Mais uma vez o Grupo
TAPA dá o chute inicial na temporada teatral paulistana. Em 2019 foi O
Jardim das Cerejeiras; em 2020, Brincando Com Fogo e neste início de
2021, Vidas à Margem, agora no formato virtual.
Vidas à Margem é um espetáculo com dramaturgia do grupo a partir de duas peças curtas de dois dramaturgos norte-americanos: Eugene O’Neill (1888-1953) e Tennessee Williams (1911-1983).
Segundo o
release, o nome dado ao espetáculo é uma “brincadeira paródica” com À
Margem da Vida, “tradução absurda” feita no Brasil por Esther Mesquita em
1948 para The Glass Menagerie :O Zoológico de Vidro, na
tradução literal usada tanto por Marcos Daud como por Clara Carvalho que, em
momentos distintos, traduziram o texto.
Para o bem e para o mal, liberdade para traduzir títulos é prática comum, haja vista o caso do cinema (em exemplo do próprio Williams, seu bonde se tornou rua e o desejo virou pecado!). Neste caso, no meu modo de ver, o título dado por Esther Mesquita não é nada absurdo e isso até se reforça com o título do presente espetáculo: afinal de contas tanto os Wingfield como os dois casais de Vidas à Margem são pobres figuras disfuncionais, marginalizadas da sociedade e com vidas pouco felizes e sem perspectivas. Além disso, À Margem da Vida é bem mais poético e bonito do que O Zoológico de Vidro, além de ter apelo mais cativante para o público.
Mas
voltemos a Vidas à Margem! São duas cenas independentes unidas pelo
mesmo universo de perdedores do qual fazem parte as personagens.
A
primeira é inspirada em Antes do Café de Eugene O’Neill (informação que
me foi dada gentilmente por André Garolli, amigo e expert em O”Neill). Um
escritor/narrador (Flávio Tolezani) escreve e conta a história de uma mulher
maltratada pela vida que trabalha muito para sustentar a si e ao marido Alfred,
um bêbado eternamente desempregado e que além de tudo lhe é infiel. Natalia
Gonsales tem seu grande momento nesta cena. O plano principal adotado pelo
diretor Eduardo Tolentino de Araújo coloca a
mulher de frente para a câmera com o escritor em segundo plano falando as
rubricas ao mesmo tempo que reage às atitudes dela com expressões faciais. Belo
e significativo momento do teatro virtual utilizando técnicas cinematográficas.
A
segunda cena é inspirada na conhecida peça curta de Tennessee Williams Fala
Comigo Como a Chuva e Me Deixa Ouvir e coloca em ação um casal também
maltratado por uma vida da qual a mulher vislumbra uma eventual saída que, no
entanto, nunca ocorrerá. Interpretação intensa e vigorosa do casal Natalia
Gonsales/Flávio Tolezani que revela maturidade interpretativa muito bem-vinda.
A
direção de Eduardo Tolentino segue o padrão de excelência TAPA.
Louve-se o considerável progresso técnico desses trabalhos virtuais realizados pelo Grupo Tapa. A maioria dos espetáculos de 2020, apesar da inegável qualidade artística, apresentava sérios problemas de som e imagem, algo que, a julgar por Vidas à Margem, está sanado.
18/01/2021
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