segunda-feira, 15 de maio de 2023

BONNIE & CLYDE

 

Personagens muito bem construídas e desenvolvidas, numa trama dramatúrgica consistente e repleta de toques sociais (até citações de Brecht foram inseridas nos diálogos) resultaram em Bonnie & Clyde, um musical de fibra com uma história de fôlego que mantém o público atento durante as suas três horas de duração, mesmo que este já conheça o desfecho.

Bonnie Parker (01/01/1910-23/05/1934) e Clyde Barrow (24/03/1909-23/05/1934) realmente existiram e atuaram roubando, assaltando e matando durante os duros anos da depressão norte-americana, época onde valia tudo para poder sobreviver e onde a frase de Brecht citada na peça cai como uma luva: “Primeiro a barriga, depois a moral”.

 Foram metralhados pela polícia dentro do carro numa emboscada quando ainda não tinham 30 anos (cena que abre o espetáculo).

O musical baseado na saga do casal tem texto de Ivan Mitchell, letras de Don Black e música de Frank Wildhorn, foi traduzido e teve a versão das letras das músicas por Rafael Oliveira e recebeu criativa transposição cênica de João Fonseca apresentada no 033 Rooftop.

 Enriquecem a equipe criativa do espetáculo: Thiago Gimenes na excelente direção musical, Keila Bueno na direção de movimento e na coreografia, além de Tocko Michelazzo (design de som), Paulo César Medeiros (design de Luz), Cesar Costa (cenografia), João Pimenta (figurinos) e Marcos Padilha (visagismo).

Tudo funciona neste musical adulto que tem seu ponto alto no elenco e na banda de músicos.

O quarteto principal da história é formado por Bonnie, Clyde, Buck, irmão de Clyde e sua esposa Blanche. Claudio Lins despe-se de seu charme de galã para interpretar o abobalhado Buck de forma comovente; Adriana Del Claro empresta sua ótima dicção e a bela voz para compor Blanche. Eline Porto e Beto Sargentelli são igualmente notáveis como Bonnie e Clyde, emprestando humanidade e verossimilhança às duas controversas personagens. Todos atuam e cantam muito bem.

Não há como não destacar as participações de Gui Giannetto (belíssima voz) como o Pastor e Mariana Gallindo como Emma, a mãe de Bonnie.

Bonnie & Clyde adquire especial destaque entre os musicais da Broadway que se apresentam nos palcos paulistanos, a maioria sendo cópia fiel dos originais, tendo seu ponto alto na tecnologia avançada usada, com altos custos de produção, elencos numerosos e dramaturgias açucaradas dignas das sessões da tarde da TV Globo.

Ao contrário, Bonnie & Clyde tem personalidade, boa música e conta uma história verídica que, além de entreter, faz refletir sobre como aqueles tempos sombrios contribuíram para que aquele jovem casal praticasse as ações criminosas. 

Infelizmente o espetáculo saiu de cartaz no último domingo e não há previsão de seu retorno ao cartaz. 

15/05/2023

 

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