domingo, 26 de outubro de 2025

AFTERPLAY

 

O que terá acontecido com aquele casal de pobretões que parte feliz em uma estrada no final do filme “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin? Continuaram felizes? Subsistiram?

E se, Romeu e Julieta não tivessem morrido, aquela paixão ia durar por quanto tempo?

        Quantas e quantas vezes, nós espectadores, nos vemos imaginando como terá sido o futuro de personagens de filmes ou peças de teatro. As cortinas fecham, as luzes acendem, mas aquelas criaturas criadas por dramaturgos, diretores e intérpretes continuam vivas em nossas mentes.

Brian Friel (1929-2015) foi um dramaturgo irlandês que tinha profunda identificação com a obra de Anton Tchekhov (1860-1904), tendo adaptado várias de suas peças (“As Três Irmãs”, “Tio Vanya”, “O Urso”) e no chamado período tardio de sua escrita (2002) cria “Afterplay”, peça em um ato onde procura responder aquela pergunta: o que terá acontecido com Sônia, personagem de “Tio Vânia” e com Andrey de “As Três Irmãs”, vinte anos depois do término das peças em que são personagens.

Sônia é uma personagem sofrida e introspectiva que tem uma célebre e comovente fala ao final de Tio Vanya. A Sônia de Friel é mais expansiva, capaz de boas gargalhadas, algo que não condiz com a imagem que tenho dessa personagem. Já Andrey na peça de Friel tem muito a ver com aquele marido passivo e indeciso de Natacha e irmão de Olga, Masha e Irina. Enfim, cada um tem sua visão desse imenso leque de personagens que habitam nossos palcos.

“Afterplay” (Depois da Peça? Depois dos Atos? Depois de Tchekhov?) promove um encontro entre Sônia e Andrey que procuram preencher lacunas de seus passados para poderem se comunicar. São duas figuras reticentes, que trocam palavras com cuidado, contam pequenas mentiras, logo depois desmentidas, mantendo longos silêncios entre uma fala e outra. O diretor Luiz Eduardo Frin procura manter um ritmo lento durante todo o espetáculo que se passa em torno da mesa de um restaurante.

A movimentação em torno da mesa poderia ser aumentada, evitando longas falas de costas para parte do público.

Bia Bologna e Luiz Eduardo Frin interpretam essas duas figuras com muita sensibilidade, compartilhando com o público presente a intimidade desse encontro. Um ator e uma atriz em pleno domínio de seus papeis no fazer teatral.

Espetáculo digno que merece ser visto. 


Em cartaz no Galpão do TAPA (Rua Lopes Chaves, 86 – Barra Funda) de 31/10 a 21/12, sextas e sábados (20h) e domingos (19h).

 

26/10/2025

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