segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

DE TODAS AS MANEIRAS QUE HÁ DE AMAR


 
 
        Uma caixinha de música que ao ser aberta reproduz a suave emoção de um adágio de Mahler, um pacotinho com um presentão dentro, uma caixa de bombons finíssimos...
        Foram essas minhas sensações ao assistir à nova encenação de Eduardo Tolentino de Araújo em cartaz na aconchegante Sala Atelier localizada no segundo andar do Aliança Francesa da Rua General Jardim. Com a garantia de excelência do Grupo TAPA, este trabalho minimalista de Tolentino volta-se mais uma vez para as relações humanas, tratando aqui da vivência de um casal de meia idade junto há mais de 25 anos.
        Duas poltronas, um tapete, um lustre, algumas rosas e livros que o casal está lendo quando o público adentra a sala são os únicos adereços utilizados, além de uma discreta iluminação. Isso é mais que suficiente para que os não menos que excelentes Clara Carvalho e Brian Penido Ross desfilem para o espectador as maneiras de amar e desamar d’Ela e d’Ele, descritas com maestria por Edward Albee (1926-2016) através de pequenas e até minúsculas cenas (algumas duram alguns segundos) separadas por black outs. Há um interessante momento previsto no original em que os atores interrompem a ação para se apresentarem.
        Counting the Ways no original (algo como Contando as Maneiras, ou como o lindo título em português que o tradutor Augusto Cesar escolheu inspirado na canção de Chico Buarque) é uma peça escrita em 1976, bem depois daquelas mais populares no Brasil [Zoo Story (1959), Quem tem Medo de Virginia Woolf (1962) e Um Equilíbrio Delicado (1966)] e antecedeu outras também montadas por aqui [Três Mulheres Altas (1990), A Peça Sobre o Bebê (1996) e A Cabra ou Quem É Sylvia? (2000)]. Com sua narrativa fragmentada a peça pode ser considerada uma precursora do assim chamado teatro pós-dramático.
        Do trio Eduardo Tolentino, Clara Carvalho e Brian Penido Ross   (A NATA DO TAPA) só se podia esperar um espetáculo desse quilate que privilegia o reduzido público de 50 pessoas que acompanha os amores e desamores como se estivesse na sala de visitas do casal.

        DE TODAS AS MANEIRAS QUE HÁ DE AMAR está em cartaz às sextas às 21h e sábados e domingos às 19h30 só até 16/02. IMPERDÍVEL.

        27/01/2020

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

FÓSSIL


 
Eu vou virar petróleo?
        Ainda é cedo para concluir, mas dá para conjecturar que Fóssil estará na lista dos melhores espetáculos apresentados em São Paulo em 2020.
        O impacto visual já acontece quando se adentra o espaço cênico. De um lado um executivo com ar taciturno está sentado em sua mesa de trabalho tendo ao fundo paisagem sombria de um complexo industrial com chaminés soltando fumaça, do outro uma jovem sorridente caminha por paisagem solar que lembra um oásis. As paisagens e os ânimos dessas duas personagens vão se chocar quando a jovem (Anninha) procura o executivo (Luís) buscando a aprovação de projeto para a realização de filme sobre guerrilheiras curdas. Anninha e Luís já se conheciam, uma vez que ele foi amigo/chefe/amante de sua mãe. A partir daí ela tenta convencê-lo do seu projeto e para tanto lhe/nos dá verdadeira aula da geografia do Oriente Médio e do local onde existiu o Curdistão, além de comentar sobre as atividades do povo curdo; tudo isso de maneira lúdica e prazerosa sem o menor ranço didático.
        O texto bem articulado de Marina Corazza foi feito a partir de extensa pesquisa realizada pela atriz Natalia Gonsales sobre a Revolução de Rojava onde as mulheres curdas têm uma participação definitiva. A peça ainda faz um paralelo com a atuação das mulheres brasileiras na resistência à ditadura militar. Uma referência ao dilúvio bíblico onde toda a humanidade foi parar no fundo do mar contada pela avó de Anninha justifica o título da peça e a pergunta que a neta faz para a avó em determinada cena. Como se vê o texto de Marina abre várias frentes interessantes, sem, entretanto, perder o foco que é a luta dos curdos pelo direito de ter um país e, principalmente, o papel da mulher curda nessa luta.
        As projeções dos vídeos concebidos por André Grynwask e Pri Argoud são um dos principais atrativos da peça, ilustrando, comentando e embelezando cada momento de toda a encenação. O cenário de Carol Bucek iluminado por Aline Santini e a significativa trilha sonora de Marcelo Pellegrini baseada em motivos orientais são os outros recursos bem orquestrados por Sandra Corveloni na direção, dando como resultado um espetáculo orgânico e muito belo. Poucas vezes temos visto forma e conteúdo tão em harmonia como nesta montagem.
 
