segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O BEM AMADO – MUSICADO -

 

Foto de Ronaldo Gutierrez

Se Dias Gomes estivesse vivo estaria comemorando seu centenário neste 2022 e com certeza estaria muito feliz com o que Ricardo Grasson fez com seu hoje clássico Odorico, o Bem Amado, escrito há 60 anos.

A história é bem conhecida: Odorico Paraguaçu, típico político deste Brasil, é candidato a prefeito da cidade de Sucupira e tem como principal promessa construir um cemitério; uma vez eleito cumpre a promessa, mas ninguém morre na cidade para que o campo santo seja inaugurado. Daí advem uma série de peripécias até o final inesperado.

Curiosamente, apesar do grande sucesso que foi O Pagador de Promessas e outras peças de Dias Gomes no Teatro Brasileiro de Comédia nos anos 1960, o dramaturgo fez sucesso muito maior na televisão do que no teatro. Em São Paulo passou décadas sem ter uma peça em cartaz, só retornando em 2008 com O Bem Amado com Marco Nanini e em 2017 com uma versão musicada por Zeca Baleiro, dirigida por Debora Dubois de O Berço do Herói, rebatizada de Roque Santeiro, devido ao grande sucesso televisivo e agora em 2022 também em versão musical com canções assinadas novamente por Zeca Baleiro, desta vez em dupla com Newton Moreno.

Com exceção da cena inicial na penumbra, que mostra o cortejo fúnebre de um cidadão de Sucupira que deve ser enterrado em outra cidade pela falta de cemitério na cidade, tudo é muito solar na encenação de Grasson, desde o cenário concebido por Chris Aizner belamente iluminado por Cesar Pivetti,  passando pelos figurinos de Fabio Namatame e as músicas de Baleiro e Moreno executadas e cantadas ao vivo. Completam a rica ficha técnica Katia Barros e Tutu Morasi (direção de movimento e coreografia), Marco França (preparação vocal), Kleber Montanheiro (adereços) e Alisson Rodrigues (responsável pelo excelente e característico visagismo que torna alguns dos atores irreconhecíveis).

Eduardo Semerjian (Dirceu Borboleta) e Ando Camargo (Vigário) estão ótimos e muito engraçados com seus tipos, estando entre aqueles atores cujas máscaras os tornam quase irreconhecíveis. As três Cajazeiras são vividas de forma caricata e muito humor pelas excelentes Rebeca Jamir (Judicéia), Luciana Ramanzini (Dulcineia) e Kátia Daher (Doroteia). Marco França interpreta Zeca Diabo e Guilherme Sant’Anna é o repórter Neco Pedreira.

Idealizador do projeto, Cassio Scapin encarrega-se com muita propriedade do protagonista Odorico, marcando mais um ponto em sua brilhante carreira.

Em ano bastante profícuo (esta é sua terceira direção em 2022), Ricardo Grasson realiza aquele que, a meu ver, é seu mais complexo e mais bem sucedido trabalho, colocando-o entre os melhores encenadores do nosso teatro.

O Bem Amado diverte e faz pensar, o que não é pouco.

NÃO PERCA!!

Um programa belo na forma e excelente no conteúdo é oferecido gratuitamente ao público. 

O BEM AMADO está em cartaz no SESC Santana até 11 de setembro às sextas às 21h, aos sábados às 20h e aos domingos às 18h. 

14/08/2022

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