sábado, 25 de março de 2017

PAGLIACCI


        No meu modo de ver o teatro é o refúgio da esperança e da utopia. Não se trata de refúgio escapista e alienante, mas de um templo onde, nestes dias tão obscuros, se pode vislumbrar uma esperança e onde também se reflete sobre formas de lutar para atingir a utopia, não aquela descrita por Thomas More, mas a “utopia possível” conclamada por Ariane Mnouchkine.
        Maior exemplo disso está em Pagliacci a que tive oportunidade de assistir a ensaio aberto e que estreia na próxima semana no teatro do Centro Cultural FIESP. Uma alegria emocionada – aquele riso acompanhado de lágrimas nos olhos – invade o coração do espectador ao acompanhar a trajetória daquela trupe circense que vai encenar um drama que tem por origem a trama da ópera de Leoncavallo.
        Numa feliz junção dos talentos de Luís Alberto de Abreu (autor), do Grupo Galpão na pessoa de Chico Pelúcio (diretor) e da Cia. LaMínima cujo maior expoente é o inigualável Fernando Sampaio, a montagem resulta, desde já, em um dos mais bem realizados espetáculos do ano. Tudo funciona para a felicidade do espectador: elenco primoroso, trilha sonora criativa, belo cenário remetendo aos telões das óperas e com significativa homenagem a palhaços importantes no telão central. O centro desse telão ostenta o rosto de Domingos Montagner, o grande ausente desta encenação.


        A peça tem tantos momentos antológicos que fica difícil enumerá-los, mas Fernando Sampaio tocando Vesti la Giubba (Ridi, Pagliaccio) no acordeão em miniatura e o grupo tocando trecho de La Traviata no casamento, usando cornetas, bumbos, serrote e garrafas são cenas que não vão se apagar tão cedo da mente e do coração dos espectadores.

Fernando Sampaio

        Tudo está em harmonia na encenação de Chico Pelúcio: a trilha sonora de Marcelo Pellegrini faz perfeita união de músicas gravadas com interpretações do grupo (incluindo até uma canção popular brasileira lindamente interpretada por Keila Bueno); o cenário já citado acima de Marcio Medina é complementado pelos figurinos de Inês Sacay e lindamente iluminado por Wagner Freire e, é claro, o elenco que atua com garra e alegria: o destaque natural é Fernando Sampaio, muito bem acompanhado por Fernando Paz (que narra com muito brilho os acontecimentos), Filipe Bregantim (boa presença cênica), Alexandre Roit (na difícil tarefa de fazer a personagem que seria de Domingos Montagner), Keila Bueno (presença graciosa como a mocinha da trupe) e Carla Candiotto (sua personagem histriônica é responsável por boas risadas do público).


        A montagem comemora com muito brilho os 20 anos da LaMínima estando previstas durante a temporada na FIESP as apresentações de alguns trabalhos significativos do grupo.
        A alegria de se assistir a Pagliacci tem que ser compartilhada. A peça cumpre temporada na FIESP de 27/03 a 02/07 de quarta a domingo às 20h com ingressos gratuitos e deverá fazer muito sucesso junto ao público do local que inclui não só aquele habituado a ir ao teatro, mas também jovens que se iniciam nessa arte tão sofrida, mas que sempre renasce das cinzas. Tenho certeza que esse espetáculo vai fazer esses iniciantes exclamarem: QUERO MAIS!

25/03/2017
       

        

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