domingo, 22 de outubro de 2023

AGNES DE DEUS

 

Foto de Ronaldo Gutierrez

Existem peças cujo protagonismo é dividido entre todo o elenco, fato que cria responsabilidade enorme para todos os/as intérpretes.

Agnes de Deus do dramaturgo norte-americano John Pielmeier (1949) insere-se nesse tipo de peça e não é à toa que suas três personagens já foram vividas por grandes atrizes:

A Dra. Martha teve Elisabeth Ashley na Broadway, Jane Fonda no cinema, Walderez de Barros em São Paulo e Yara Amaral no Rio de Janeiro.

A Madre Miriam teve Geraldine Page na Broadway, Anne Bancroft no cinema, Cleyde Yáconis em São Paulo e Nicette Bruno no Rio de Janeiro.

Agnes teve Amanda Plummer na Broadway, Meg Tilly no cinema, Clarisse Abujamra em São Paulo e Lucélia Santos no Rio de Janeiro.

Incluindo-se nesse grupo de ouro, a atual montagem da peça dirigida por Murillo Basso/Yara de Novaes, tem as excelentes Clara Carvalho (Dra. Martha), Mariana Muniz (Madre Miriam) e Gabriela Westphal (Agnes) no elenco.

A direção da peça optou por encenação sóbria, embelezada pela magnífica moldura que é a iluminação de Aline Santini, para contar essa história sobre a doutora que procura descobrir as causas do assassinato de um bebê cometido pela freira chamada Agnes, que pertence a uma irmandade cuja madre superiora afirma que o bebê foi gerado por milagre, tal qual, segundo ela,  aconteceu com a Virgem Maria.

O embate entre a lógica defendida pela doutora e a fé por parte da Madre é a base da peça e Clara e Mariana o realizam com seus habituais talentos. As intervenções de Agnes mostrando seus traumas são brilhantemente defendidas por Gabriela Westphal, jovem atriz, equiparada em talento às suas veteranas companheiras de cena. Destaque para a expressão corporal de Mariana Muniz/Madre nas cenas mudas em que ilustra suas dúvidas sobre o que está acontecendo, enquanto Martha e Agnes dialogam.

A tradução do texto não é creditada na ficha técnica constante do programa.

A sobriedade do espetáculo sugerida por corpos na penumbra, focos de luz e cortinas envolvendo certas cenas é complementada pelos discretos figurinos assinados por Marichilene Artisevskis e pela cenografia minimalista de Mira Andrade.

Agnes de Deus é excelente teatro de texto interpretado por grandes atrizes, que merece uma visita ao Teatro Aliança Francesa que infelizmente, está em seus últimos dias de glória. Essa montagem tem a triste função de ocupar pela última vez um palco que desde 1964 vem abrigando grandes atrizes, atores e diretores em espetáculos que marcaram a história do teatro brasileiro.

AGNES DE DEUS está em cartaz no Teatro Aliança Francesa até 03 de dezembro, com sessões às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h. 

22/10/2023

 

 

 

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