sábado, 24 de maio de 2025

TRILOGIA KAFKA

 

Fotos de João Caldas

Acompanho as encenações de Cesar Ribeiro desde 2016 quando me surpreendi com sua excelente e radical leitura de “Esperando Godot”, apresentada na pequena Sala Piscina do extinto Viga Espaço Cênico.

Ribeiro parece ter tido um longo tempo de maturação entre esta montagem e seu espetáculo seguinte que só aconteceu em 2021 (“O Arquiteto e o Imperador da Assíria”), a partir daí, seguiram-se “Dias Felizes” em 2023, “Dias e Noites de Amor e Guerra” e “Prontuário 12528”, ambas em 2024 e agora “Trilogia Kafka”.

A estética proposta por Ribeiro é tão marcante, que basta ver uma foto ou uma cena de um trabalho para identifica-lo como o encenador.

Espaço cênico reduzido, elaborada cenografia (em geral de J.C. Serroni), figurinos escuros e pesados (em geral de Telumi Hellen), visagismo extremamente carregado e expressionista (em geral de Louise Helène) e trilha sonora potente e surpreendente (sempre assinada pelo encenador). Tudo isso envolto em clima que lembra as encenações de Tadeuz Kantor, os filmes expressionistas alemães e as histórias em quadrinhos, tão caras a Ribeiro.

Tudo isso pode se chamar do “estilo Cesar Ribeiro” que norteia cada espetáculo seu, sem deixar de revelar novidades de acordo com o tema tratado, que sua criatividade sempre deixa presente em cada novo espetáculo.

“Trilogia Kafka” é isso: surpreende como novo, mas sempre dentro do “estilo Cesar Ribeiro”.

O encenador escolheu três textos curtos de Franz Kafka para compor o espetáculo. Na verdade, ele abre a montagem com “Diante da Lei”, curtíssimo texto interpretado pelos três atores em cenário cheio de grades. A seguir, com alterações cenográficas a cada cena, as três histórias se sucedem:

- “Um Artista da Fome”, permite a Helio Cícero uma interpretação antológica, modulando a voz ao narrar ou ao interpretar o artista que já viveu dias de glória como faquir, mas que vê sua decadência quando sua atração perdeu o interesse do público. Voz e gestual preciso são as marcas de mais este grande trabalho de Helio Cícero.


- Na difícil composição de um macaco falante relatando sua experiência de humanização para uma plateia, Pedro Conrado brilha em “Comunicado a Uma Academia”.


- O próprio Kafka atormentado surge na figura de André Capuano que interpreta com muito vigor a pungente “Carta ao Pai”.


        Na cena final surge Kafka, ladeado por seus personagens: o artista da fome e o macaco falante.

São três interpretações poderosas que merecem um prêmio coletivo.

O cenário de J.C. Serroni constituído de várias celas que circulam pelo espaço, a iluminação que comenta cada ação criada por Rodrigo Palmieri, o marcante visagismo assinado por Louise Helène e os figurinos de Telumi Hellen complementam o trabalho dos três atores, tudo isso harmoniosamente dirigido por Cesar Ribeiro, resultando em um dos mais importantes espetáculos da temporada. 

TRILOGIA KAFKA está em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental até 30 de junho. Sextas, sábados e segundas às 20h e domingos às 19h.

NÃO DEIXE DE VER! 

24/05/2025

 

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