Existem peças cujo
protagonismo é dividido entre todo o elenco, fato que cria responsabilidade
enorme para todos os/as intérpretes.
Agnes de Deus do dramaturgo norte-americano
John Pielmeier (1949) insere-se nesse tipo de peça e não é à toa que suas três
personagens já foram vividas por grandes atrizes:
A Dra. Martha teve
Elisabeth Ashley na Broadway, Jane Fonda no cinema, Walderez de Barros em São
Paulo e Yara Amaral no Rio de Janeiro.
A Madre Miriam teve
Geraldine Page na Broadway, Anne Bancroft no cinema, Cleyde Yáconis em São
Paulo e Nicette Bruno no Rio de Janeiro.
Agnes teve Amanda
Plummer na Broadway, Meg Tilly no cinema, Clarisse Abujamra em São Paulo e
Lucélia Santos no Rio de Janeiro.
Incluindo-se nesse
grupo de ouro, a atual montagem da peça dirigida por Murillo Basso/Yara de
Novaes, tem as excelentes Clara Carvalho (Dra. Martha), Mariana Muniz (Madre
Miriam) e Gabriela Westphal (Agnes) no elenco.
A direção da peça
optou por encenação sóbria, embelezada pela magnífica moldura que é a
iluminação de Aline Santini, para contar essa história sobre a doutora que
procura descobrir as causas do assassinato de um bebê cometido pela freira
chamada Agnes, que pertence a uma irmandade cuja madre superiora afirma que o
bebê foi gerado por milagre, tal qual, segundo ela, aconteceu com a Virgem Maria.
O embate entre a
lógica defendida pela doutora e a fé por parte da Madre é a base da peça e Clara
e Mariana o realizam com seus habituais talentos. As intervenções de Agnes
mostrando seus traumas são brilhantemente defendidas por Gabriela Westphal,
jovem atriz, equiparada em talento às suas veteranas companheiras de cena.
Destaque para a expressão corporal de Mariana Muniz/Madre nas cenas mudas em
que ilustra suas dúvidas sobre o que está acontecendo, enquanto Martha e Agnes
dialogam.
A tradução do texto
não é creditada na ficha técnica constante do programa.
A sobriedade do
espetáculo sugerida por corpos na penumbra, focos de luz e cortinas envolvendo certas
cenas é complementada pelos discretos figurinos assinados por Marichilene
Artisevskis e pela cenografia minimalista de Mira Andrade.
Agnes de Deus é excelente teatro
de texto interpretado por grandes atrizes, que merece uma visita ao Teatro
Aliança Francesa que infelizmente, está em seus últimos dias de glória.
Essa montagem tem a triste função de ocupar pela última vez um palco que desde
1964 vem abrigando grandes atrizes, atores e diretores em espetáculos que
marcaram a história do teatro brasileiro.
AGNES DE DEUS está em cartaz no Teatro Aliança Francesa até 03 de dezembro, com sessões às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h.
22/10/2023
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