1. Introdução
No dia 23/01/1992 um ex-companheiro e
amigo muito querido pediu que eu fosse com ele ao médico buscar o resultado do
exame de HIV. A espera na sala de espera pareceu uma eternidade até que ele foi
chamado. Quando ele saiu do consultório, pelo seu semblante eu já percebi que o
resultado tinha sido positivo. Naquela época, ainda sem a possibilidade do
coquetel, um resultado como esse era sentença de morte, passando por todas
doenças oportunistas que a baixa imunidade favorecia. Sua triste saga foi de
dois anos vindo a falecer em 18/03/1994 muito magrinho com feições cadavéricas parecidas
com aquelas que o Cazuza ficou. Uma caveirinha, como diria Nelson Rodrigues.
Relembrei esses tristes fatos no café do Teatro Vivo, ao ler o programa da peça “Um Pequeno Incidente” a que eu iria assistir a seguir; já estava preparado emocionalmente.
2. Um Pequeno Incidente
Sinopse da peça de José Pedro Peter
constante no programa:
“Dois homens de personalidades opostas, se
conhecem em um posto de saúde (SUS), enquanto aguardam seus resultados de teste
rápido (HIV). Esse encontro, ao acaso, unirá os dois de uma forma inesperada e
criará um laço entre eles por toda a vida”
A dramaturgia da peça de Peter é muito
bem construída com bom desenvolvimento e diálogos ágeis e inteligentes. A trama
é dividida em três momentos das vidas desses dois seres cheios de dúvidas,
angústias e preconceitos.
O primeiro momento se passa na sala de
espera do posto e mostra o embate entre duas pessoas com muitas diferenças na
maneira de encarar o comportamento homossexual; enquanto um é conservador e
monogâmico, o outro é aventureiro e até promíscuo.
O segundo momento se passa em uma
reunião de dinâmica de grupo, algum tempo depois deles já saberem o resultado
do exame.
O terceiro momento mostra o resultado
do encontro de João com João (sim, eles têm o mesmo nome) e a volta da presença
da morte entre eles.
Deixo de dar mais detalhes dos dois
últimos momentos, para não tirar a surpresa dos futuros espectadores.
A direção enxuta e elegante de Marco
Antônio Pâmio coloca os atores em um espaço vazio, onde o público, com poucas
indicações, consegue usar a imaginação de maneira que só o teatro permite e
visualizar os três ambientes onde se passa a peça.
Cerca de 40 pessoas (público)
acompanha de perto o respirar de João e João.
Além daqueles para a direção de Pãmio
e para a dramaturgia de Peter, APLAUSOS VIBRANTES também para as interpretações
de Peter e Rafael Primot. A potência de Primot já é conhecida por outros espetáculos e Peter é uma grata surpresa. A entrega dos dois atores é apaixonante e comove o
público até as lágrimas, mas em nenhum momento há um apelo melodramático na
encenação tão bem conduzida por Pâmio.
UM PEQUENO INCIDENTE está em cartaz no
agradável Espaço Convivência do Teatro Vivo às sextas e sábados (20h) e aos
domingos (18h).
NÃO DEIXE DE VER!
27/10/2025

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