quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

HYSTERICA PASSIO


        Hipólito é filho de uma "enfermeira esquálida" e de um "dentista pálido", os três formam uma família no limite da disfuncionalidade. Eles compõem as personagens de Hysterica Passio um dos textos mais cruéis surgidos em nossos palcos nos últimos tempos, algo comparável apenas a Uma Canção Desnaturada (Curuminha) de Chico Buarque, esta sim a mais cruel letra do cancioneiro brasileiro.          
         O texto da dramaturga espanhola Angélica Liddell não deixa pedra sobre pedra contrariando o pensamento de Sartre (O inferno são os outros): o infante Hipólito tem do que se vingar, mas se utiliza dos meios mais torturantes e diabólicos para tal fim, conclui que ali todos são monstros, mas aí – pergunta ele ao público – quem não é?
        Dentro de todo esse horror, Reginaldo Nascimento realiza uma encenação cenograficamente bela, toda em branco e vermelho enriquecida pelos figurinos de Telumi Hellen e pelo desenho de luz de Vanderlei Conte.
        As interpretações são outro grande trunfo da montagem. Amália Pereira faz Thora, a mãe encarcerada pelo filho que tem um passado triste junto com sua mãe que a torturava, já teve muita dor de dente e casou-se com o tal dentista pálido. Todo esse passado traumático ela transferiu para o filho Hipólito. Indo da indignação ao sofrimento com muita propriedade, Amália realiza um excelente contraponto para o menino, que é o verdadeiro protagonista da história.
        Alessandro Hernandez domina a cena fazendo o menino aos três e aos 12 anos, o pai Senderovich, além de narrar e comentar toda a ação. Sua interpretação é um dos melhores trabalhos de ator da temporada de 2015. Ao meu modo de ver o entendimento da trama ficaria mais claro se o papel do pai fosse feito por um terceiro ator. Seria da autora ou do diretor a opção por um único ator?
        Hysterica Passio é visceral, muito cruel e pode não agradar, além de despertar reações inesperadas do público: nos dias de hoje não é mais necessário literalmente chacoalhar o público como fazia Zé Celso Martinez Corrêa em Roda Viva nos anos 1960. Texto e encenação de Hysterica Passio fazem isso sem encostar um dedo em ninguém.
        HYSTERICA PASSIO permanece em cartaz no Espaço Parlapatões apenas até o próximo fim de semana (13/12) no sábado e no domingo às 20h, devendo voltar ao cartaz em 2016. CORRA! NÃO DEIXE PARA O ANO QUE VEM.


09/12/2015

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