Levando-se em conta minha grande admiração pelo trabalho de Antônio Araújo, eram grandes as minhas expectativas em relação ao novo espetáculo do Teatro da Vertigem, expectativas essas que não se confirmaram.
A frágil dramaturgia com personagens muito rasas – a consumista que deseja comprar um vestido vermelho, a costureira boliviana que trabalha noite e dia, o cracômano que tem uma pedra de estimação, a noiva que não encontra a saída, a empregada doméstica, o manequim defeituoso- é a grande vilã do espetáculo. Os locais percorridos são muito impactantes e as soluções cênicas também. O impacto é aumentado com os perfeitos efeitos de luz e som, mas tudo se reduz com o fraco texto dito pelos atores. Há um constrangedor momento – que independe da dramaturgia- em que os cracômanos fazem uma ensaiada e “bonitinha” coreografia no devastado palco do antigo Taib. Para quê? A cena final com a evacuação do teatro e com os manequins jogados na caçamba foi a única que realmente me tocou e me remeteu aos melhores momentos dos espetáculos anteriores do Vertigem. Digna de nota a faixa “Passa-se o ponto” pendurada na porta do teatro. Consumismo, viciados, superficialidade do ser humano, disputas materiais, preconceito são temas seriíssimos tratados no espetáculo, mas que resultariam mais contundentes com monólogos/diálogos consistentes.
Não há como não comparar o solar Barafonda com o sombrio Bom Retiro 958 metros; ambos são espetáculos com forte preocupação social, propõem-se a fazer intervenções em bairros relativamente degradados e realizam parte da encenação na rua (não confundir com teatro de rua). Meu ponto de vista é que a grande diferença entre eles é a consistência da dramaturgia do primeiro.
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