sábado, 21 de julho de 2012

OPERETA DE BOTEQUIM e ZUMBI. ALGO EM COMUM?

                Alguns metros além do Teatro de Arena onde há quase 50 anos (1965) surgiu Arena Conta Zumbi , está em cartaz no Teatro da Companhia do Feijão apenas neste e no próximo fim de semana, um dos espetáculos musicais engajados mais belos da temporada teatral paulistana de 2012. Trata-se de Opereta de Botequim encenada pelo grupo Engenho Teatral com direção de Luiz Carlos Moreira . Um elenco afinadíssimo (em todos os sentidos) dá vida a uma série de canções compostas especialmente para o espetáculo (músicas de Juh Vieira e letras escritas por boa parte do elenco e pelo diretor) que falam da opressão sofrida pelo homem comum na perversa sociedade contemporânea e como diz o programa da peça “E nóis, mano? Não temos nada a ver com isso?”.  E ainda citando o programa “Faz rir e faz pensar. É diversão, mas não é distração”. Realizado com muito vigor, saímos do teatro energizados e com ganas de mudar o mundo. Sensação parecida com aquela de 50 anos atrás. A pergunta que não quer calar é “O que fizemos com aquela energia e com o mundo?”, mas isto, absolutamente não invalida o potente espetáculo do Engenho, ainda mais se levarmos em conta que o espetáculo é dirigido para o público de periferia não acostumado a ir a um teatro e que lota o seu belo espaço/circo localizado na Vila Carrão. Em tempo: a cena final é contagiosa e nos reserva uma grande surpresa.
                Ignorado pela mídia este espetáculo precisa ser urgentemente divulgado para ser assistido por todos aqueles que amam o teatro e que acreditam que ainda é possível alterar alguma coisa por meio da arte, no caso a teatral. NÃO PERCAM!!

Foto de divulgação

                OPERETA DE BOTEQUIM – Espetáculo GRATUITO do grupo Engenho no Teatro da Companhia do Feijão, Rua Teodoro Baima, 68 – fone: 3259-9086. De 20 a 29 de julho. Sextas e sábados às 21 horas/Domingos às 19 horas.
               
               

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Lista de indicad@s ao Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro - 2012
1° Semestre

Comissão julgadora do Prêmio CPT 2012.
Christiane Galvan (Cia. Vagalum Tum Tum)
Ênio Gonçalves
 (Ator)
José Cetra Filho (UNESP)
Luiz Fernando Ramos (USP)
Raquel Rollo (Trupe Olho da Rua - Santos)

Lista de indicad@s:

1 - Dramaturgia: criação individual ou coletiva em espetáculo apresentado em sala convencional, rua ou espaço não convencional
1. “Fábio Resende” por “Corinthians, meu amor – segundo Brava Companhia, uma homenagem ao Teatro Popular União e Olho Vivo”, Brava Companhia.
2. “Cássio Pires” por “Ifigênia”, Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.
3. “Paulo Santoro” por “Plínio Contra as Estrelas”, Cia. Santa Cacilda.
4. “Coletiva” por “Barafonda”, Cia. São Jorge de Variedades.

2 - Direção: criação individual ou coletiva em espetáculo apresentado em sala convencional, rua ou espaço não convencional
1. “Antônio Araújo” por “Bom Retiro 958 Metros ”, Teatro da Vertigem.
2. “Kleber Montanheiro” por “Cabeça de Papelão”, Cia. da Revista.
3. “Coletiva” por “Barafonda”, Cia. São Jorge de Variedades.

3 - Elenco: em espetáculo apresentado em sala convencional, rua ou espaço não convencional
1.  La Mínima, por “Mistero Buffo”.
2. Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, por “Ifigênia”.
3. Boa Companhia, por “Portela, patrão, Mário, motorista”.
4. Brava Companhia, por “Corinthians, meu amor – segundo Brava Companhia, uma homenagem ao Teatro Popular União e Olho Vivo”.

4 - Trabalho apresentado em sala convencional
1. “Mistero Buffo”, do La Mínima.
2. “Ifigênia”, da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.
3. “Macbeth”, com direção de Gabriel Vilela.

5 - Trabalho apresentado em rua
1. “Barafonda”, da Cia. São Jorge de Variedades.
2. “Taiô”, da Cia. do Miolo.

6 - Trabalho apresentado em espaços não convencionais
1. “Mateus, 10” , Tablado de Arruar.
2. “Corinthians, meu amor – segundo Brava Companhia, uma homenagem ao Teatro Popular União e Olho Vivo”, Brava Companhia.
3. “Quase-Memória”, A Digna Companhia de Teatro e Dança.

7 - Trabalho para platéia infanto juvenil: apresentado em sala convencional, rua ou espaço não convencional
1. “Jucazécaju”, Cia. Circo Mínimo.
2. “Bruxas, Bruxas... e Mais Bruxas!”, Grupo As Meninas do Conto.
3. “Esses Olhos tão Grandes”, Cia. de Teatro Mevitevendo.

