quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

DOS ESCOMBROS DE PAGU

 


Em boa hora os parceiros Roberto Lage (diretor) e Maurício Inafre (produtor) revisitam esse importante e atualíssimo texto sobre Pagu de autoria da escritora pernambucana Tereza Freire que é uma versão teatral, feita por ela mesma, de sua tese de doutorado.

Patrícia Galvão (09/06/1910-12/12/1062), a nossa Pagu - que ganhou esse delicioso apelido por um erro de Raul Bopp, que quis fazer uma abreviação do seu nome em um poema e achou que o sobrenome era Goulart (ainda bem, pois Pagu é muito mais significativo do que Paga) – é um exemplo de mulher transgressora e livre que viveu plenamente seus breves 52 anos, lutando pela liberdade e pelos valores nos quais acreditava.

Em 2010, Lage montou esse texto tendo Renata Zhaneta como Pagu. O programa da peça contém textos impressionantemente atuais de Renata, de Inafre e de Tereza, que parecem estar falando do Brasil de hoje, dominado por essas execráveis figuras que estão no poder.

Se em 2010, a peça prestava uma homenagem ao centenário de nascimento de Pagu, hoje ela é um retrato escancarado da triste situação do Brasil de 2022.

A encenação de Lage acontece em uma sala da Oficina Cultural Oswald de Andrade onde até uma iluminação externa faz parte do cenário no início da mesma. Cenário limpo (no bom sentido) de Livia Loureiro onde a bela iluminação de Tomate Saraiva colabora para criar os climas propostos pelo texto e pelo diretor.

Thais Aguiar é uma ótima surpresa e revela-se uma Pagu guerreira e ciente de seu valor naquela sociedade provinciana do início do século XX. Pagu sofreu preconceito da direita (sua família e o entorno conservador) e da esquerda (integrantes do Partido Comunista), mas foi em frente com seus ideais e as verdades em que acreditava. A indignação da personagem é bem traduzida na visceral interpretação de Thais.

A peça faz um recorte da vida de Pagu iniciando na sua adolescência, passando por seu envolvimento com os modernistas, com a luta política e chegando até a prisão e as torturas. Acontecimentos após a militância como a doença e a tentativa de suicídio não são citados.

Por último, mas não menos importante: prestando serviço IMPORTANTÍSSIMO para o público, para pesquisadores, para os integrantes do espetáculo presentes na ficha técnica e. mais que tudo, para a preservação da MEMÒRIA DO TEATRO BRASILEIRO, a produção do espetáculo distribui um programa impresso com os dados básicos do espetáculo, a ficha técnica e algumas fotos coloridas; tudo isso em uma folha A4, impressa dos dois lados e dobrada em três. Conforme informações da produção, mil exemplares do programa custaram R$980,00, menos de UM REAL por programa! Será que solução desse tipo é inviável para grandes organizações como SESC, SESI e Itaú Cultural e vamos ter que continuar a conviver com os impenetráveis programas acessíveis (??) por QR code?



Dos Escombros de Pagu cumpre temporada relâmpago na Oficina Cultural Oswald de Andrade só até o próximo sábado, dia 19/02. Quinta e sexta às 20h e sábado às 18h. Gratuito.

CORRA!!! 

17/02/2022

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