sábado, 19 de novembro de 2016

SONHOS NÃO ENVELHECEM


Doce pássaro da juventude

        Shakespeare (1564-1616) tinha pouco mais de 30 anos quando escreveu a fantástica e poética Sonhos de Uma Noite de Verão. Os jovens que ora encenam a bela adaptação de Fernanda Maia para a comédia do bardo devem estar  em faixa de idade pouco inferior. É uma peça que respira juventude e que alimenta também os mais velhos, pois como diz o título da adaptação, os sonhos não envelhecem.
        Fernanda Maia é maga! Já disse e repito: ela é uma espécie de Rei Midas que transforma em ouro tudo o que toca. Já deu provas disso em todas trilhas e direções musicais que fez para o Teatro do Bardo e para o Núcleo Experimental onde realiza respeitável trabalho em dupla com Zé Henrique de Paula. Mais uma vez Fernanda acerta em cheio. Sua adaptação da peça de Shakespeare é leve e concisa, respeitando, porém, a essencia da mesma tanto nas cenas fantásticas com os elfos, como nas cômicas com o bando de atores mambembes que respondem por engraçados nomes como Fominha, Marmelada, Chica Frauta, Fofolete, Bocão e Nico Bunda.
        A ideia de unir a peça de Shakespeare com as músicas do Clube da Esquina não podia ter sido mais luminosa. Aqueles fatos que quando vêm à luz devem ser acompanhados de sonoro “Eureka!!!”. As canções e suas respectivas letras encaixam-se perfeitamente à ação da peça parecendo que foram compostas para a mesma. Há algo melhor que Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso) quando se fala da diversidade sexual com a presença da mais variada formação de casais ou de trios em uma das cenas mais bonitas da montagem?...“Qualquer maneira de amor vale a pena”//  “Nada será como antes” bradam os casais quando se apaixonam ou se desapaixonam ...”Nada será como antes” respondem Milton Nascimento e Ronaldo Bastos em sua obra homônima / “Tenha fé no nosso povo que ele acorda” diz a canção Credo (Milton Nascimento e Fernando Brant) e ela não poderia ser mais oportuna no momento em que o grupo contesta o trágico impasse por que passa o nosso país. Poderia citar outros vários momentos da perfeita adequação da música ao espetáculo de Fernanda, mas me limito a apenas mais um que é o comovente final ao som daquela que no meu ponto de vista é uma das mais belas canções compostas pelos mineiros do Clube da Esquina: O Sal da Terra  de Beto Guedes. Difícil conter as lágrimas com final tão impactante. Uma vez que se fala das músicas nada melhor do que louvar aqueles que as executam ao vivo: Felipe Parisi (violoncelo), Luiz Aranha (violão) e Betinho Sodré (percussão).
        Cenário e figurinos de Zé Henrique de Paula iluminados por Fran Barros emolduram com muita elegância o espetáculo.


        Inês Aranha preparou o elenco do qual deixamos para escrever por último: mais uma vez neste ano volto a me emocionar com o trabalho de jovens atores que se propõem a realizar trabalho sério e consequente sem se iludir com o apelo global e o cultivo da celebridade. É notável o rendimento dessa rapaziada egressa de oficina realizada pelo Núcleo Experimental, alguns deles em sua primeira experiência teatral. Compensam bravamente a justificada inexperiência com a energia e o entusiasmo com que se entregam ao trabalho. O elenco de oito atores é homogêneo e versátil, desdobrando-se na interpretação das mais de vinte personagens exigidas pela peça. Não tenho como não destacar os trabalhos de Luiz Rodrigues como o apaixonado Lisandro e o hilário “Muro” e de Beatriz Amado (um delicioso Puck) que interpreta, canta e de lambuja toca flauta muito bem! Completam o elenco: Andressa Andreatto (Helena/Fominha), Marcos Teixeira (Demétrio/Marmelada), Miriam Madi (Hipólita/Titânia), Leandro Oliveira (Teseu/Oberon), Tito Soffredini (Egeu/Nico Bunda) e Júlia Maia (Hérmia/Fofolete).


        Realização extremamente feliz conjugando texto e música, Sonhos Não Envelhecem respira juventude e alegria de viver, alertando, porém, que vivemos em tempos sombrios e que é importante que nos munamos de energia para enfrentar o que vem por aí. ISSO NÃO É POUCO!
        SONHOS NÃO ENVELHECEM está em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental às quintas e sextas às 21h e aos sábados às 16h. R$40,00. NÃO DEIXE DE VER.



19/11/2016
       

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