sábado, 9 de abril de 2022

O PAI

 

Uma montagem bela e dinâmica de um texto clássico que prende a atenção mesmo daqueles mais novos acostumados às invenções da cena contemporânea e que torcem o nariz para o pejorativamente chamado “teatrão”. Esse é um dos grandes méritos desta visão de Regina Galdino para o texto do dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912).

A peça trata de um embate entre o patriarca Adolf e sua esposa Laura em torno da educação da filha Bertha. A partir dessa situação, o autor cria trama complexa onde a mulher, a princípio submissa, vai tomando conta da situação por meio de falcatruas e mentiras, criando dúvidas sobre a paternidade de Bertha e o estado mental do marido. Com fama de machista e misógino, este texto parece mostrar o contrário, apesar das armas usadas pela mulher para vencer não serem nem um pouco éticas. Digna de nota é a tradução/adaptação do texto realizada por Gerson Steves.

Regina Galdino além de dirigir o espetáculo, o ilumina lindamente em um palco vazio com apenas três cadeiras que são arrastadas pelo elenco para criar os vários ambientes da casa e um imenso painel ao fundo mostrando uma natureza inóspita e muito fria. Este painel muda de cor, conforme mudam as intenções de cada cena. A concepção cenográfica também é de sua autoria. Figurinos bastante adequados à situação criados por Marichilene Artisevskis.

Em elenco bastante homogêneo, Beatriz Negri faz a filha Bertha; Sérgio Passareli é o soldado, espécie de criado da casa; Gerson Steves representa o Doutor e Daniel Costa é o Pastor, responsável pelo “Amém” final que sacramenta toda a situação criada pela irmã Laura.

Tatiana Montagnolli, mentora do projeto, cria com muita dignidade a personagem de Laura, tímida no início, vai tomando conta da situação ao longo da trama com bastante cinismo e perversidade. Atriz pouco conhecida em nossos palcos, tem aqui uma grande atuação, que a coloca entre nossas boas intérpretes.

Com o talento de sempre e com uma barba imensa para disfarçar a diferença de sua idade com a da personagem, Marcos Damigo encara com vigor a difícil figura de Adolf. Autoritário e senhor de si no início, perplexo e corroído pela dúvida durante e fora de si no final, são fases da personagem que o ator nos mostra com brilhantismo e muito talento.

E por último, mas não menos importante, a presença luminosa de Gabriela Rabelo (em participação especial) como a criada Margret. A cena em que, pesarosa, coloca a camisa de força em Adolf, relembrando momentos da sua (dele) infância é belíssima e emocionante, podendo desde já ser considerada como um dos momentos mágicos e memoráveis do nosso teatro. 

O PAI está em cartaz no Teatro João Caetano até 24/04 com sessões às sextas e sábados às 21h e aos domingos à 19h. Ingressos gratuitos.

É sempre bom lembrar: um programa impresso com dados sobre o autor, impressões sobre a obra escritas pelos envolvidos na montagem, ficha técnica e algumas fotos é distribuído gratuitamente. A MEMÓRIA DO TEATRO PAULISTANO AGRADECE! 

09/04/2022

 

 

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