No final da década de 1960, enquanto os famigerados ditadores do regime militar insistiam em combater a cultura censurando espetáculos, prendendo e torturando artistas e promulgando o fatídico AI-5, os palcos paulistanos reagiam bravamente apresentando espetáculos icônicos que fazem parte da história do nosso teatro: “Oh! Delícia de Guerra” (1966), “Marat-Sade” (1967), ambas dirigidas por Ademar Guerra; “Roda Viva” (1968), “Galileu Galilei” (1968), “Na Selva das Cidades” (1969), dirigidas por Zé Celso Martinez Corrêa; “A Cozinha” (1969) dirigida por Antunes Filho; “Esperando Godot” (1969), dirigida por Flávio Rangel e triste despedida de Cacilda Becker; “Cemitério de Automóveis” (1968), “O Balcão” (1969) dirigidas por Victor Garcia. Montagens que se tornaram clássicas.
Enquanto isso, em outubro de 1967
estreava na off Broadway um musical sobre hippies de autoria de James Rado,
Gerome Ragni (texto e letras) e Galt MacDermot (música) que denunciava o
envolvimento dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, outra tragédia da
humanidade ocorrida naqueles anos. Rado e Ragni também interpretavam, respectivamente,
Claude e Berger as figuras principais da peça. Depois de uma temporada tímida
de um mês e meio, a peça migrou para a Broadway em abril de 1968 onde triunfou
em 1750 apresentações.
O que mais se ouvia por aqui era que a
peça tinha um nu frontal coletivo e algumas canções da peça como “Aquarius” e “Let
the sunshine in” com “The Temptations” já tocavam em nossos rádios e nas casas
noturnas.
Altair Lima, um ator de médio sucesso viu
ali uma oportunidade de alcançar seu lugar ao sol e comprou os direitos para a
apresentação da peça em São Paulo.
Contratou Ademar Guerra para dirigir o
grande elenco necessário e muniu-se de profissionais de comprovado talento para
a produção: Renata Palotini na versão para o português, Marika Gidali na
coreografia e Claudio Petraglia na direção musical.
A escolha do elenco deve ter sido
feita em conjunto (Guerra e Altair). Nomes famosos e estreantes juntaram-se
para contar a história dos cabeludos: Armando Bógus (Claude), Altair Lima
(Berger), Aracy Balabanian (Sheila) e Helena Ignês (Jeannie) formavam o
quarteto principal, muito bem acompanhados por Ricardo Petraglia, Sonia Braga,
Laerte Morrone, Antonio Pitanga, Bibi Vogel, Neusa Borges, Celia Olga e mais 17 intérpretes totalizando 28 figuras em cena. O curioso é que a maioria
interpretava muito bem, mas era bem fraca ao cantar e quase nula ao dançar
mesmo assim a peça fez um sucesso arrebatador no Teatro Bela Vista onde estreou
em outubro de 1969 e o sucesso foi tão grande que permitiu que Altair Lima
comprasse e reformasse um velho cinema (Cine Rex) na esquina da Rua Ruy Barbosa
com a Rua Conselheiro Carrão rebatizando-o de Teatro Aquarius onde “Hair”
continuou com sua carreira vitoriosa até 1972 com várias modificações no
elenco: Luiz Fernando Guimarães, Ney Latorraca, Ariclê Perez, Antonio Fagundes
e Francarlos Reis, entre outros, entraram nesta segunda fase.
A montagem de Ademar Guerra era uma
festa bastante solar, com excelente rendimento do elenco (mesmo não cantando
tão bem).
Enquanto isso “Hair” seguia sua
carreira internacional, sendo montado em várias partes do mundo.
No Brasil também cumpriu temporada no
Rio de Janeiro onde contou com a participação do querido Gilberto Bartholo no
elenco.
Em 1979 Milos Forman filmou a peça com muita liberdade chegando a trocar os destinos de Berger e de Claude no final. A coreografia de Twila Tharp, apesar de bonita, não combinava com o espírito da obra. Treat Williams e John Savage brilhavam como Berger e Claude.
Entusiasmado com o sucesso de “Hair”, Altair Lima comprou os direitos da ópera rock “Jesus Cristo Superstar” de Tim Rice (letras) e Andrew Lloyd Weber (música) que estreou no final de 1972 no Teatro Aquarius com direção do próprio Altair. O espetáculo não fez o sucesso esperado e depois dele Altair afasta-se da direção do teatro que passa por várias reformulações até chegar ao triste estado de prédio abandonado nos dias de hoje.
Nos palcos paulistanos “Hair” surgiu
em nova montagem em 1994, dirigida por Jorge Fernando com Roberto Bataglin como
Berger e Luciano Viana como Claude. As apresentações foram no extinto Music
Halla na Alameda Eduardo Prado nos Campos Elíseos.
Em 2012 surge a versão idealizada por
Charles Möeller e Claudio Botelho que foi apresentada no Teatro do Shopping
Frei Caneca com Hugo Bonemer (Claude) e Fernanda da Rocha (Berger).
Todas muito bonitas e solares.
Curiosamente a nova montagem de
Móeller apresentada em 2025 no BTG Pactuaal Hall é soturna, escura e sem
energia perdendo todo o viço e a claridade tão importantes nessa obra.
Novos “Hairs” virão, trazendo novamente
toda a energia que transpirava na montagem original de 1969, que até hoje não
foi superada,
DEIXA O SOL ENTRAR!
28/12/2025



Nenhum comentário:
Postar um comentário