quinta-feira, 29 de março de 2018

LOVE, LOVE, LOVE



        Em 1967 os Beatles proclamavam ao mundo: “All You Need Is Love”! É embalado nessa música que o casal Sandra e Kenneth, personagem do inglês Mike Bartlett, inicia e termina a peça Love, Love, Love. A trama foca o casal em 1967 e depois com dois filhos em 1990 e 2014. Muitos sentimentos surgem na relação desses quatro personagens: tesão, indiferença, egoísmo, inveja, ressentimento, ódio e até compaixão. Tudo! Menos o “love” do título. O texto é bastante cruel ao mostrar embate entre pares e entre gerações onde ninguém sai ileso. Não há culpados, nem inocentes ao mesmo tempo em que todos têm alguma razão para agir do modo que agem. O texto que remete ao teatro de Edward Albee é muito bem construído, apesar de mostrar certa inverossimilhança no comportamento do casal central ao longo do tempo (ao meu modo de ver aqueles dois jovens hippies dificilmente se tornariam aqueles adultos dos anos seguintes).


        Acertadamente Eric Lenate realiza sóbria direção que enfatiza o trabalho dos atores sem os arrojos criativos na concepção cenográfica que lhe são tão caros, mas que não caberiam nesse tipo de texto. Essa criatividade do diretor aflora nas mudanças de um período para o outro quando a contrarregragem feita pelos atores na mudança do cenário e dos objetos de cena assume ares de uma dança coreográfica. Os figurinos de Fábio Namatame e as perucas utilizadas, assim como, a trilha sonora de L.P. Daniel ajudam a caracterizar os personagens no decorrer do tempo transcorrido na peça (47 anos).
        Para bom resultado, texto desse tipo necessita de elenco afiado e talentoso e esse absolutamente não foi empecilho para o sucesso desta montagem. Mateus Monteiro tem uma breve, mas significativa aparição na primeira cena (1967) como Henry que perde a namorada Sandra para o irmão Kenneth. Alexandre Cioletti é uma grata surpresa como o hippie tresloucado Kenneth em 1967 e como o filho aloprado de Kenneth e Sandra em 1990 (ele tem cena antológica na abertura desse ano) e 2014. Augusto Madeira é o pai yuppie Kenneth em 1990 e 2014 dosando muito bem o cômico e o dramático do personagem. Todos têm momentos brilhantes na encenação, mas aqueles mais luminosos ficam por conta de Débora Falabella como a louquinha Sandra com 19 anos em 1967 e depois como sua filha (adolescente rebelde em 1990 e adulta frustrada em 2014) e mais que nunca de Yara Novaes que interpreta a inconsequente mãe Sandra aos 42 anos e aos 66 anos. Yara é responsável pelos momentos mais tensos e os mais cômicos do espetáculo, dando um verdadeiro show de interpretação, sendo plenamente justificados os prêmios que vem recebendo por este trabalho.
        A montagem é uma realização do Grupo 3 de Teatro que tem em sua consistente “folha de serviço”  os espetáculos A Serpente, O Continente Negro, O Amor e Outros Estranhos Rumores e Contrações (do mesmo autor deste Love. Love. Love).
        Com mais “love” talvez possamos criar famílias menos disfuncionais do que a mostrada nesta tragicomédia.

        LOVE, LOVE, LOVE está em cartaz no Teatro Vivo até 27/05 às sextas (20h), aos sábados (21h) e aos domingos (18h). NÃO DEIXE DE VER!

29/03/2018
       



segunda-feira, 26 de março de 2018

OPUS XV



RAPSODOS CANTAM ANTROPOFÁGICA

            É gratificante para quem acompanha a cena paulistana ver o amadurecimento e a evolução de um grupo teatral. Não faz muito tempo que acompanho os espetáculos da Companhia Antropofágica; assisti à Trilogia Terror e Miséria no Novo Mundo, me surpreendi com o excelente Desterrados e agora mais uma vez me surpreendo com o novo espetáculo do grupo Opus XV.
        Trata-se quase de uma retrospectiva dos trabalhos do grupo, onde “antropofagizam” (não sei se existe o verbo) várias obras (O Rei da Vela de Oswald de Andrade, A Classe Morta de Tadeusz Kantor, Veridiana de Luis Buñuel, 2001, Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick e até um trecho belíssimo de Solo de Clarineta de Érico Veríssimo) e a eles mesmos, porque várias desses atos antropofágicos já foram feitos em outros espetáculos.


