Bullying e ataques assassinos
em escolas são fatos intimamente relacionados; na maioria das vezes, aqueles
que atacam e matam já foram molestados naquele mesmo ambiente. Esse tipo de ataque acontecido inúmeras vezes
nos Estados Unidos, tem crescido no Brasil depois da apologia à violência,
decretada pelo governo insano do inominável.
A peça do dramaturgo
inglês Simon Stephens (1971-) mostra isso com muita clareza e com crueza. São
sete jovens que se encontram na biblioteca de uma escola e que se preparam para
prestar o vestibular. A convivência, a princípio saudável e cordial, evolui
para uma manifestação de machismo e violência onde os mais fortes, que sempre
se revelam serem os mais fracos, usam e abusam dos mais fracos e delicados. No
caso é o personagem Bennett (João Fenerich) que age com truculência com todos
os colegas e, em especial, com o aplicado e efeminado Chadwick (João
Vasconcellos) e com a garota gorda Tanya (Ivone Dias Gomes). Todos os outros
assistem a tudo passivamente, até que William (Yan Brumas), o personagem mais
complexo da peça, aja de maneira a provocar a tragédia anunciada desde o
início.
Senti falta no texto
da presença de superiores da escola, figuras normalmente coniventes, ou no
mínimo passivas, em relação à prática de bullyng. Seria uma denúncia
importante para completar o quadro apresentado.
Marina Tenório,
Ondina Clais e Ruy Cortez da Companhia da Memória procuravam
texto para ser encenado por um grupo de jovens. Pensaram, segundo Ondina me
disse, em A Aurora da Minha Vida, obra prima do saudoso Naum
Alves de Souza (1942-2016), quando tomaram contato com este texto poderoso e
muito oportuno para o momento atual.
A peça estreou em
2018 no Centro Cultural São Paulo e no final de 2023, cumpriu esta
rápida temporada na Biblioteca Mário de Andrade com algumas
modificações no elenco, na cenografia e redução no tempo de duração.
A direção precisa e
sem floreios desse talentoso trio contou com um grupo de jovens também dotado
de muito talento, além de todos eles terem ótima emissão de voz (coisa rara em
nosso teatro, nos dias de hoje!) e perfeita dicção. É estimulante comprovar que
nosso teatro tem futuro.
As interpretações do
conjunto são perfeitas e seria injusto destacar este ou aquele nome, mas serei
injusto e destaco o ator daquela personagem, como escrevi no início desta
matéria, mais complexa da trama: Yan Brumas, que vai da candura e simpatia com
a personagem Lilly (Laís Gavazzi) no início da peça, a diversos ataques de
rebeldia durante, até a explosão no final.
Punk Rock deveria ser apresentada e discutida em escolas da cidade. A apresentação, sempre seguida de debates, pode contribuir para a conscientização dos jovens, como aqueles ali retratados.
10/12/2023
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