8 - Grupo ou Companhia revelação: do interior, litoral ou capital do Estado
1. Trupe Sinhá Zózima.
2. Grupo Teatral Parlendas.
3. Teatro do Kaos (Cubatão-SP).

9 - Trabalho apresentado no interior e litoral paulista: em sala convencional, rua ou espaço não convencional
1. “A Falecida”, Teatro do Kaos (Cubatão-SP).
2. “Portela, patrão, Mário, motorista”, Boa Companhia (Campinas-SP)
3. “Circo di Due”, GTI – Grupo Teatro do Imprevisto (São José dos Campos-SP).

10 - Projeto Visual: compreendendo a integração orgânica entre os elementos plásticos e visuais do espetáculo e sua realização cênica - iluminação, cenografia, figurino, adereços e maquiagem
1. “As Desgraçadas” – direção: Beatriz Morelli. Cenografia, iluminação e fotos: Ding Musa, Cenotécnico: Pedro Terra, Figurino: Mira Andrade e Assistente de figurino: Rita Batata. Cia Auroras.
2. “Bom Retiro 958 Metros ” - Direção: Antônio Araújo. Desenho de luz: Guilherme Bonfanti, Direção de Arte: Carlos Teixeira, Co-direção de Arte: Amanda Antunes, Figurinos: Marcelo Sommer, Coordenação de figurinos: Kassia Garcia, Imagem: Grissel Piguillem e Midiadub. Teatro da Vertigem.
3. “Jucazécaju” – Direção: Carla Candiotto, Desenho de Cenografia, figurinos e adereços: Marco Lima, Iluminação: Wagner Freire e Adereços (Confecção): PalhaAssada Atelier. Cia. Circo Mínimo.

11 - Projeto Sonoro: compreendendo a integração orgânica entre os elementos sonoros do espetáculo e sua realização cênica - palavra, canto, trilha original ou adaptada, arranjos e sonoplastia
1. “Bom Retiro 958 Metros ” – Teatro da Vertigem.
Trilha Sonora Original: Érico Theobaldo e Miguel Caldas, Desenho de som: Kako Guirado, Preparação Vocal: Isabel Setti.  
2. “Cabeça de Papelão” – Cia. da Revista.
Direção Musical: Adilson Rodrigues, Músicos: Gabriel Hernandez e Nina Hotimsky.
3. “Mistero Buffo” – LaMínima.
Direção Musical / Música originalmente composta: Marcelo Pellegrini, Música do Entreato: “O Romance das Caveiras”; Alvarenga, Ranchinho e Chiquinho Sales, Poema musicado: “Ave Mari das Eleições”; Leandro Gomes de Barros e Execução de músicas: Fernando Paz.

12 - Ocupação de espaço: compreendendo sala convencional, rua ou espaços não convencionais, no interior, litoral ou capital do Estado
1. Cia. São Jorge de Variedades por “Barafonda” – com o espetáculo itinerante que percorre as ruas do bairro da Barra Funda SP.
2. Teatro da Vertigem por “Bom Retiro 958 Metros ” – com o espetáculo itinerante que percorre as ruas do bairro do Bom Retiro SP e termina no antigo Teatro Taib.
3. Companhia Teatro de Heliópolis “O Dia em Túlio Descobriu a África” - Ocupação da Casa de Teatro Maria José de Carvalho.

13 - Publicação dedicada ao universo do teatro: suas diversas vertentes, relações e linguagens, em projetos de grupos e companhias teatrais, instituições ou similares
1. Nem Uma Lágrima – Teatro Épico em Perspectiva Dialética - Iná Camargo Costa. Editoras: Expressão Popular / Nankin Editorial.
2. Das Margens e Bordas – Relatos de Interlocução Teatral – Companhia Estável de Teatro 10 Anos. Organização Iná Camargo Costa.
3. Caderno de Erros II – Brava Companhia. Relato de processo.
4. Revista “Sobe?” – Cia. Elevador de Teatro Panorâmico. ANO II.

14 - Grupo ou Cia com sede em “espaços fora de circuito comercial ou tradicional”
1. Espaço Teatro Aberto em Santos SP.
2. Casa Três de Artes em Guarujá SP.
3. Oca – Espaço Sede Nativos Terra Rasgada em Sorocaba SP.