        O espetáculo dirigido por Thiago Reis Vasconcelos não esquece em nenhum momento de denunciar as mazelas deste Brasil corrupto, nem do caos da contemporaneidade, mas o faz de maneira multiface, deixando para o espectador a decisão de que lado ficar. A encenação é visualmente bonita auxiliada pela criativa iluminação de Rafael Frederico e Renata Adrianna e pela nova disposição do espaço agora com poltronas mais confortáveis doadas pela nova gestão da SATED.
        O prólogo é realizado na sala de espera do teatro e consta de uma significativa cena do primeiro ato de O Rei da Vela, onde o cliente Pitanga (Marta Guijarro, sempre ótima) vai solicitar uma redução no capital que deve ao agiota Abelardo; segue-se uma cena de conjunto onde Fabi Ribeiro interpreta o texto de Veríssimo que, a meu ver, serve como um manifesto do grupo; texto tão importante que o reproduzo abaixo:

        “Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, trazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto”.

        Uma vez deslocado para o espaço cênico o espectador se depara com o elenco desnudo dando uma pequena biografia e o tempo em que está na companhia. Segue-se um caleidoscópio visual e sonoro que inclui cenas de canto coral numa formação de orquestra cuja composição cênica remete à estética de Kantor (que exerce grande influência no grupo), muita música sob a ótima direção musical de Lucas Vasconcelos, pantomimas, bonecos e até um número de dança em um espetáculo formado de quadros/fragmentos que lembra o formato do teatro de revistas e aqui batizado (apropriadamente, diga-se de passagem) de rapsódia.
        O numeroso elenco é coeso cantando muito bem (preparados por Bruno Mota e pela sempre bem vinda Iraci Tomiato do Engenho Teatral) e interpretando melhor ainda os diversos personagens/tipos que lhe cabe.
        Sabiamente a peça se encerra com o mesmo texto de Érico Veríssimo que abre o espetáculo.
        OPUS XV dura quase duas horas que passam voando. É espetáculo obrigatório para quem ama e acompanha o teatro de grupo realizado em São Paulo. Quem assistir vai testemunhar a maturidade da Companhia Antropofágica que ainda vai continuar nos surpreendendo com seu novo projeto D.E.T.O.X. (Devising Experimental de Toxicologia do Objeto X). OBS: Não entendo por que o título em inglês.

        OPUS XV está em cartaz no Espaço Pyndorama (Rua Turiassú, 481) até 22 de abril, às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h. Entrada gratuita. Mais informações: 3871-0373/contato@antropofagica.com

26/03/2018
       

quarta-feira, 21 de março de 2018

PRÊMIO SHELL DE TEATRO 2018 – SÃO PAULO



        Aconteceu na noite tempestuosa de terça feira na bonita Villa Vérico a entrega do Prêmio Shell àqueles considerados pelo júri os melhores em sete categorias no teatro realizado em São Paulo em 2017. O evento foi apresentado por Claudia Ohana.
        Os maiores vencedores, com dois prêmios cada um, foram os espetáculos Refluxo e Grande Sertão Veredas.

Foto de LeeKyung Kim

        A grande surpresa da noite foi o prêmio de melhor autor para Angela Ribeiro (merecidíssimo!!) por Refluxo que valeu um emocionado agradecimento da premiada invocando a luta e a figura de Marielle, barbaramente assassinada na semana passada no Rio de Janeiro. A estonteante concepção cênica de Eric Lenate só podia levar o prêmio de melhor cenário.