 
        Natalia Gonsales tem uma das melhores interpretações de sua já significativa carreira mesclando a doçura e a firmeza da personagem com muita categoria e é muito bem acompanhada por Nelson Baskerville como o executivo bem colocado na vida que não entende porque a “doce” Anninha trocou a inofensiva carreira como dançarina por um trabalho militante e perigoso.
         Termino esta matéria com a sensação que ela é muito pequena para abrigar toda a grandeza desse espetáculo idealizado por Natalia Gonsales.

        FÓSSIL está em cartaz no SESC Pompeia de quinta a sábado às 21h30 e domingos e feriados às 18h30, só até 02/02. ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL.
 
       Fotos de Ronaldo Gutierrez 

        22/01/2020

sábado, 18 de janeiro de 2020

RAPTE-ME AGORA! DEVE HAVER VIDA INTELIGENTE EM OUTRA PARADA DE ÔNIBUS



 
       Este espetáculo não é Skol, mas desce redondo. Sem gorduras, em cerca de uma hora nos mostra o encontro de um jovem introspectivo que aguarda a chegada do ônibus em um ponto e uma garota que chega sorridente e expansiva de bicicleta e qual o coelho Pernalonga investe contra o rapaz tentando relembrar-lhe de uma aventura anterior. Essa semelhança da personagem feminina com o Pernalonga me chamou a atenção e segundo constatei com o autor, a diretora e a atriz, não foi intencional. Barbra Streisand já viveu personagem parecida no divertido Essa Pequena É Uma Parada (What’s Up, Doc) (1972) do diretor Peter Bogdanovich.

 
 

       O texto de Ed Anderson trata de assuntos sérios de maneira lúdica e divertida, seus diálogos são ágeis e devem agradar o público adulto, mas também o adolescente, tão carente de espetáculos dedicados à sua faixa etária.
       A encenação de Cynthia Falabella privilegia o trabalho dos atores e tem grandes aliados no espaço cênico de Heron Medeiros por onde os atores circulam segundo a direção de movimento de Ana Paula Lopez e no belíssimo desenho de luz de Marisa Bentivegna que pinta o espaço de azul ao se citar um pássaro, de amarelo ao se falar de um girassol e de um mágico multicolor na cena em que o casal está deitado na cama.
       A química entre Michelle Boesche e José Sampaio também é responsável pela gostosura que é o espetáculo. O rapaz, a princípio assustado com aquela jovem a quem insiste dizer que não conhece, aos poucos vai entrando nas lembranças dela e no que “parece” ter acontecido. Esse jogo entre o presente e um passado recente também é um dos trunfos da montagem. José Sampaio sabe dosar essa dualidade da personagem e Michelle Boesche está esplendorosa como a jovem irrequieta que exige uma ação do incrédulo rapaz.

       RAPTE-ME AGORA! está em cartaz no SESC Santo Amaro às sextas (21h), sábados (20h) e domingos (18h) até 16/02. É bastante recomendável que se divulgue o espetáculo para o público jovem. 

       18/01/2020

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

FLORESTA


 


        Como encarar o inimigo? Para escrever sobre o assunto o dramaturgo Alexandre Dal Farra iniciou suas pesquisas entrevistando pessoas (trechos dessas entrevistas são apresentados em vídeo durante a apresentação), talvez buscando criar algo do gênero “teatro documentário”, mas parece ter desistido da empreitada e partiu para o “teatro do absurdo”, mesclado com alguns ingredientes do gênero anterior em alguns monólogos documentais. O resultado é um híbrido irregular.
        Pai, mãe e filha de antemão inseguros e descompensados que vivem em algum lugar inóspito, são surpreendidos com a visita de dois estranhos e reagem de formas diversas: a filha é a única a questionar a situação, o pai reage de forma incrédula e patética e a mãe é a rainha da passividade, achando tudo normal.  
        Quem são aqueles invasores? O que eles pretendem? Pergunta-se o espectador. Dal Farra põe a resposta em uma fala da mãe: “Não dá para entender tudo!”.
        O espetáculo mistura situações claramente inspiradas no teatro do absurdo que fazem o público rir, com momentos sérios e mesmo tensos em geral criados pela virulência de um dos invasores. Talvez a cena mais inspirada da peça esteja no monólogo da mãe onde ela declara que o medo provocado ao ouvir algo é muito mais terrível do que aquele que surge ao olhar alguma coisa amedrontadora.   Curiosamente a única sobrevivente após a chegada dos estranhos/inimigos é a passiva mãe. Qual reflexão que Dal Farra pretende provocar no espectador com esse desfecho?
        A encenação do próprio dramaturgo conta com excelente trilha sonora de Miguel Caldas que reforça certo suspense sugerido pela ação; cenário do autor e de Clayton Mariano; assim como figurinos da dupla (diga-se que neste quesito os figurinistas privilegiam o olhar do espectador com os trajes sumários das atrizes que fazem a mãe e a filha).
        O elenco afiado é o ponto forte do espetáculo: Clayton Mariano representa o patético pai, sempre surpreso com todas as situações que se apresentam. A filha, única personagem realista da trama, ganha a interpretação de Sofia Botelho. Nilceia Vicente é presença iluminada como a visitante de violência moderada. André Capuano joga toda sua exuberância física no invasor violento. A presença cênica de Gilda Nomacce é poderosa: atriz de excelentes dotes artísticos e físicos, ela hipnotiza o espectador em todas suas intervenções.

        FLORESTA está em cartaz no SESC Ipiranga com seis apresentações por semana (que maravilha!): terças e quartas (19h30), quintas, sextas e sábados (21h) e domingos (18h). Temporada curtíssima até 09/02/2020.

        17/01/2020

domingo, 12 de janeiro de 2020

TEMPORADA TEATRAL 2020 (INÍCIO)


 

       Apesar de todos os percalços São Paulo começa o ano teatral com nada menos do que 114 espetáculos, assim divididos:

       - Teatro Adulto (56): Dramaturgia brasileira (43)/Dramaturgia estrangeira (13)

       - Stand up (07)

       - Teatro Infantil (51)

       No que se refere à dramaturgia brasileira há 29 títulos que vêm de temporadas anteriores e 14 estreias, das quais destaco: O Bailado do Deus Morto (Flávio de Carvalho), Minhas Queridas (Stella Tobar - Clarice Lispector), Floresta (Alexandre Dal Farra), Fóssil (Marina Corazza), A Decadência dos Seres Não Abstratos (Marcio Aquiles), Antes do Ano Que Vem (Gustavo Pinheiro) e quase uma estreia: Lyson Gaster no Borogodó (Fábio Brandi Torres).

       Enquanto isso A Alma Imoral continua sua carreira no Teatro Eva Herz e pela primeira vez em muitos anos Trair e Coçar É Só Começar não comparece nas reestreias já no primeiro mês do ano.

 

       Fontes: Guia de Teatro, Guia OFF e Guia Folha.

      12/01/2020

sábado, 11 de janeiro de 2020

MINHAS QUERIDAS


 

        Simples, bonito, delicado e profundo... Como Clarice.

        A meu ver esses adjetivos são os que melhor qualificam o espetáculo de Stella Tobar que explora as cartas que uma jovem Clarice Lispector escrevia para as suas irmãs Tania e Elisa quando vivia fora do Brasil acompanhando o marido diplomata. Clarice se sentia deslocada longe de sua família e do Rio de janeiro e sem inspiração para escrever. Acredito que essas cartas foram o meio que ela achou para dar vazão à sua criatividade com as letras.
         Tobar dramaturga usou como recorte do seu texto esse período que vai de 1945 até meados dos anos 1950.
        Tobar encenadora dinamiza a leitura/apresentação das cartas com diálogos das atrizes sobre a vida e a personalidade da escritora, pondo em cena as baratas e os ovos tão presentes na escrita de Lispector. Há também divertidos momentos de distanciamento quando uma das atrizes pede ajuda à outra porque esqueceu o texto.
        O cenário de Kleber Montanheiro formado de painéis é montado pelas atrizes diante do público no início da peça e desmontado ao final deixando o palco nu. Alguns adereços e muitas malas complementam o cenário que se vale também de projeções em vídeo de autoria da dramaturga/encenadora. As atrizes vestem trajes claros e leves criados por Carol Badra. Tudo isso sob a luz protetora de Adriana Dham.

 
        Atuando de maneira espontânea e delicada as atrizes Marilene Grama e Simone Evaristo sabem dosar a ternura e os sentimentos contidos nas cartas com momentos mais leves como as rupturas de cena já citadas acima e até com toques de humor como a deliciosa cena em que Marilene descasca um ovo e o come com muita gula em um canto do palco.

        O ovo quebrou,
        O espetáculo acabou,
        O povo gostou!
         Clarice também ia gostar.

        OBS: Este espetáculo dá início ao evento “Clarice, Contexto” no ano em que se comemora o centenário de nascimento da autora.

        MINHAS QUERIDAS está em cartaz no SESC Pinheiros até 08/02, de quinta a sábado às 20h30.

        11/02/2020

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

BRINCANDO COM FOGO



 
        A última etapa antes da recepção do texto e da cena pelo espectador”, assim Patrice Pavis define a voz do ator em seu Dicionário de Teatro. É como espectador que me sinto incomodado com certa frequência ao assistir a espetáculos que ficam prejudicados pela fraca emissão de voz do elenco. Isso acontece geralmente com atores mais jovens o que parece revelar que as escolas de teatro não têm tratado a assunto com o devido cuidado. As vozes parecem não querer sair do espaço restrito do palco e não se projetam até o fundo da sala, o que é absolutamente necessário. Em peças onde a palavra é importante, o ator pode ter boa dicção, possuir gestual e interpretação adequados, mas se ele não se faz ouvir o todo fica muito prejudicado e, de certa maneira, até incompreensível. Maria José de Carvalho e Eudósia Acuña foram grandes especialistas em técnicas vocais e formaram boa parte dos atores que hoje são chamados de geração mais velha os quais se fazem ouvir mesmo em espetáculos sem sonorização. Onde estão nos dias de hoje aqui em São Paulo, os especialistas na área? Emissão, entonação, dicção, cuidados com a voz. Assuntos urgentes a serem considerados pelas escolas e pelos encenadores.

        Faço esse preâmbulo para justificar o quanto fiquei incomodado na noite de ontem ao assistir a Brincando Com Fogo, o novo espetáculo do sempre competente Grupo TAPA, com direção de Eduardo Tolentino de Araújo. Sentado na quinta fileira de um teatro que tem boa acústica, tive dificuldade de escutar boa parte do texto e ao final do espetáculo pude constatar que essa dificuldade não foi só minha.
        August Strindberg (1849-1912) escreveu dezenas de peças teatrais, a maioria desconhecida entre nós. Brincando Com Fogo foi criada poucos anos depois de ele ter escrito duas de suas peças mais montadas no Brasil (Senhorita Júlia e A Mais Forte) e contém temas caros ao dramaturgo sueco como certa aversão à personagem feminina e forte conteúdo erótico: um casal entediado com a relação e com a convivência com os pais do homem testa suas sensações com um amigo visitante e com uma prima que habita o mesmo local.
        Tolentino trata com sua costumeira elegância a história. Em um espaço quase vazio, adornado por quadros, molduras e espelhos ele desloca as personagens vestidas de branco, vermelho e preto criando clima propício ao desenvolvimento da trama (a ficha técnica não identifica a autoria do cenário e dos figurinos que, provavelmente, são do próprio diretor).
        Camila Czerkes e Daniel Volpi representam o casal. Bruno Barchesi e Luana Fioli são, respectivamente, o amigo e a prima com quem o casal vai se envolver. Boas interpretações, infelizmente, prejudicadas pelos problemas vocais citados acima.
        Em pequenas participações, Oswaldo Mendes e Mara Faustino brilham como o pai e a mãe, fazendo-se ouvir pelo espectador que estava sentado na última fila do teatro.
        Resolvidas as questões auditivas observadas na estreia, Brincando Com Fogo pode tornar-se outro espetáculo com o padrão de qualidade do Grupo TAPA.

        BRINCANDO COM FOGO realiza curta temporada até 16/02 no Teatro Aliança Francesa. Quinta a sábado (20h30) e domingo (19h)

        10/01/2020

       

 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A DRAMATURGIA BRASILEIRA NOS PALCOS PAULISTANOS EM 2019


 
        Em levantamento mensal realizado com dados do Guia de Teatro, cheguei à seguinte distribuição (média) para os espetáculos realizados nos palcos da cidade em 2019:
        - Dramaturgia brasileira: 49%
        - Dramaturgia estrangeira: 16%
        - Stand up: 8%
        - Teatro infantil: 27%

        Considerando apenas o teatro adulto, a distribuição seria:
        - Dramaturgia nacional: 75%
        - Dramaturgia estrangeira: 25%

        O levantamento nos guias de teatro de São Paulo (Guia OFF, Guia de Teatro, Boca a Boca, Guia de A Folha de S. Paulo e Guia de O Estado de S. Paulo) revelou a presença de 511 títulos de autores brasileiros, donde podemos concluir que a cidade abrigou cerca de 1040 espetáculos teatrais, assim distribuídos:
        - Dramaturgia brasileira: 511
        - Dramaturgia estrangeira: ~170
        - Stand up: ~ 80
        - Teatro infantil: ~ 280

        Apesar do cerceamento feito à cultura por meio de censura, cortes de patrocínio e cancelamento de editais, o teatro resistiu bravamente colocando de pé mais de mil produções. Apesar de você, Seu Rêgo, nós estamos aí e vamos resistir!  

