Em
boa hora o SESC 14 Bis abre as portas de seu belo Teatro Raul Cortez para
acolher um espetáculo da Companhia de Teatro Heliópolis que neste ano completa
25 anos.
Continuando
seus espetáculos sobre encarceramento, desta vez o foco é como sobrevivem esses
seres que depois de anos encarcerados voltam para as ruas sem preparo nenhum
para a liberdade, como bem diz uma das personagens “ Quando abrem aquele último
portão, eu não tenho para onde ir / Penso em voltar, mas a cadeia é morte / E
eu não vim na vida para morrer / Eu vim na vida para viver” E nessa
sobrevivência essas pessoas enfrentam preconceito, dificuldade de arrumar
emprego e tantas outras barreiras.
A
dramaturgia de Dione Carlos é composta de cenas onde várias personagens
desfilam seus dramas e seus problemas de readaptação em um mundo hostil.
Miguel
Rocha costura essas cenas com momentos coreográficos muito bem realizados,
aliás a peça inicia com uma longa cena de rara beleza sem palavras, onde
Miguel, além de diretor, revela-se excelente coreógrafo, sempre com a
colaboração da provocadora corporal Erika Moura. A música de Alisson Amador,
executada ao vivo por ele e mais três músicos, tem papel importante tanto nesta
cena como em todo o espetáculo.
O
cenário de Telumi Hellen contém um espelho d’água que perde um pouco de sua
beleza estando em palco italiano, sem poder ser visto de cima. Essa beleza
poderá ser contemplada quando o espetáculo se transferir para a sua sede, após
a temporada no Raul Cortez.
A
água, símbolo de purificação, também pode ser interpretada como um dos
elementos das religiões afro. Enquanto Xangô era o orixá que acompanhava a
narrativa de “(In)justiça” e Iansã acompanhava “Cárcere”, desta vez é Exu que
está presente.
Destaque
para os vários figurinos criados por Samara Costa.
O
elenco, composto por três atrizes (Dalma Régia, Jucimara Canteiro e Klavy
Costa) e três atores (Cristiano Belarmino, Davi Guimarães e Walmir Bess)
reveza-se na criação das diversas personagens e nas performances coreográficas.
Em
termos dramatúrgicos, algumas cenas são melhor resolvidas do que as outras, mas
todas elas seduzem pela poética de Dione Carlos e o elenco sabe tirar proveito
disso.
Trata-se
de elenco homogêneo e talentoso, mas vale destacar Walmir na cena do Lobo;
Cristiano, excelente como Exu; Jucimara e Klavy brilhantes como Inocência e
Generosa e por último as “estrelas” da Heliópolis Davi e Dalma em vários
momentos e, em especial, no último relato, onde falam o emocionante texto em conjunto.
Miguel Rocha se aprimora e se lapida a cada
encenação e “A Boca Que Tudo Come Tem Fome” é talvez a sua obra mais madura e ,
com certeza, a mais bela. Passou no
teste do grande palco do Teatro Raul Cortez e há de crescer ainda mais quando
estiver no local onde foi concebida, a Casa de Teatro Maria José Carvalho, sede
da companhia, no Ipiranga.
Mais um espetáculo para a lista dos melhores do ano.
A
BOCA QUE TUDO COME TEM FOME está em cartaz no SESC 14 Bis até 03 de agosto com
sessões de quinta a sábado às 20h e domingo às 18h.
NÃO
DEIXE DE VER.
11/07/2025
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