A longa despedida em silêncio de Adibe
e Miguel no cais do porto de Beirute sob uma bela luz etérea criada por Marisa
Bentivegna e ao som da música de Gregory Slivar já predispõe o público para a
bela história de amor e separação que vem a seguir.
O ano é 1914 e a primeira guerra
mundial provoca crises que chegam até o Oriente Médio. Miguel está partindo do
Libano com o intuito de “fazer a América” deixando Adibe grávida e na esperança
de que ele retorne com todas as economias do trabalho realizado do outro lado
do oceano. Ele viaja na terceira classe fedida de um navio, viagem até de luxo
se comparada com aquelas em botes de imigrantes recentes fugindo das guerras
que acontecem no mundo.
Em boa hora Eduardo Mossri retoma o
projeto iniciado com o monólogo “Cartas Libanesas” de 2015 escrito por José
Eduardo Vendramini, ampliando – o com a colaboração de Duca Rachid na
dramaturgia, colocando em cena Adibe, a companheira de Miguel.
Adibe no Libano e Miguel no Brasil
trocam cartas permanecendo ambos em cena em recurso dramatúrgico/cênico
bastante interessante. Tecidos de seda fazem parte da "mise en scène" podendo
representar o bebê que está para chegar, o leito para dormir e até os desejos
da carne, aos quais Miguel sucumbe, mas Adibe resiste mesmo com o assédio do
compatriota Omar.
Tudo é contado de maneira delicada e
poética na tradução cênica de Georgette Fadel e Luaa Gabanini, bastante
enriquecida com o desenho de luz de Marisa Bentivegna e a trilha sonora de
Gregory Slivar baseada nos sons da música árabe. Destaque também para os
figurinos de Adibe desenhados por Marichilene Artisevskis e para o pomposo
terno branco de Miguel, assinado por Fause Haten.
Eduardo Mossri volta a incorporar a
personagem de Miguel, algo que vem fazendo há alguns anos no monólogo citado
acima e sabe dividir a cena com a presença luminosa de Ana Cecilia Costa que
representa Adibe com muita verdade e emoção.
Miguel vai progredindo no Brasil como
mascate e tem vontade de voltar para a mulher e para conhecer o filho que
nasceu, mas reluta por ainda não ter conseguido a economia pretendida, Adibe,
por outro lado, vê nessa atitude um abandono de Miguel e uma distância cada vez
maior da “luz dos olhos teus”, a que se refere o sub título “ayuni” em árabe.
Miguel volta para o Libano? Adibe vem
para o Brasil? Eles vão se reencontrar? Saiba assistindo esse delicado
espetáculo que transpira amor e humanidade.
A peça está em cartaz no SESC Ipiranga até 25 demaio às sextas e aos sábados às20h e o domingos às 18h
11/05/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário