Desde que a querida Sandra Corveloni
me contou sobre a peça que ela estava ensaiando de autoria e com direção de
Newton Moreno fiquei curioso de como seria transportar a obra de Shakespeare
para a devastação da Amazonia, mas sabendo da universalidade da obra do bardo e
do talento de Moreno, antevi que algo muito especial estava a caminho.
Foi muito pesaroso saber que a
temporada da peça aconteceria exatamente durante o período que eu estaria fora
do país. Não foi possível assistir a um ensaio e o autor gentilmente me enviou
o texto para que eu tomasse conhecimento de seu conteúdo.
Se por um lado ainda não pude assistir
à peça, por outro tive o privilégio de ler o texto com os trechos cortados pelo
autor e as inúmeras observações anotadas, talvez para os esclarecimentos do
elenco e/ou para sugestões de encenação.
Essa transposição de Rei Lear para a
realidade amazônica rebatizada de “Tragédia grotesco ambiental sobre o fim e o
recomeço do mundo na Amazônia” fez bem à obra.
A peça é dividida em dois movimentos.
O primeiro acontece na(s) casa (s) grande (s)
narrando de maneira realista a intenção de Seu Lear dividir seu patrimônio e a
maneira como ele o faz em função das palavras de suas três filhas Goneril,
Regininha (Regan, no original) e Cordélia.
O segundo se passa na floresta, na (s)
tribo (s) e aí Moreno dá vazão à sua veia poética e a seu delírio criativo
dando voz aos indígenas, ao rio e a toda a natureza. Neste ato a peça adquire
seu maior esplendor oferecendo um prato cheio para a imaginação e a reflexão do
espectador sobre os males impingidos à floresta amazônica pelo poder do
dinheiro. O cenário e as explosões da natureza neste movimento necessitariam de
recursos cinematográficos para seu pleno resultado. Fica a curiosidade de como
o encenador resolveu essa questão.
Posso imaginar Sandra Corveloni
transpirando a perversidade de Goneril, Michele Boesche como a tresloucada
Regininha e Simone Evaristo interpretando tanto Cordélia como o difícil papel
de Tonta (o Bobo da corte, no original shakespeariano). Leopoldo Pacheco (Lear)
é o destaque nos papeis masculinos que contam ainda com Jorge de Paula
(Albano), Zé Roberto Jardim (Conrado) e Ronny Abreu (Indígena).
Essas são as minhas sensações ao ler
esse texto de Newton Moreno que só se realiza plenamente quando traduzido
cenicamente.
A peça está em cartaz no Itaú Cultural de
quinta a sábado às 20h e domingo às 19h até 17/08.
Torço para que estenda a temporada depois da minha volta no dia 28 e agosto.
14/08/2025