Acompanho as encenações de Cesar
Ribeiro desde 2016 quando me surpreendi com sua excelente e radical leitura de “Esperando
Godot”, apresentada na pequena Sala Piscina do extinto Viga Espaço Cênico.
Ribeiro parece ter tido um longo tempo
de maturação entre esta montagem e seu espetáculo seguinte que só aconteceu em
2021 (“O Arquiteto e o Imperador da Assíria”), a partir daí, seguiram-se “Dias
Felizes” em 2023, “Dias e Noites de Amor e Guerra” e “Prontuário 12528”, ambas
em 2024 e agora “Trilogia Kafka”.
A estética proposta por Ribeiro é tão
marcante, que basta ver uma foto ou uma cena de um trabalho para identifica-lo
como o encenador.
Espaço cênico reduzido, elaborada
cenografia (em geral de J.C. Serroni), figurinos escuros e pesados (em geral de
Telumi Hellen), visagismo extremamente carregado e expressionista (em geral de
Louise Helène) e trilha sonora potente e surpreendente (sempre assinada pelo
encenador). Tudo isso envolto em clima que lembra as encenações de Tadeuz
Kantor, os filmes expressionistas alemães e as histórias em quadrinhos, tão
caras a Ribeiro.
Tudo isso pode se chamar do “estilo
Cesar Ribeiro” que norteia cada espetáculo seu, sem deixar de revelar novidades
de acordo com o tema tratado, que sua criatividade sempre deixa presente em
cada novo espetáculo.
“Trilogia Kafka” é isso: surpreende
como novo, mas sempre dentro do “estilo Cesar Ribeiro”.
O encenador escolheu três textos
curtos de Franz Kafka para compor o espetáculo. Na verdade, ele abre a montagem
com “Diante da Lei”, curtíssimo texto interpretado pelos três atores em cenário
cheio de grades. A seguir, com alterações cenográficas a cada cena, as três
histórias se sucedem:
- “Um Artista da Fome”, permite a
Helio Cícero uma interpretação antológica, modulando a voz ao narrar ou ao
interpretar o artista que já viveu dias de glória como faquir, mas que vê sua
decadência quando sua atração perdeu o interesse do público. Voz e gestual
preciso são as marcas de mais este grande trabalho de Helio Cícero.
- Na difícil composição de um macaco
falante relatando sua experiência de humanização para uma plateia, Pedro
Conrado brilha em “Comunicado a Uma Academia”.
- O próprio Kafka atormentado surge na
figura de André Capuano que interpreta com muito vigor a pungente “Carta ao
Pai”.
Na cena final surge Kafka, ladeado por seus personagens: o artista da fome e o macaco falante.
São três interpretações poderosas que
merecem um prêmio coletivo.
O cenário de J.C. Serroni constituído de várias celas que circulam pelo espaço, a iluminação que comenta cada ação criada por Rodrigo Palmieri, o marcante visagismo assinado por Louise Helène e os figurinos de Telumi Hellen complementam o trabalho dos três atores, tudo isso harmoniosamente dirigido por Cesar Ribeiro, resultando em um dos mais importantes espetáculos da temporada.
TRILOGIA KAFKA está em cartaz no
Teatro do Núcleo Experimental até 30 de junho. Sextas, sábados e segundas às
20h e domingos às 19h.
NÃO DEIXE DE VER!
24/05/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário