TUDO NO ESCURO
Quando da apresentação de Os amantes de Viorne em 1972, Sábato Magaldi intitulou sua crítica ao espetáculo, publicada no Jornal da Tarde “Na cena, um crime. Na plateia, tédio”. Roberto Alvim inspirou-se nessa peça de Marguerite Duras para escrever Amante, sua atual montagem em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Assisti à peça no último domingo e o que percebi na reação da maioria das pessoas presentes não foi tédio, mas indiferença, irritação e perplexidade diante de um trabalho despido de ação, emoção e luz.
As encenações de Roberto Alvim vêm se caracterizando por essa obscuridade no palco, o que está presente no próprio nome do grupo que ele lidera (Club Noir), porém o que pode ser conveniente para uma encenação pode não ser para outra e todos os últimos trabalhos do encenador caracterizam-se, a meu ver, num modo de “não ver”, o que acaba se tornando cansativo e previsível.
Um bom ator como Caco Ciocler parece ter encontrado o seu caminho junto ao diretor (é o terceiro trabalho que fazem juntos) e é notável o trabalho milimétrico, não só dele, mas também de Juliana Galdino e de Bruno Ribeiro, com marcações rígidas num espaço sempre na penumbra ou quase na escuridão. O início da cena é sempre belo com uma tênue iluminação sobre o perfil dos atores e teria excelente efeito se fosse uma fotografia, porém aquele quadro permanece defronte ao espectador por mais de 15 minutos e esse tempo soa como uma eternidade, enervando boa parte do público presente.
Talvez esteja fora das minhas compreensão e sensibilidade, mas um espetáculo desse tipo não me diz ao que veio.
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