15 – Prêmio Especial
1. Intervenção 22 – os 90 Anos da Semana de Arte Moderna – Cia. Antropofágica de Teatro – Dia 08 de abril de 2012. Participação de Thiago Abdalla, Lígia Campos, Cia. Estável de Teatro, Cia. Estudo de Cena, Companhia do Feijão, Brava Companhia e Kiwi Companhia de Teatro que começou no saguão do Theatro Municipal e depois percorreu as ruas com as Máquinas de Intervenção Urbana até o Espaço Pyndorama (Sede do grupo).
2. Projeto 7 leituras, 7 autores, 7 diretores do SESC Consolação. Concepção e direção geral de Eugênia Thereza de Andrade que realiza ciclos de leituras dramáticas convidando atores e diretores de vários grupos e quadrantes para dirigí-las.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

BOM RETIRO 958 METROS

       
          Levando-se em conta minha grande admiração pelo trabalho de Antônio Araújo, eram grandes as minhas expectativas em relação ao novo espetáculo do Teatro da Vertigem, expectativas essas que não se confirmaram.


          A frágil dramaturgia com personagens muito rasas – a consumista que deseja comprar um vestido vermelho, a costureira boliviana que trabalha noite e dia, o cracômano que tem uma pedra de estimação, a noiva que não encontra a saída, a empregada doméstica, o manequim defeituoso- é a grande vilã do espetáculo. Os locais percorridos são muito impactantes e as soluções cênicas também. O impacto é aumentado com os perfeitos efeitos de luz e som, mas tudo se reduz com o fraco texto dito pelos atores. Há um constrangedor momento – que independe da dramaturgia- em que os cracômanos fazem uma ensaiada e “bonitinha” coreografia no devastado palco do antigo Taib. Para quê? A cena final com a evacuação do teatro e com os manequins jogados na caçamba foi a única que realmente me tocou e me remeteu aos melhores momentos dos espetáculos anteriores do Vertigem. Digna de nota a faixa “Passa-se o ponto” pendurada na porta do teatro. Consumismo, viciados, superficialidade do ser humano, disputas materiais, preconceito são temas seriíssimos tratados no espetáculo, mas que resultariam mais contundentes com monólogos/diálogos consistentes.
         Não há como não comparar o solar Barafonda com o sombrio Bom Retiro 958 metros; ambos são espetáculos com forte preocupação social, propõem-se a fazer intervenções em bairros relativamente degradados e realizam parte da encenação na rua (não confundir com teatro de rua). Meu ponto de vista é que a grande diferença entre eles é a consistência da dramaturgia do primeiro.

MUITA EMOÇÃO NO DIA EM QUE TÚLIO DESCOBRIU A ÁFRICA

     Há uma frase atribuída a Ferreira Gullar que diz “A arte tem de ter algo que me tira do chão e deslumbra”. O deslumbramento veio desta vez com a surpresa pelo emocionante trabalho da Companhia de Teatro Heliópolis apresentado em um galpão nos fundos da casa que pertenceu á professora  Maria José de Carvalho (1919-1995) no Ipiranga.

     A abertura do espetáculo já pega o público pela emoção quando cada um dos atores se apresenta, fala seu nome e depois diz “mas aqui pode me chamar de Túlio”. Neste ponto, houve um momento mágico no dia em que assisti ao espetáculo, só possível de acontecer no teatro, porque único e irreprodutível: a atriz Dalma ao se apresentar comentou o fato de ser mãe de duas crianças e olhou ternamente para uma mãe que estava entre o público com um bebê no colo. Túlio é um jovem  office boy da favela de Heliópolis que é abordado por soldados na rua e apanha por puro preconceito, além de ter o dinheiro com o qual ia fazer um pagamento confiscado. A mãe embala seu sono e lhe oferece brigadeiro de colher. Túlio se transporta para a África e com a ajuda de um guia descobre suas raízes e a importância da cultura africana. Neste momento a peça torna-se excessivamente didática, o que se pode entender, pelo fato da mesma ser endereçada a um público jovem formado por estudantes das escolas no entorno da favela de Heliópolis. A partir da chegada da Europa (protagonizada  de forma bastante discreta e sem estereótipos pelo também capoeirista Donizete Bomfim) a peça retoma o seu caráter épico e termina de forma poética com a oferenda da água para o público (que curiosamente, talvez por timidez, não reagiu e não tocou na água).
      Espetáculo simples, feito com poucos recursos, mas eficiente e comovente na sua espontaneidade e que cumpre um importante papel de iniciar os jovens no mundo do teatro e também nos assuntos relativos a preconceitos não só raciais, mas também de classe e sexuais.
     Parte dos atores não pertence à comunidade de Heliópolis e tem experiência profissional como Ju Colombo (voz possante e presença marcante) e Bruno Lourenço (que interpreta Túlio com muita desenvoltura), mas o elenco como um todo é muito harmonioso. As soluções cênicas e o desempenho homogêneo do elenco devem-se à segura direção do jovem Miguel Rocha, também integrante da comunidade de Heliópolis.
     Lamentavelmente o espetáculo saiu de cartaz no último fim de semana, mas se voltar o cartaz recomendo vivamente que as pessoas sensíveis e carentes de um teatro alternativo de qualidade vão assisti-lo.