quarta-feira, 5 de abril de 2017

O ASSALTO




        Até o momento eu havia assistido a duas encenações deste texto de José Vicente (1945-2007). A primeira de 1969, dirigida por Fauzi Arap, com Paulo César Peréio (Vitor, o bancário) e Francisco Cuoco      (Hugo, o varredor) reforçava a questão social e tratava de modo velado o tema homossexual (no mesmo ano houve montagem carioca também dirigida por Fauzi Arap com Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque nos papeis de Vitor e Hugo, respectivamente). Em 2004 o Teatro Oficina revisita o texto sob a direção de Marcelo Drummond e interpretado por Haroldo Costa Ferrari (Vitor) e Fran Sérgio Araújo (Hugo) agora livre do peso da censura dos anos 1970.

Rodrigo Caetano/Fabio Santarelli

        Tenho excelentes lembranças dessas duas montagens, mas a atual dirigida por Gustavo Trestini me causou surpresa e forte impacto. Os jovens atores Rodrigo Caetano e Fabio Santarelli reforçam o nervosismo da encenação de Trestini atuando com garra pouco usual em nossa cena. Rodrigo compõe Vitor de maneira histérica e levemente efeminada e tem ótimos momentos quando a situação exige reações mais exteriorizadas ; nos textos longos revela-se discursivo e monocórdio, sem, porém, prejudicar seu ótimo desempenho. A personagem de Hugo tende a ser mais passiva face às investidas do neurótico bancário e Santarelli sabe tirar partido disso atuando de maneira contida, com olhares incrédulos e explodindo nos momentos certos.
        O que mais impressiona é a atualidade de texto que tem quase meio século de vida. Vitor é um pequeno burguês que não passa de pobre coitado oprimido pelo chefe do banco, enrustido quanto à sua sexualidade e descrente da vida, mesmo assim ele se posiciona em atitude superior ao varredor que é pobre material e espiritualmente. Tristes seres que esbarramos a cada instante nas ruas da cidade ou em nosso próprio espelho.
        Esta montagem de O Assalto demonstra o quanto é urgente e necessário fazer revisão da obra de Zé Vicente (falecido há exatos dez anos) que contém preciosidades como Os Convalescentes, Hoje É Dia de Rock e Santidade, para citar apenas as primeiras e mais conhecidas de suas peças.
        O ASSALTO está em cartaz no Espaço Cia. da Revista de terça a quinta às 21h, somente até 27/04.



05/04/2017


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