segunda-feira, 28 de julho de 2014

A ARTE ALIMENTANDO A ALMA


     O final da semana que passou e esta segunda feira me proporcionaram tantos alimentos para a alma que o frio do inverno passou despercebido.
     A festa começou no sábado com o concerto no Municipal onde a excelente, além de simpática e risonha, pianista ucraniana Valentina Lisitsa fez uma interpretação hipnotizante do Concerto nº 3 para piano e orquestra de Rachmaninoff. A musicista foi ovacionada ao final tendo graciosamente voltado para quatro bis (fato raro na história dos concertos). Após o concerto, para dar espaço à arte culinária, um delicioso nhoque com vinho acompanhado do calor humano dos queridos Reginaldo e Mauro.
Valentina Lisitsa

     O domingo frio foi coroado com o perfeito espetáculo de Bob Wilson The Old Woman com as deliciosas participações clownescas de Willem Dafoe e Mikhail Baryshnikov e de lambuja um encontro gostoso com o Mauricio de Barros, o Bonifácio de Cais. Tudo isso em companhia da Nadya, com direito a sopa/vinho e bolo de laranja/chá aqui em casa.
Telão de abertura para The Old Woman

     A segunda feira continua fria. Final da tarde indo ao Belas Artes que em boa hora foi reaberto. O último filme de Alain Resnais Amar, Beber, Cantar; uma encantadora celebração à vida por um homem de 91 anos que estava muito doente durante as filmagens e faleceu duas semanas após a estreia do filme. E para terminar a alimentação da alma, ouço o CD da semana no portal da Cultura FM: quando eu pensava que já havia descoberto “o tudo e o melhor” da obra prima de Leonard Bernstein West Side Story, eis que surge esta majestosa versão da obra com a Orquestra Sinfônica de São Francisco sob a regência de Michael Tilson Thomas com ótimos solistas interpretando Tony, Maria, Anita, Bernardo e todas as demais personagens da obra. Quase meia noite... Só vou dormir quando terminar de ouvir. Começou o segundo ato!
 
Ilustração do cartunista Blutch para o filme Amar, Beber e Cantar

     Detalhe pitoresco: ao sair da sessão, Elie, Vanda e eu ficamos presos no elevador do cinema por alguns minutos. Até que foi engraçado!
PARA FICAR COMPLETO SÓ FALTOU VER A LAURA!!!
 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

24 HORAS DE CAIS


ATENÇÃO: Esta não é uma matéria! É uma declaração de amor com direito a todas as adjetivações a que tenho direito.
 

 

POR QUÊ tanto encantamento com CAIS ou DA INDIFERENÇA DAS EMBARCAÇÕES?
 

- PORQUE o texto de Kiko Marques, além de seu conteúdo poético e humano, é um exemplo de narrativa e de construção de personagens.
- PORQUE a encenação faz jus ao belíssimo texto.
- PORQUE todo o elenco é primoroso e homogêneo.
- PORQUE não dá para não se emocionar com as interpretações do Mauricio, da Virginia e da Alejandra.
- PORQUE não dá para não se divertir com as falas do Cachorrinho e do Padre do Marcelo.
- PORQUE a trilha sonora do Umanto é uma obra prima de concisão e eficácia.
- PORQUE não dá para não se emocionar com a presença do Walter Portella.
- PORQUE a poita da Rose é a coisa mais graciosa do mundo.
E mais importante de tudo:
- PORQUE por detrás daqueles atores, estão pessoas maravilhosas e generosas que entram em comunhão com o público, sorrindo e abraçando a todos ao final do espetáculo.
 
     Assisti ao espetáculo oito vezes e a emoção é sempre a mesma. Tenho 24 horas de CAIS e ao sair do teatro na última terça feira já estava pensando em voltar.
     Obrigado Alejandra, Kiko, os três Marcelos, Marco Aurélio, Maurício, Maristela (que abandonou o cais), Patrícia, Tatiana, Rose, Virginia, Walter, músicos e pessoal técnico por me proporcionar emoções tão nobres nessas 24 horas de convívio. Grande beijo a todos vocês.
                       VIVA O TEATRO!

domingo, 6 de julho de 2014

GOTAS D’ÁGUA SOBRE PEDRAS ESCALDANTES


    
     Em tempos de Copa, Fernanda Capobianco marca mais um gol para o aconchegante e belo Instituto que leva o seu sobrenome: após a mais que bem sucedida carreira do premiado Cais ou Da Indiferença das Embarcações (agora em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade) estreou ontem no local Gotas d’Água Sobre Pedras Escaldantes que tem todas as qualidades para também cumprir uma temporada de sucesso.
     O texto é um dos primeiros trabalhos para teatro do dramaturgo/cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) e já contém todos os elementos que iriam caracterizar a sua obra perenizada pelo cinema: manipulação pelo sexo, violência, homossexualismo e paixões avassaladoras e destrutivas. Neste caso o amoral Leopold manipula as três personagens que o rodeiam: Franz, o jovem frágil e indefeso; sua ex-namorada Ana e a estranha Vera, um caso antigo de Leopold. O texto tem diálogos ágeis e uma narrativa bem estruturada dividida em cinco tempos: o primeiro contato dos dois homens/a relação dos mesmos, meses depois/a chegada de Ana/ a chegada de Vera/o contato final de Vera e Franz.
 