Foto de Roberto Pontes

        Grande Sertão: Veredas ganhou em direção (Bia Lessa) e ator (Caio Blat, que também fez um virulento grito de alerta contra a “guerra” em que se encontra o país).
       Ilana Kaplan ganhou por Baixa Terapia e louvou a escolha para uma atriz de comédia dizendo que esse gênero é raramente lembrado nas premiações. 
        A melhor música ficou com Marcelo Pellegrini pela deliciosa trilha de Pagliacci. Em seu discurso louvando o circo e os palhaços ele não podia deixar de homenagear Fernando Sampaio e o saudoso Domingos Montagner, criadores da LaMinima e mentores do projeto Pagliacci.
        O prêmio de melhor iluminação foi para o ausente Wagner Pinto (Dilúvio) e o de melhor figurino para Ronaldo Fraga (A Visita da Velha Senhora).
        Quanto ao prêmio “Inovação” creio ter sido o que mais trabalho deu para o júri, pois os quatro indicados tinham potencial enorme para vencer: Mundana Companhia, Mungunzá, Grupo XIX e Teatro do Sol. Não havia dúvidas entre todos com quem falei que a vencedora seria a Mungunzá com seu mais que inovador Teatro de Contêiner instalado bravamente na região da Luz, mas o júri optou pela também corajosa ocupação que o Grupo XIX de Teatro faz a alguns anos na Vila Maria Zélia. Tenho certeza que os não vencedores sentiram-se honrados em “perder” para o Grupo XIX.
        O ator Ney Latorraca foi o homenageado desta edição. 
        A meu ver dois erros de logística da organização do evento provocaram um momento bastante desagradável quase ao final da premiação. O primeiro erro foi deixar para o final a homenagem a Ney Latorraca, uma vez que os interesses da maioria dos presentes estavam voltados para a divulgação dos premiados e o segundo erro foi manter aberta a divisória que separa o salão da premiação daquele onde havia os comes e bebes. Uma parte dos presentes se dirigiu ao segundo salão ao final da divulgação e quando Ney Latorraca fazia seu discurso de agradecimento, ouviam-se ao fundo as vozes da multidão que papeava enquanto comia e bebia. Visivelmente incomodado o ator começou a se dirigir grosseiramente à outra sala chegando ao cúmulo de lhes chamarem de “alcoolatras anônimos”. Lamentável! Por mais razão que tivesse isso não é atitude de um homenageado.
        Mas como tudo acaba em festa, a bela recepção continuou até mais tarde com os convivas bebendo, comendo e se congraçando enquanto continuava a chover lá fora.
        Parabéns aos premiados, aos indicados e a todos os profissionais que enriqueceram a cena paulistana em 2017.

21/03/2018


segunda-feira, 19 de março de 2018

BOCA A BOCA – UM SOLO PARA GREGÓRIO



        Sempre me intrigaram, ao mesmo tempo em que gostava muito, daqueles versos que abrem a canção Triste Bahia que Caetano Veloso lançou no LP Transa de 1972:

        Triste Bahia, oh quão dessemelhante estás
         E estou do nosso antigo estado...”


        Foram precisos 46 anos para eu realizar que aqueles versos foram escritos no século XVII por um poeta baiano que por sua irreverência e seu agressivo e delicioso tom politicamente incorreto foi banido para Angola e ao voltar teve que se radicar em Pernambuco não podendo mais voltar à sua terra natal. Pois é: Triste Bahia! Triste Brasil! Trata-se do mais que atual Gregório de Matos (1636-1996) e é a ele dedicado o ótimo Boca a Boca – Um Solo Para Gregório roteirizado e dirigido por João Sanches e com uma não menos que excepcional interpretação de Ricardo Bittencourt.


        A palavra do poeta, infelizmente extremamente atual, não deixa pedra sobre pedra ao falar dos políticos, das autoridades e da sociedade de sua época, além de criticar maliciosamente os usos e costumes. Simples e direto no conteúdo, mas extremamente sofisticado e complexo no uso de palavras e na construção das frases, o poema de Matos é um desafio para os ouvidos do século XXI e para sua compreensão tem um grande aliado no intérprete Ricardo Bittencourt que usa seus atributos gestuais para explicitar/elucidar este ou aquele dizer mais obscuro, tornando o espetáculo agradável e palatável para qualquer público. Esse tom pop é reforçado pela enxuta direção de João Sanches que se utiliza de poucos elementos cênicos além de criativa iluminação de sua autoria e do acompanhamento musical com a guitarra de Leonardo Bittencourt.
        Além dos poemas de Matos divididos em temas, o roteiro contempla dados da vida do poeta que mostram como este Brasil era, e continua sendo, hipócrita.
        Boca a Boca – Um Solo Para Gregório é espetáculo obrigatório para se conhecer de maneira bastante lúdica um pouco da vida e obra desse quase desconhecido poeta brasileiro, além de testemunhar uma das grandes interpretações do ano.
        Cartaz do SESC Pinheiros somente até o final desta semana (24/03) de quinta a sábado às 20h30.

        19/03/2018

       


domingo, 11 de março de 2018

MITsp 2018




BALANÇO da 5ª MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO DE SÃO PAULO (MITsp)                   
 (01-11/03/2018)

        Questões de trabalho e um problema de saúde impediram que eu acompanhasse mais de perto a Mostra deste ano. Não participei de nenhuma das atividades paralelas me limitando aos espetáculos internacionais, ainda assim deixando de assistir a Hamlet e sal..

        Para este espectador dois espetáculos já justificariam a realização do evento de 2018 criado como sempre com muita garra por Antonio Araújo e Guilherme Marques. São eles: Árvores Abatidas (Polônia) e Campo Minado (Argentina).


