segunda-feira, 21 de novembro de 2016

DZI CROQUETTES


        Em 1973 o público paulista levou um susto com o espetáculo que estreou no extinto Teatro Treze de Maio. Os parcos meios de comunicação da época davam uma pálida ideia do que já tinha acontecido no Rio de Janeiro. Dzi Croquettes chegou para revolucionar, alterar conceitos e comportamentos. O irreverente espetáculo vinha revestido do talento de seus componentes: Lennie Dale (com suas fantásticas coreografias e presença hipnótica em cena), Wagner Ribeiro (o criador do grupo), Cláudio Gaya, Ciro Barcelos, Cláudio Tovar e Paulette, entre outros (eram treze no total). Eles foram uma imensa luz no escuro túnel em que se vivia naqueles anos de chumbo da ditadura militar. Quem viveu aquela época e viu o espetáculo pode avaliar a importância do mesmo e o impacto que provocou. Quem viu, viu e o resto é história, pouco documentada por sinal. A exceção é o delicado e imperdível filme de Tatiana Issa e Raphael Alvarez realizado em 2009.
        Mais de 40 anos depois ressurge o grupo, agora liderado por Ciro Barcelos, um senhor de 63 anos que mantém invejável energia e presença cênica.


        Aqueles que não pretendem reviver os Dzi originais vão adorar e se divertir muito com o novo espetáculo. O talento tanto para o artístico (dança, canto e interpretação) como para o deboche, a improvisação e a irreverência, assim como o espírito de grupo e mesmo a época em que surgiram tornam os Dzi Croquettes originais incomparáveis e, mais que isso, irreprodutíveis. Os tempos mudaram, nossa sociedade é outra (apesar de - por incrível que pareça - estar mais conservadora e preconceituosa do que em 1973) e os novos componentes são muito jovens e não têm a vivência dos seus antecessores, mas demonstram bastante talento, necessitando apenas que se tornem mais irreverentes e improvisadores nos números de plateia.
        A concepção de Ciro Barcelos na forma de esquetes de revista é bastante semelhante àquela original e os melhores momentos ficam por conta das intervenções de Ciro. Carmen Miranda, a dança flamenga, a coreografia à la Lennie Dale enquanto este canta O Pato, Maria Bethânia canta Carcará intermediando declarações sobre a censura na época da ditadura e aquela que para mim é a cena mais comovente da montagem: recriação da cena das borboletas quando o grupo vem paramentado com túnicas com fotos dos antigos componentes e Ciro faz pequeno comentário sobre cada um deles. A recriação de alguns números é bastante fiel e bonita, como o par dançando ao som de Dois Pra Lá, Dois Pra Cá (desta vez cantada ao vivo, ao invés da gravação de Elis), a dança de candomblé e o já citado número das borboletas ao som da introdução de Assim Falou Zaratustra de Richard Strauss.


        A ficha técnica não especifica quem faz o que na peça. Os destaques vão para os números de dança do ator/dançarino que faz um hilário cisne e para o humor aguçado do jovem que entre outras coisas canta Dois Pra Lá, Dois Pra Cá. O conjunto é muito bom e os números em grupo são empolgantes.
        Dzi Croquettes é uma divertida revista musical interpretada, cantada e dançada por nove pessoas (“Não somos homens, nem mulheres. Somos pessoas” dizem os Dzi). Festa para os olhos e para a alma. E viva a diversidade!
        DZI CROQUETTES está em cartaz no Teatro Augusta apenas às quartas e quintas feiras às 21h até 15 de dezembro.


20/11/2016

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