Atividades diversas
(avaliações PROAC, Festival de Teatro de Cubatão, Premiação APCA) e uma pequena
cirurgia me afastaram por uns 20 dias dos palcos paulistanos criando algumas
lacunas no meu currículo de espectador apaixonado em função de temporadas
relâmpagos ocorridas nesse período.
Por pouco não perco
este que, com certeza, é um dos melhores espetáculos do ano, e que teve
temporada de apenas três semanas no Espaço Cênico do SESC Pompeia.
Fui um dos privilegiados entre os pouco mais de 500 espectadores que
conseguiram os disputadíssimos 48 lugares do local. Assisti em sua penúltima
apresentação.
Escombros se passa nos cômodos
pobres, sujos e provavelmente mal cheirosos (excelente arquitetura cênica de
Eric Lenate) onde convivem muito mal dois irmãos perturbados emocionalmente,
frutos de família disfuncional e vítimas de assédio e violência moral e física.
Para justificar os seus traumas inventam ou imaginam histórias sobre a morte do
pai e da mãe. São eles Michael e Michelle, interpretados visceralmente por Iuri
Saraiva e Isabella Lemos sob a direção precisa de Clara Carvalho.
O texto do dramaturgo
britânico Dennis Kelly (1970-) é uma faca enfiada nas emoções do espectador. Os
solos narrados pelas duas personagens são violentos, escatológicos e
paradoxalmente muito poéticos e às vezes até engraçados, assim como as cenas em
que interagem sempre de forma agressiva e violenta.
Trata-se daquelas
encenações onde tudo funciona. O cenário já citado de Lenate é iluminado por
Nicolas Curatori; André Grynwask e Pri Argoud são responsáveis pela direção de
vídeo com as imagens projetadas na televisão presente no ambiente e a poderosa
trilha sonora é composta por Ricardo Severo. Destaque especial para os
figurinos de Marichilene Artisevkis e a maquiagem também assinada por ela, que
consegue o milagre de deixar a bela Isabella Lemos muito feia e até meio
asquerosa.
As interpretações de
Isabella e Iuri atingem pico de excelência e o solo inicial de Iuri narrando o
suicídio do pai por crucificação já pode ser considerado como um dos momentos
antológicos do nosso teatro.
Clara Carvalho mais
uma vez demonstra seu completo domínio do fazer teatral dirigindo o espetáculo
com mão ao mesmo tempo firme e delicada, aliás sua marca registrada tanto como
diretora ou atriz.
Urge que espetáculo
do calibre de Escombros tenha novas temporadas!!
21/07/2023
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