Numa fila de espera, cada pessoa do público recebe uma mala que será carregada até a entrada no ônibus onde se realizará o espetáculo. Este é o primeiro momento de Dentro É Lugar Longe, novo trabalho do grupo Sinhá Zózima.
O poético texto de Rudinei Borges tem como base as
lembranças alegres e tristes dos atores que compõem o elenco; por se tratar de
grupo bastante jovem, essas lembranças se restringem àquelas da infância e da adolescência
e as mortes retratadas referem-se a avós e pais e nunca a filhos e/ou a
companheiros.
A encenação acontece em um ônibus em movimento e o grupo
sabe explorar muito bem o seu restrito espaço cênico. Algumas cenas acontecem
no exterior e a direção criou belas cenas na Praça Júlio Prestes, na Praça
Ramos de Azevedo e na calçada defronte à Sala São Paulo onde o espetáculo
termina. Pungente e muito triste é a passagem pela Rua Helvetia onde centenas
de mendigos, a maioria usuária de crack,
aglomeram-se em barracos improvisados. Num momento como este a realidade lá
fora se torna tão envolvente que se corre o risco do público desviar o seu
olhar da ação dos atores para o exterior.
O bom preparo vocal do elenco faz com que as palavras sejam
entendidas qualquer que seja o local em que se está sentado. Elenco gracioso,
talentoso e simpático (formado por quatro atrizes e um ator) que transita com
naturalidade pelos momentos alegres e tristes. Pela homogeneidade do mesmo
seria injusto destacar este ou aquele nome. A direção de Anderson Maurício é
muito delicada e centra-se no trabalho dos atores e na exploração de efeitos
visuais no restrito espaço cênico.
Meu único senão ao espetáculo é a parte musical: as melodias
são fracas e não se encaixam nas respectivas letras, além disso, há o uso
artificial e inadequado da melodia da canção The Sound os Silence da dupla Simon e Garfunkel com uma letra que
não se coaduna com a mesma. Este ponto fraco, porém, não compromete mais este
belo trabalho da Sinhá Zózima.
As malas distribuídas no início são esquecidas durante e
após o espetáculo; seria interessante que elas tivessem outras funções dentro
do mesmo.
Ao descer do ônibus sensibilizados por aquelas lembranças -
muitas delas parecidas com as nossas - nos sentimos felizes de pertencer à raça
humana... Apesar de tudo! Obrigado Sinhá Zózima!
Olá Zé!
ResponderExcluirGrande satisfação conhecê-lo.
Parabéns pelos textos.
Virei mais vezes. Abraço!
Obrigado Prof. Magno Rocha. Seja sempre bem vindo!
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