Capa do programa e meus quatro ingressos
Em 2012 fiz parte da Comissão de Prêmio da Cooperativa
Paulista de Teatro. No final de dezembro nos reunimos e fizemos as indicações
para o segundo semestre e até então ninguém da comissão havia assistido ao
espetáculo Cais. A peça estreou com
pouca divulgação no Instituto Capobianco no final de outubro e ficou em cartaz
até dezembro. No dia 23 de janeiro de 2013 assisti ao espetáculo e fiquei
absolutamente fascinado com o texto e a encenação (direção, interpretação,
cenário, figurino e trilha sonora). Lamentei profundamente a não inclusão do
espetáculo nas indicações do Prêmio; comentei o fato com os colegas da
comissão, mas nada podia ser feito, pois as nossas indicações já haviam sido
publicadas.
A partir daí revisitei Cais mais três vezes levando filha, genro, irmã e muitos amigos.
Todos, sem exceção, adoraram a peça. Fato incrível é que não deixei de me
emocionar em nenhuma das quatro vezes em que assisti ao espetáculo com a
suavidade da Magnólia de Virginia Buckowski (na última vez, substituída por
Tatiana De Marca), com a garra de Maurício de Barros (merecidamente indicado
para o Prêmio Shell) no papel de Bonifácio, única personagem que está presente
nas três gerações mostradas na peça; com a energia de Alejandra Sampaio como
Berenice (a personagem mais complexa da trama); com a versatilidade de Marcelo
Diaz e Maristela Chelala que brilham em diversos pequenos papéis; com o charme
e o talento de Marcelo Laham como Walcimar, com Kiko Marques que, além de autor
e diretor, tem um ótimo desempenho como Waldeci e com a graça de Rose de
Oliveira, que faz uma poita que dá vontade de levar para casa. Deixei por
último a emoção maior: Walter Portella como o barco Sargento Evilázio; como não
se emocionar com a sua troca de paletós (o velho surrado e o novo, simbolizando o estado da
embarcação), com as canções que ele entoa (É doce morrer no mar...) e com a
narração da história. Ao escalar Portella para a peça Kiko Marques presta uma
grande homenagem não só ao veterano
ator, mas também ao teatro brasileiro.
Walter Portella - Foto de Lenise Pinheiro
Beirando a excelência, o espetáculo ainda conta com o
belo e eficaz cenário de Chris Aizner e
a trilha sonora de Umanto, econômica e extremamente eficaz, comentando a ação,
mas nunca a suplantando (qualidade fundamental de uma trilha sonora).
Umanto e Milena Gasparetti - Foto de Lenise Pinheiro
Maurício de Barros - Indicado ao Prêmio Shell de melhor ator. Foto de Lenise Pinheiro
Na fria e chuvosa noite da última terça feira, dia 23 de
julho, Cais fez a última apresentação
da atual temporada no Instituto Capobianco. Às emoções da cena, somaram-se
aquelas ocorridas após o espetáculo: a estreia da pequena Anita (filhinha de
Virginia e Kiko) nos palcos paulistanos, a homenagem que Kiko Marques prestou a
Walter Portella, o congraçamento do simpático elenco com o público e a alegria
de todos com as seis indicações que a montagem recebeu para o Prêmio Shell
(autoria, direção, ator, cenário, figurino e trilha sonora). No meu modo de ver
um prêmio coletivo para o elenco também seria muito merecido.
Parte do cenário de Chris Aizner - Foto de Lenise Pinheiro
Do meu currículo de espectador fazem parte mais de 3500
espetáculos (assisto teatro desde 1963) e considero Cais ou Da indiferença das Embarcações uma das coisas mais belas e
mais importantes a que já assisti. Posso afirmar que nos últimos cinco anos
apenas os dois trabalhos de Théâtre du
Soleil trazidos a São Paulo e a peça Incêndios
(cuja cenografia é bastante
semelhante à de Cais)encenada pelo
grupo mexicano Compañia Tapioca Inn
no Mirada de 2012 me causaram tamanho impacto e a grande alegria de voltar a
acreditar cada vez mais na força do teatro.
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