Até
o momento eu havia assistido a duas encenações deste texto de José Vicente
(1945-2007). A primeira de 1969, dirigida por Fauzi Arap, com Paulo César Peréio
(Vitor, o bancário) e Francisco Cuoco (Hugo, o varredor) reforçava a questão
social e tratava de modo velado o tema homossexual (no mesmo ano houve montagem
carioca também dirigida por Fauzi Arap com Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque nos
papeis de Vitor e Hugo, respectivamente). Em 2004 o Teatro Oficina revisita o
texto sob a direção de Marcelo Drummond e interpretado por Haroldo Costa Ferrari
(Vitor) e Fran Sérgio Araújo (Hugo) agora livre do peso da censura dos anos
1970.
Rodrigo Caetano/Fabio Santarelli
Tenho
excelentes lembranças dessas duas montagens, mas a atual dirigida por Gustavo
Trestini me causou surpresa e forte impacto. Os jovens atores Rodrigo Caetano e
Fabio Santarelli reforçam o nervosismo da encenação de Trestini atuando com
garra pouco usual em nossa cena. Rodrigo compõe Vitor de maneira histérica e
levemente efeminada e tem ótimos momentos quando a situação exige reações mais
exteriorizadas ; nos textos longos revela-se discursivo e monocórdio, sem,
porém, prejudicar seu ótimo desempenho. A personagem de Hugo tende a ser mais
passiva face às investidas do neurótico bancário e Santarelli sabe tirar
partido disso atuando de maneira contida, com olhares incrédulos e explodindo
nos momentos certos.
O
que mais impressiona é a atualidade de texto que tem quase meio século de vida.
Vitor é um pequeno burguês que não passa de pobre coitado oprimido pelo chefe
do banco, enrustido quanto à sua sexualidade e descrente da vida, mesmo assim
ele se posiciona em atitude superior ao varredor que é pobre material e
espiritualmente. Tristes seres que esbarramos a cada instante nas ruas da
cidade ou em nosso próprio espelho.
Esta
montagem de O Assalto demonstra o
quanto é urgente e necessário fazer revisão da obra de Zé Vicente (falecido há
exatos dez anos) que contém preciosidades como Os Convalescentes, Hoje É Dia de Rock e Santidade, para citar
apenas as primeiras e mais conhecidas de suas peças.
O
ASSALTO está em cartaz no Espaço Cia. da Revista de terça a quinta às 21h,
somente até 27/04.
05/04/2017
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