        Campo Minado da argentina Lola Arias é teatro documento (ou teatro depoimento, pois os atores são as pessoas que viveram o que é apresentado) da melhor qualidade. Seis veteranos da Guerra das Malvinas (três argentinos e três ingleses) apresentam fatos ocorridos nesse absurdo evento e como cada um deles esteve envolvido no mesmo. Recursos simples de projeção de documentos e fotos ilustram eficazmente a encenação. O que foi animosidade no passado revela-se hoje uma camaradagem, mostrando o profundo humanismo contido na encenação de Arias.


        Árvores Abatidas foi o grande momento - momento esse de quase cinco horas! – desta Mostra. O espetáculo de Krystian Lupa, que tem por base o romance homônimo de Thomas Bernhard, é um verdadeiro mosaico da condição humana. A cenógrafa Joana suicidou-se e ela fazia parte de um grupo de artistas.  A partir da reunião para um jantar desses artistas, que tiveram momentos de glória e de criatividade e que hoje amargam uma alienante decadência, são mostradas as mazelas da sociedade contemporânea sem nunca esquecer as questões teatrais que envolvem esses personagens. Vários temas são abordados: o suicídio, o papel do artista diante da arte e do poder envolvido e as relações humanas do modo mais abrangente possível. Junta-se a Cineastas (2014), A Gaivota (2015), Opus nº 7 (2015) e Ça Ira (2016), outros preciosos espetáculos trazidos pela MIT

         Mas houve também a surpreendente vocalização (digna dos Swingle Singers, quem se lembra?) do grupo dirigido por Joris Lacoste em Suíte Nº 2, o humor non sense do estranho musical King Size orquestrado por Christoph Marthaler, a performance de Bertrand Lesca e Nasi Voutsas em Palmira que, daquela antiga cidade da Síria só leva o título, para fazer uma interessante discussão da relação opressor e oprimido onde a plateia tem que tomar partido de um dos lados e, finalmente, País Clandestino, simpática encenação de cinco encenadores/dramaturgos/atores de origens diversas (incluindo o nosso Pedro Granato) que tem ótimos momentos, mas peca, ao meu ver, ao não decidir se enfatiza o público (política, manifestações) ou o privado (relações familiares, recado aos filhos que virão), ficando no meio termo, sem aprofundar nenhum deles.

        Cabe lembrar a importância da realização da MITbr que teve como objetivo mostrar aos artistas estrangeiros presentes no evento, um pouco do teatro que se realiza no Brasil, com a possibilidade de “internacionalizar” as artes cênicas brasileiras.

        Como bem lembrou Danilo Santos de Miranda na abertura da MITsp, a chama e o espírito empreendedor de festivais internacionais de teatro em São Paulo implantados heroicamente por Ruth Escobar em 1974 estão acesas pelas mãos dos guerreiros Antônio Araújo e Guilherme Marques. E que venha a MITsp 2019!!

11/03/2018
               


sábado, 3 de março de 2018

TEATRO AUGUSTA



        No final dos anos 1960 e início da década de 1970, em plena ditadura militar, o Baixo Augusta era tomado por aquilo que a esquerda festiva chamava de divertimento burguês e alienado. Ali proliferavam boates e bares onde era comum se assistir a shows de Leny Andrade, Johnny Alf, Roberto Carlos, Maria Bethânia e até Elis Regina (na A Baiúca na Praça Roosevelt). Não havia as saunas mixtas de hoje; eram boates frequentadas por estudantes e pela classe média alta que normalmente apresentavam ótimas atrações musicais. Em 1971 surge a famosa Boate Medieval, que mobilizou a ainda tímida comunidade gay paulistana. Quatro bons cinemas ocupavam a “baixa” Rua Augusta: Picolino, Majestic (atual Espaço Itaú de Cinema), Cosmos 70 e Marachá, mas não havia nenhum teatro na região.


        É nesse ambiente que em 1973, Luiz Sérgio Person (1936-1976) com o auxílio de Glauco Mirko Laurelli (1930-2013) inaugura em grande estilo o Auditório Augusta. O espetáculo inaugural foi El Grande de Coca Cola, dirigido por Person e interpretado, entre outros, por Armando Bógus, Cacilda Lanuza e Suely Franco. Era uma encenação no estilo cabaré onde uma família de artistas mambembes fingia-se de uma companhia com grandes atrações internacionais. Divertida e inconsequente a peça fez enorme sucesso, o que incentivou o diretor a partir para algo mais sério no ano seguinte e encenar Entre Quatro Paredes de Sartre.