        Voltando à dramaturgia brasileira que é o objeto desta matéria, segue abaixo uma análise do que ocorreu em 2019. Os 511 títulos podem ser tanto estreias como reestreias de espetáculos vindos de 2018.
 
        A distribuição se mostrou bastante diversa de anos anteriores. Plínio Marcos liderou a lista com sete espetáculos de sua autoria.

 
        Nelson Rodrigues perdeu o primeiro posto comparecendo “apenas” com quatro montagens, empatado com Aimar Labaki, Ronaldo Ciambroni e Walcyr Carrasco.
        14 dramaturgos tiveram três montagens de seus trabalhos. São eles: Caio Fernando Abreu, Lucas Papp, Marcelo Marcus Fonseca, Márcio Marciano, Martins Pena, Muriel Vitória, Natan Bandeira, Newton Moreno, Paula Giannini, Pedro Brício, Pedro Cardoso, Rudinei Borges, Sérgio Roveri e Victor Nóvoa. Como se pode notar nomes bastante famosos misturam-se a outros pouco conhecidos.
        Com duas montagens temos a presença de 38 dramaturgos.
        24 espetáculos são definidos como criação coletiva/diversos autores e apenas três como processo colaborativo. Essas classificações são passíveis de crítica porque nunca aparecem de maneira explícita na ficha técnica.
        349 autores tiveram um espetáculo montado. Dramaturgos consolidados como Kiko Marques, Silvia Gomez e Alexandre Dal Farra aparecem junto com muitos nomes desconhecidos que lamentavelmente é bem provável que não voltem a comparecer em listas futuras.

        A V Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP continuou sendo importante veículo para a difusão da nossa dramaturgia.

        Numa seleção puramente pessoal, destaco aqueles títulos e autores que mais contribuíram para o enriquecimento da dramaturgia brasileira: Biagio Pecorelli (Res Pública 2023), Eloisa Elena (Entre), Kiko Marques (Casa Submersa), Newton Moreno (As Cangaceiras Guerreiras do Sertão), René Piazentin (A Neve), Silvia Gomez (Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante).

        A maioria dos textos foi criada isoladamente pelo(s) autor(es) (470) ou foram adaptações assinadas pelo adaptador (17). Houve 24 criações coletivas e três processos colaborativos. Em 64 casos a obra contou com co-autor.

        Em 284 espetáculos o autor exerceu outras funções como ator e/ou diretor.

        Mais uma vez os dramas (289) prevaleceram sobre as comédias (96). Houve considerável número de musicais brasileiros (59) e 67 títulos que se definem como religioso, teatro coreográfico, teatro imersivo e outras invencionices.
      
        Quanto ao tamanho do elenco houve 112 monólogos, 82 montagens com dois atores e 317 com três ou mais atores.

        Apenas 77 espetáculos explicitaram a ligação com um grupo/companhia.

        2020 começa com as mesmas perspectivas sombrias que rondaram o ano que está acabando e mesmo assim sobrevivemos! Nossos esteios continuarão sendo o SESC, o Itaú Cultural, o CCSP e a Secretaria Municipal de Cultura (enquanto perdurar a atual administração). Com o CCBB, a Caixa Cultural e a Funarte pouco se poderá contar e mesmo com o SESI que parece estar acenando para o Seu Rêgo.

        Já há vários espetáculos anunciados para o início do ano e estão confirmados pelo menos três importantes eventos: a MITsp, a Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP e o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas.

        Termino esta matéria repetindo a frase com a qual encerrei a matéria do ano passado:

        Muita água vai passar debaixo da ponte em 2020 e nós, espectadores, estaremos na plateia de algum templo da utopia e da esperança apreciando e aplaudindo o trabalho dos corajosos artistas que fazem do teatro a sua bandeira de resistência e de luta.

O TEATRO NOS UNE

O TEATRO NOS TORNA FORTE

VIVA O TEATRO! 

         29/12/2019