domingo, 28 de abril de 2013

BALANÇO TEATRAL DO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2013


CAIS
                Mais de 200 espetáculos estiveram em cartaz no morno primeiro trimestre teatral paulistano deste ano; só de autores brasileiros foram apresentadas 162 peças. Assisti a cerca de 40, e considerando que algumas das montagens eu já havia assistido em 2012, devo ter coberto mais de 25% do total apresentado. Com exceção da belíssima e pouco vista Cais ou Da Indiferença das Embarcações, da contundente e engajada Morro Como Um País , da delicada Ensaio e da boa surpresa que foi o musical Quase Normal, nada mais foi digno de nota e de me tirar os pés do chão, a não ser alguns notáveis espetáculos estrangeiros trazidos pelo The Wooster Group dos Estados Unidos (Hamlet), pelo inglês Theatre Ad Infinitum (Translunar Paradise) e, principalmente, pela arrebatadora coreana Jaram Lee com sua versão pansori de Mãe Coragem (experiência única, capaz de surpreender um espectador com quase 50 anos de vivência como tal). De resto foram espetáculos de medíocres a efetivamente ruins que desestimularam a saída de casa para ir ao teatro.
JARAM LEE EM MÃE CORAGEM
                Eis que o segundo trimestre começou de forma animadora; pude assistir a cinco ótimos espetáculos neste mês que ora finda:
                - Escravas do Amor: deliciosa adaptação de João Fonseca do folhetim homônimo de Suzana Flag (Nelson Rodrigues) com o grupo Fudidos Privilegiados do Rio de Janeiro.
                - O Líquido Tátil: após alguns espetáculos mal sucedidos, o grupo Espanca de Minas Gerais retoma o seu humor corrosivo numa peça escrita e dirigida pelo argentino Daniel Veronese. Metateatro envolvendo uma divertida discussão do que é melhor: cinema ou teatro e fazendo muitas referências às obras de Tchekhov. Trio de atores excelentes.
                - Armadilhas Brasileiras: espetáculo da Cia. do Feijão recém-estreado com texto de Pedro Pires e Zernesto Pessoa, com direção do primeiro. Baseado na obra de Mário de Andrade, a montagem usa recursos do metateatro para discutir a realidade brasileira. Bom elenco com destaque para a interpretação visceral de Vera Lamy. As apresentações são gratuitas.
                - Esta Criança: texto do francês Joël Pommerat em mais uma ótima encenação do paranaense Marcio Abreu da Companhia Brasileira de Teatro. Dez cenas curtas apresentando relações limites entre pais e filhos. Participação despojada de Renata Sorrah numa ótima interpretação.

                - Os Vivos e os Mortos; mais uma incursão dramatúrgica de Kiko Marques que mais uma vez prima pela delicadeza no tratamento de seus textos. Trata-se da adaptação de um conto indiano sobre uma mulher que supostamente morreu e volta ao mundo dos vivos. Flávia Pucci faz a morta com seu habitual talento e Kiko Marques faz o seu guia de maneira hilária e com um toque de mineirice. Direção de Francisco Gomes. Espetáculo com um alto astral.
                Vamos torcer para que essa tendência continue até o final da temporada.