     Bons atores são fundamentais para uma peça que tem sua base na relação tensa entre as personagens e o presente elenco cumpre a tarefa plenamente. Luciano Chirolli tem uma das melhores interpretações de sua carreira como Leopold que é o centro de todas as atenções e gerador de todas as reações das outras personagens; sentado imponentemente com as pernas muito abertas ele aparenta toda a imponência vulgar de alguém que suas vítimas vêm como um semideus. Nana Yazbek é correta na interpretação de Ana, a personagem menos envolvente da trama. Gilda Nomacce tem uma entrada exuberante em cena, exibindo todo o seu charme nos primeiros momentos e todo o seu talento no comovente diálogo final com Franz. A grande surpresa da montagem é Felipe Aidar, um jovem ator que, ao que fui informado, faz sua estreia profissional neste espetáculo e que se sai muitíssimo bem na interação com os tarimbados Luciano e Gilda.
     O cenário de André Cortez aprofunda o espaço do subterrâneo do Instituto e tem um efeito muito interessante com o deslocamento de uma das paredes. Esperava-se um maior uso desse recurso cenográfico.
     A direção de Rafael Gomes privilegia o trabalho dos atores, salientando a expressão corporal dos mesmos e em especial de Felipe Aidar na passagem da primeira para a segunda cena. O deslocamento dos móveis da casa e até o estranhamento causado por um rodapé solto são recursos muito bem usados pela direção para mostrar o desmoronamento moral daquelas frágeis criaturas.
     Mais uma vez quero comentar o diálogo final de Vera e Franz, onde ela vê em Franz o seu passado e ele a vê como seu futuro. Momento sublime de texto que Gilda Nomacce e Felipe Aidar junto com o diretor Rafael Gomes souberam tão bem transpor para a cena. São esses instantes de emoção comungados com o público que nos fazem amar cada vez mais o teatro.
 
     Cabe informar que, com o mesmo título, a peça foi filmada pelo cineasta francês François Ozon em 2000.

     Gotas D’Água Sobre Pedras Escaldantes está em cartaz no Instituto Capobianco às sextas (21h30), aos sábados (21h) e aos domingos(20h) até 21 de setembro. VALE A VIAGEM!!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O PALCO PAULISTANO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2014


... Este palco não existe mais
 
     Segundo os guias de teatro da cidade, cerca de 430 espetáculos (330 de autores brasileiros) passaram pelos palcos de São Paulo neste primeiro semestre de 2014, sem contar as stand up comedies e as peças infanto-juvenis. Se pela quantidade o dado é promissor, o mesmo não se pode dizer dos resultados artísticos. Assisti a exatamente 100 espetáculos nesse período e comento abaixo  aqueles que, de alguma maneira, me tiraram do chão.
 
A Arte da Comédia
 
Assim É (Se Lhe Parece)
 
Trágica.3
 
     A Arte da Comédia, Assim É (Se Lhe Parece) e Trágica.3  foram os melhores espetáculos apresentados, assim como seus diretores Sergio Módena, Marco Antônio Pâmio e Guilherme Leme poderiam estar entre os melhores diretores; nesta categoria eu ainda incluiria o Zé Henrique de Paula pela sensível direção de Ou Você Poderia Me Beijar.
     Soluções cênicas (cenário, luz, figurino) esteticamente bem resolvidas puderam ser observadas em O Jardim das Cerejeiras (direção de Marcelo Lazzaratto), Jesus Cristo Superstar (direção de Jorge Takla) e Um Réquiem para Antonio (direção de Gabriel Villela).
 
Abnegação
 
Maldito Benefício
 
 
     Os bons textos brasileiros foram raros, destacando-se Abnegação de Alessandro Dal Farra,  Maldito Benefício de Leonardo Cortez e Só...Entre Nós de Franz Kepler. Quanto aos autores estrangeiros houve predomínio de textos contemporâneos anglo-americanos, mas houve espaço muito bem vindo para Pirandello (Assim É Se Lhe Parece), Beckett (Oh! Os Belos Dias), Eduardo De Filippo (A Arte da Comédia) e ainda um delicioso revival  de Noel Coward (Vidas Privadas).
 
 
Gustavo Rodrigues
 
     Houve muitos trabalhos de interpretação marcantes neste semestre. Os destaques masculinos vão para Vitor Vieira (Abnegação), Rubens Caribé (Assim É Se Lhe Parece), Bruno Guida (Bull) e aquele que para mim foi a maior revelação (apesar de ter uma carreira consolidada no Rio de Janeiro): Gustavo Rodrigues em Billdog.
 
Miwa Yanagizawa
 
Ana Kfouri
 
Sandra Dani
 
Sylvia Prado

     Trágica.3 mostrou os trabalhos viscerais de Denise Del Vecchio e de Miwa Yanagizawa. Ana Kfouri (Moi Lui), Sandra Dani (Oh! Os Belos Dias) e Sylvia Prado (Walmor y Cacilda – Robogolpe) completam a lista das grandes interpretações femininas do semestre.
 
     Quanto aos espetáculos estrangeiros louvem-se as iniciativas do Sesc ( Pendente de Voto, A Violação de Lucrecia, Ensaios Sobre o Suicídio) e principalmente da Mostra Internacional de Teatro (MIT), organizada por  Antonio Araújo e Guilherme Marques que foi um grande sucesso de público e de crítica em sua primeira versão e que nos trouxe espetáculos belos e polêmicos como Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus, Anti-Prometeu e Cineastas. Não assisti ao Hamlet vindo da Polônia, que segundo informações recebidas, foi excelente.
 
     A lamentar o fechamento do CIT - Ecum, aconchegante espaço teatral que vinha se destacando pela sua criteriosa curadoria.
 
     Copa terminada, mas com eleições para atrapalhar, aguardemos as surpresas para o segundo semestre.