domingo, 29 de janeiro de 2017

VERMELHO LABIRINTO

Rita Grillo - Foto: Micaela Wernicke

        Quando fiz a lista do que considerei o melhor e o pior do teatro em São Paulo em 2016, listei também aqueles espetáculos que julgava importantes e que não tive oportunidade de ver. Entre eles aparece Vermelho Labirinto que cumpriu temporada de um mês no Sesc Pinheiros no início do ano.
        Neste final de semana a peça está fazendo temporada relâmpago no Teatro Pequeno Ato. Fui vê-la e confesso-me surpreso pela pouca repercussão obtida pelo espetáculo na ocasião.
        A começar pelo texto de Pedro Granato a montagem é surpreendente. Dividida em 14 cenas a peça mostra duas mulheres de atividades antagônicas (uma advogada e uma performer) que de alguma maneira se relacionam com um crítico de arte. A primeira é esposa dele e a segunda foi entrevistada, jantou e provavelmente transou com ele. Está formado o triângulo, mas sabiamente Granato não põe o homem em cena e instaura uma batalha entre as duas mulheres que só vão se encontrar na última cena. A peça foi escrita e montada no auge da crise do governo Dilma e do seu impeachment, ocasião onde usar vermelho significava ser inimigo dos “coxinhas tucanos”. Se isso pode parecer um pouco datado, o ódio entre pessoas de ideias antagônicas só cresceu e a mentira e a hipocrisia tomam proporções muito bem metaforizadas nas derradeiras palavras de Vermelha (a performer) para Esther (a advogada): “Mente!”. (Quem quiser saber o significado poderoso disso, precisa assistir à peça). Há também uma subtrama que envolve a relação da advogada com político envolvido em escândalo (provavelmente de corrupção).

Anna Zêpa - Foto: Bob Sousa

        Granato também dirige o espetáculo interpretado por duas excelentes atrizes: Anna Zêpa interpreta Vermelha com sensualidade e tem dois grandes momentos; o primeiro quando dá entrevista para o crítico e o segundo no embate final com Esther. Rita Grillo brilha como a reacionária Esther que quer defender seu homem com garras de leão, mas não passa de uma frágil gata. Depois da visceral Marguerite Duras em A Dor, Rita tem outra grande interpretação e é responsável pelos momentos mais engraçados da montagem, quando não entende as palavras intelectuais contidas nas críticas do marido e quando fala com ele pela câmera do notebook.
        A montagem tem na verdade uma terceira personagem: a luz de Aline Santini que comenta toda a ação e embeleza o sóbrio cenário de Sinhá que começa alvo como neve e termina manchado com todas as devolutivas (corpóreas ou não) das duas personagens.
        Vermelho Labirinto tem trama complexa sujeita a muitas interpretações, porém é muito agradável de ver e riso inteligente, nunca é demais repetir, conduz à reflexão. Algo fundamental nos sombrios dias do presente.
        Ainda dá tempo: última apresentação hoje (dia 29) no Teatro Pequeno Ato à Rua Teodoro Baima, 78. Às 19 horas.


29/01/2017



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