SETE GATINHOS PARA DOIS NELSONS
Um grande mérito da encenação de Baskerville para o texto de Rodrigues é o barroco cenário criado pelo diretor, claramente inspirado no universo de Arthur Bispo do Rosário e que se adaptou muito bem ao espaço do teatro do Sesc Santo Amaro, estendo-se para as duas laterais ( na da direita fica o banheiro onde a Gorda escreve seus palavrões). Foi impossível deixar de comparar o espetáculo com a insuperável montagem de Antunes Filho em Paraíso Zona Norte. Eu ouvia os atores e lembrava-me das mesmas palavras nas vozes de Luís Mello, Hélio Cícero e Flávia Pucci, mas isso é um caso particular de alguém que tem a encenação de Antunes como o espetáculo mais significativo de sua longa vida de espectador. De qualquer maneira o espetáculo é muito exagerado e as solicitações ao espectador são tantas que ele não sabe por qual optar. Por que tanta movimentação no palco durante o primeiro e importante diálogo entre Aurora e Bibelô? Por que cenas tão longas de sexo e nudez? Greta Antoine tem uma boa atuação como Silene, mas são incompreensíveis as mudanças de voz impostas pela direção para evidenciar as alterações do seu comportamento. Destaque para Gabriela Fontana como Aurora e para Élcio Nogueira, excelente como uma Gorda recatada e não caricatural. Digna de nota a bela iluminação de Wagner Freire. Em alguns momentos a encenação remete a alguns elementos usados por Baskerville no belíssimo Luís Antonio-Gabriela. O maior senão é que o excesso de maneirismos desta montagem do encenador Nelson por vezes dificulta a adesão ao universo da “divina comédia” do seu xará dramaturgo.
Os Sete Gatinhos, texto de Nelson Rodrigues, dirigido por Nelson Baskerville fica em cartaz apenas até o dia 19 de maio no Sesc Santo Amaro. Na foto de Bob Souza reproduzida abaixo, Renato Borghi (Sr. Noronha) e Élcio Nogueira (Gorda), rodeados por duas das cinco filhas, com penteados copiados daqueles de Amy Winehouse.
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