O que terá acontecido com aquele casal
de pobretões que parte feliz em uma estrada no final do filme “Tempos Modernos”
de Charlie Chaplin? Continuaram felizes? Subsistiram?
E se, Romeu e Julieta não tivessem
morrido, aquela paixão ia durar por quanto tempo?
Quantas
e quantas vezes, nós espectadores, nos vemos imaginando como terá sido o futuro
de personagens de filmes ou peças de teatro. As cortinas fecham, as luzes
acendem, mas aquelas criaturas criadas por dramaturgos, diretores e intérpretes
continuam vivas em nossas mentes.
Brian Friel (1929-2015) foi um
dramaturgo irlandês que tinha profunda identificação com a obra de Anton
Tchekhov (1860-1904), tendo adaptado várias de suas peças (“As Três Irmãs”, “Tio
Vanya”, “O Urso”) e no chamado período tardio de sua escrita (2002) cria
“Afterplay”, peça em um ato onde procura responder aquela pergunta: o que terá
acontecido com Sônia, personagem de “Tio Vânia” e com Andrey de “As Três
Irmãs”, vinte anos depois do término das peças em que são personagens.
Sônia é uma personagem sofrida e introspectiva
que tem uma célebre e comovente fala ao final de Tio Vanya. A Sônia de Friel é
mais expansiva, capaz de boas gargalhadas, algo que não condiz com a imagem que
tenho dessa personagem. Já Andrey na peça de Friel tem muito a ver com aquele
marido passivo e indeciso de Natacha e irmão de Olga, Masha e Irina. Enfim,
cada um tem sua visão desse imenso leque de personagens que habitam nossos
palcos.
“Afterplay” (Depois da Peça? Depois
dos Atos? Depois de Tchekhov?) promove um encontro entre Sônia e Andrey que
procuram preencher lacunas de seus passados para poderem se comunicar. São duas
figuras reticentes, que trocam palavras com cuidado, contam pequenas mentiras,
logo depois desmentidas, mantendo longos silêncios entre uma fala e outra. O
diretor Luiz Eduardo Frin procura manter um ritmo lento durante todo o
espetáculo que se passa em torno da mesa de um restaurante.
A movimentação em torno da mesa
poderia ser aumentada, evitando longas falas de costas para parte do público.
Bia Bologna e Luiz Eduardo Frin
interpretam essas duas figuras com muita sensibilidade, compartilhando com o
público presente a intimidade desse encontro. Um ator e uma atriz em pleno
domínio de seus papeis no fazer teatral.
Espetáculo digno que merece ser visto.
Em cartaz no Galpão do TAPA (Rua Lopes
Chaves, 86 – Barra Funda) de 31/10 a 21/12, sextas e sábados (20h) e domingos
(19h).
26/10/2025



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