        O maior sucesso do Auditório Augusta estava por vir. No mesmo 1974 Person dirige Orquestra de Senhoritas de Jean Anouilh. O teatro foi transformado em um café-concerto e as “senhoritas” eram interpretadas por homens, algo que remetia ao filme Quanto Mais Quente Melhor (1959) de Billy Wilder, a melhor comédia cinematográfica de todos os tempos. Paulo Goulart teve um dos grandes momentos de sua carreira, interpretando a impagável Madame Hortense, a líder tirânica da orquestra. A peça foi o fenômeno teatral da temporada de 1974 seguindo em cartaz até o ano seguinte. Foi o auge do Auditório, que além dessa atração principal, apresentava shows, exposições de arte e espetáculos em horários alternativos, caso de outro sucesso, o excelente Brecht Segundo Brecht, dirigido por Oswaldo Mendes.



        Em 1975 a casa apresenta a polêmica Lição de Anatomia, peça de origem argentina onde os atores se apresentavam nus.


        Com a morte de Person em 1976, a administração do teatro segue com Glauco Mirko Laurelli e até o final dos anos 1980 apresenta vários espetáculos significativos como A Noite dos Campeões, Volpone, Patética, Besame Mucho e Na Carrêra do Divino (2ª montagem).
        A década de 1990 não é das melhores para o espaço, culminando com o seu fechamento em 1995.


        Por iniciativa de Joaquim Goulartt a casa é reformada e reinaugurada em 1999 agora com o nome de Teatro Augusta. A partir daí surgem bons espetáculos como Visitando o Sr. Green com Paulo Autran, Navalha na Carne, Aldeotas, R&J, Cândida, alguns deles na Sala Experimental, pequeno espaço multiuso reservado para espetáculos experimentais/alternativos.
        Em 2015 o teatro passa para as mãos dos jovens atores Luciana Garcia e Tiago Pessoa que rebatizaram a sala principal com o nome de Paulo Goulart. Um sensacional retorno dos Dzi Croquettes e significativos espetáculos alternativos na Sala Experimental marcam positivamente a gestão de seus novos donos.
        Comemorando 45 anos em 2018, o Teatro Augusta é um dos mais importantes espaços cênicos da cidade de São Paulo e como todo teatro é um templo sagrado de esperança e utopia.  Espera-se que a curadoria (Isabel Pessoa) realize uma programação que contemple tanto o lado comercial como o artístico fazendo jus à tradição desse importante espaço cultural que enobrece o Baixo Augusta.



19/02/2018

quinta-feira, 1 de março de 2018

BRINCANDO EM CIMA DAQUILO OUTRA VEZ


        Roberto Vignati é o encenador brasileiro que mais encenou o Premio Nobel de Literatura, Dario Fo (1926-2016) por aqui. Em 1984 realizou uma montagem memorável com Marília Pêra com o título de Brincando Em Cima Daquilo composta de cinco cenas escritas por Dario Fo e sua esposa Franca Rame (1929-2013) sobre a violência com a mulher. Segundo Vignati o casal escreveu mais de 25 cenas sobre esse tema e agora ele retoma esse material escolhendo três cenas interpretadas pela atriz Nina Rocha.
        Ri-se menos nessa montagem em relação àquela de 1984. Os tempos são outros: Mais duros e sem perspectivas. Naquela época, apesar de tudo e de todos os malefícios deixados pela ditadura militar que, dizem, tinha acabado, ainda havia esperança de dias melhores com homens mais justos no poder. Trinta e quatro anos depois vejam a que ponto este país chegou! Mas isso é outra história!
        Tive o prazer de assistir ao primeiro ensaio aberto dessa nova montagem. Duas das cenas oscilam entre a comédia e a quase tragédia numa dosagem perfeita do diretor e equilibrada pela perfeita trilha sonora, sendo que na primeira cena os sons praticamente regem os movimentos da atriz em uma coreografia altamente sofisticada (marca registrada de Vignati). A cena intermediária tem alta carga dramática com a descrição do estupro por voz gravada, enquanto a atriz reproduz com gestos faciais o horror da situação.

Nina Rocha e Roberto Vignati

        Nina Rocha revela potencial para as várias personagens que interpreta. Com a repetição dos ensaios em presença de público, ela vai achar o ponto e as movimentações certas para a harmonia almejada pelo exigente diretor.
        Vale a pena conferir o nascimento dessa importante montagem nos ensaios abertos que ocorrem na Oficina Cultural Oswald de Andrade nesta quinta (01/03) e sexta (02/03) às 20h e no sábado (03/03) às 18h. Entrada gratuita.

01/03/2018