Maria Adelaide Amaral comoveu o público paulistano em uma montagem primorosa
dirigida por José Possi Neto e interpretada por Irene Ravache e Juca de
Oliveira; a peça ganhou vários prêmios
e ficou em cartaz até 1985. Nela as personagens Luísa e Sérgio, ex-amantes, se
reencontram depois de cinco anos e relembram a relação conturbada que tiveram e
de pessoas que de alguma maneira participaram da vida deles como Rogério,
ex-chefe e apaixonado por Luísa; Raul, um amigo gay; Mário, o ex-marido; Marga,
uma amiga fiel e Paulo, uma paixão de Luísa na juventude.
Em 1986 Maria Adelaide lançou o
romance “Luísa (Quase Uma História de Amor)” onde Luísa não aparece, mas é
relembrada de várias maneiras na visão de Sérgio, Rogério, Raul, Mário e Marga.
O romance foi vencedor do Prêmio Jabuti.
Duas maneiras de contar a mesma história. Pelas datas a peça antecedeu o romance, mas resta a dúvida de qual surgiu primeiro no pensamento de Maria Adelaide. Tanto a peça pode ter servido de base para o romance como o contrário. Só a autora vai poder um dia satisfazer essa minha curiosidade.
De Braços Abertos – A leitura
Esse belo exemplar da dramaturgia
brasileira permaneceu na gaveta por 40 anos até que a atriz Nicole Cordery se
apaixonou por ele e está disposta a montá-lo custe o que custar. O texto é
consistente mostrando as facetas, as vezes muito cruéis, de um relacionamento com
diálogos ágeis e inteligentes que adquirem vida ao serem ditos por bons
intérpretes.
Na tarde chuvosa deste sábado, dia 18
de outubro de 2025, um privilegiado grupo teve a oportunidade de estar presente
no Estúdio João Caldas para assistir a uma leitura bastante dinâmica do texto
na interpretação apaixonada de Nicole como Luísa e Edu Guimarães como Sérgio,
com direção de Bruno Perillo.
Ouvindo o texto depois de muito tempo
faço as seguintes observações:
1.
Acredito
que seria importante dar maior ênfase à personagem de Paulo, que parece ter
sido um homem que se opôs à ditadura e ao governo militar. Essa ênfase pode dar
um benéfico toque político à montagem.
2.A peça se passa em dois tempos e a
montagem com cenários vai deixar mais clara essa diferença.
3. As citações de filmes, atores e
locais antigos podem causar estranhamento no público mais jovem.
Muita emoção rolou tanto nos
intérpretes como entre os espectadores. Lágrimas brotaram nos olhos de todos quando
Luísa diz a belíssima frase final olhando para Sérgio:
- “O melhor, o mais surpreendente,
o mais bonito, meu amigo, é a gente estar aqui e conseguir, depois de tudo, se
olhar com tanta ternura.”
Rubrica: “Luísa e Sérgio se abraçam
terna, carinhosa, saudosamente.”
Os aplausos só surgiram após um longo
silêncio emocionado do público.
A peça ainda tem muito a dizer nos dias atuais,
pois relações humanas jamais ficam fora de
moda e uma boa montagem com direção do Bruno e esses dois intérpretes vai com
certeza provocar a mesma comoção de quarenta anos atrás, além de prestar uma
justa homenagem a uma grande dramaturga brasileira que há muito tempo não tem
um texto seu presente nos palcos paulistanos.
Atenção produtores, SESI, SESC, CCBB, Teatro VIVO, a peça para vocês fazerem sucesso e prestar um serviço para o teatro brasileiro já existe e está quase pronta. APRESENTEM – SE!
19/10/2025
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